Apoiados pela Turquia, rebeldes realizam ofensiva na Síria para derrubar Assad
Depois que a cidade de Hama, no centro da Síria, caiu na quinta-feira (5), nas mãos dos homens armados do Hayat Tahrir al-Sham e dos rebeldes pró-turcos, agora é a vez de Deir Ezzor (no leste do país) ser rapidamente evacuada pelo exército sírio. As forças leais a Bashar al-Assad agora parecem estar se retirando em direção ao centro do país. Para o chefe das forças curdas na Síria, o avanço rebelde está impondo uma "nova" realidade política.
O líder dos rebeldes da Síria disse nesta sexta-feira (6) que deseja derrubar o presidente Bashar al-Assad, depois que seus combatentes saíram de sua fortaleza para tomar cidades importantes em uma ofensiva relâmpago apoiada pela Turquia.
Depois de conquistar Aleppo e Hama em menos de uma semana, os rebeldes estão às portas de Homs, a 150 km da capital Damasco, no que ja é visto como o avanço mais espetacular em 13 anos de guerra.
Se os rebeldes tomarem Homs, a terceira maior cidade do país, somente Damasco e a costa do Mediterrâneo ainda estarão nas mãos das forças de Assad, cuja família está no poder na Síria há mais de cinco décadas.
"Quando falamos de objetivos, o propósito da revolução é derrubar esse regime. Temos o direito de usar todos os meios necessários para atingir esse objetivo", disse Abu Mohammed al-Jolani, líder do grupo islâmico radical Hayat Tahrir al-Sham (HTS), à CNN. Seu grupo, que lidera a coalizão rebelde, é considerado uma organização terrorista pela ONU, pelos Estados Unidos e por alguns países europeus.
Os avanços militares também estão afetando o leste e o sul de um país devastado por uma guerra complexa que ceifou meio milhão de vidas desde 2011 e o dividiu em zonas de influência, com combatentes apoiados por várias potências estrangeiras.
Diante da ofensiva lançada, para a surpresa de todos, em 27 de novembro, na província de Idleb, reduto rebelde no noroeste da Síria, as forças de Assad se retiraram ou se envolveram em combates esporádicos.
O principal aliado do governo sírio, a Rússia, envolvida em sua guerra com a Ucrânia, pediu que seus cidadãos deixassem a Síria. Em 2015, a Rússia interveio com força para ajudar as tropas de Assad a virar a maré da guerra e retomar grande parte do país.
Pelo menos 370 mil pessoas, "em sua maioria mulheres e crianças", foram deslocadas pelos combates na Síria desde 27 de novembro e pelo rápido avanço dos grupos islâmicos na Síria, anunciou nesta sexta-feira o porta-voz do secretário-geral da ONU.
"Desde a escalada das hostilidades, pelo menos 370.000 homens, mulheres e crianças, meninos e meninas, foram deslocados, incluindo 100.000 que deixaram suas casas mais de uma vez", disse Stéphane Dujarric. O número anterior da ONU era de 280.000 pessoas deslocadas.
Recuo das tropas do governo
As tropas do governo se retiraram nesta sexta-feira (6) das áreas da província oriental de Deir Ezzor que controlavam, à medida que as forças lideradas pelos curdos avançavam em direção a elas, confirmou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).
"As forças sírias e seus aliados apoiados pelo Irã se retiraram completamente das áreas que controlam na província de Deir Ezzor, e as forças curdas estão avançando em direção a essas áreas", disse Rami Abdel Rahmane, diretor da ONG.
No início desta sexta-feira, o OSDH havia informado que as forças sírias e seus aliados apoiados pelo Irã haviam deixado "repentinamente" a cidade de Deir Ezzor e os arredores.
Pouco tempo depois, as forças curdas sírias, que já controlavam uma grande parte do nordeste da Síria, disseram que haviam se deslocado para áreas no leste.
A ofensiva rebelde na Síria contra o governo de Bashar al-Assad, descrita pelo Irã como "terrorista", representa uma "ameaça" para o Oriente Médio, disse o chefe da diplomacia do Irã em Bagdá na sexta-feira.
"Ameaça teorrorista"
"A ameaça terrorista não se limitará à Síria e é uma ameaça a todos os países vizinhos e a toda a região", disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, cujo país é um apoiador incondicional do governo sírio, acrescentando que 'o terrorismo não conhece fronteiras'.
Araghchi reiteou nesta sexta-feira que seu país continuará a apoiar o governo sírio "com todas as suas forças" diante de uma ofensiva rebelde relâmpago.
Pertencente à minoria alauíta, um ramo do xiismo, o clã Assad tem mantido a Síria com mão de ferro por mais de 50 anos. Bashar sucedeu seu pai Hafez em 2000. Em 2011, ele enfrentou uma revolta popular que se transformou em uma guerra civil, durante a qual reprimiu duramente o movimento de protesto.
O papel de Moscou no conflito
A Rússia não pode permitir que Bashar al-Assad perca o poder na Síria, muito menos abrir mão de suas duas bases militares no país, mas seus recursos são restritos, de acordo com analistas, e suas opções são limitadas para ajudar um aliado que agora é frágil.
Assim como Damasco, Teerã e Ancara, Moscou foi pego de surpresa pela ofensiva rebelde, que está progredindo de forma constante e agora ameaça Homs (no centro), uma cidade estratégica para o avanço em direção a Damasco.
E o papel dos russos, essencial para Assad nos primeiros anos da guerra civil, foi ainda mais enfraquecido pelo fato de o Irã, o apoio terrestre do líder sírio, também estar em apuros.
O avanço dos rebeldes "não reflete a deterioração da atenção russa, mas a das forças multinacionais em terra que apoiam o regime", diz Nicole Grajewski, do think tank Carnegie.
Moscou tem enfrentado dificuldades na Síria desde que começou a dobrar seus esforços na Ucrânia. No entanto, o presidente Vladimir Putin não tem soldados nem armas para entregar a Assad, a menos que ele diminua o ritmo diante de Kiev. "As rachaduras na estratégia de Moscou se tornaram evidentes", diz Nicole Grajewski.
Com isso, ficam apenas os mercenários. O Africa Corps, que reúne empresas militares privadas russas no continente africano desde o desmantelamento do grupo Wagner, poderia ser mobilizado.
Alguns analistas afirmam que Moscou está pressionando por uma cúpula entre a Síria e a Turquia. "A Rússia não está preparada para perder. Assad pode perder, mas não a Rússia. Para os russos, pode ser mais fácil concluir algum tipo de acordo com a Turquia", disse o analista político russo Konstantin Kalachev.
Enquanto isso, os cidadãos russos foram convidados a deixar o país na sexta-feira. E alguns "Z-bloggers", a favor da guerra na Ucrânia, expressaram seu pessimismo.
O 'Fighterbomber' (500.000 assinantes) achava que a prioridade era proteger (...) Tartous de ataques de drones e impedir a captura da cidade costeira de Latakia, no norte".
E isso "mesmo que tenhamos que abandonar temporariamente o resto do território". Para ele, "é inegável que a iniciativa não está do nosso lado".
(Com AFP)
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