Para imprensa francesa, Macron se recusa a assumir sua responsabilidade pelo caos político no país

Os principais jornais franceses desta sexta-feira (6) estampam suas capas com imagens do pronunciamento do presidente Emmanuel Macron, na véspera. O líder centrista realizou um discurso em cadeia nacional de rádio e TV para tentar apaziguar a crise política no país, que resultou na queda do primeiro-ministro Michel Barnier há dois dias, mas a fala do chefe de Estado parece não ter convencido a imprensa.

"Flagrante negação" é a manchete do jornal Libération, que afirma que Macron atribui a responsabilidade do caos político aos parlamentares que votaram a moção de censura contra o premiê francês. Para o diário, o curto pronunciamento do presidente francês, de cerca de 11 minutos, teve o objetivo de "acertar as contas", deixando claro que, apesar dos pedidos de diversas lideranças políticas, ele não renunciará e revelará o nome de um próximo primeiro-ministro em breve.

"Como encarnar a estabilidade quando ele mesmo criou essa bagunça?", pergunta o diário de esquerda, recapitulando a origem da crise política na França. Foi o próprio presidente que resolveu dissolver a Assembleia de Deputados em junho e convocar novas eleições legislativas, cujo resultado - a vitória da aliança de esquerda Nova Frente Popular - foi rejeitado por Macron. A escolha de Michel Barnier, peso-pesado da direito, para o cargo de primeiro-ministro, ocorreu após dois meses de impasse, mas a tentativa de impor seu projeto de lei para o orçamento de 2025 da Seguridade Social, sem o voto dos deputados, foi a gota d'água para a oposição.

Sem premiê e sem orçamento

"Na tempestade, Macron busca uma saída" é a manchete do jornal conservador Le Figaro, para quem o presidente se recusa a assumir a responsabilidade pela crise política. O diário destaca as declarações do chefe de Estado que atribuem à queda do primeiro-ministro a partidos que Macron classifica de "extremistas" e "antirrepublicanos".

A maior quantidade de votos à moção de censura a Barnier foi registrada no partido de extrema direita Reunião Nacional, seguido pela legenda da esquerda radical França Insubmissa. No entanto, socialistas, ecologistas, comunistas e outra formação da direita ultraconservadora, a UDR, também escolheram derrubar o premiê. 

Resultado: "a França está sem orçamento para 2025 e sem primeiro-ministro", diz o Le Figaro em seu editorial. "O presidente da República está mais isolado do que nunca. Sua impopularidade bate recorde, sua palavra não vale mais e as críticas se multiplicam", reitera o texto.

Caos político

O jornal Le Parisien estampa sua capa com uma foto da fachada da Assembleia de Deputados da França e a manchete: "Crise política preocupante". O diário divide em tópicos os principais pontos do caos no governo: revolta dos agricultores, o país sem primeiro-ministro e partidos políticos "chutando o balde".

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Para Le Parisien, 24 horas após Barnier ter sido derrubado, Macron fez um discurso sem nenhum anúncio, demonstrando que não encontrou nenhuma saída até o momento. Ao mesmo tempo que se recusa a "reconhecer o fiasco" de sua decisão de dissolver a Assembleia, pesquisas de opinião mostram que a metade da população também quer sua renúncia. No entanto, o presidente promete cumprir seu mandato até o final, "como vocês me confiaram", afirmou o chefe de Estado em seu pronunciamento.  

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