Tom Jobim: 30 anos após sua morte, jornalista francesa relembra entrevista icônica com o músico

Neste domingo, 8 de dezembro, completam-se 30 anos da morte de Antônio Carlos Jobim, um dos maiores nomes da música brasileira. Para marcar a data, o programa RFI Convida conversou com a jornalista francesa Annie Gasnier, que relembrou momentos marcantes de sua entrevista com o cantor, compositor e maestro em 1994, pouco antes de sua morte.

Ela compartilhou detalhes dos bastidores da conversa, incluindo o ambiente descontraído na casa do artista, as lembranças do encontro dele com o parceiro Vinícius de Moraes e a confissão feita por Jobim de uma de suas versões preferidas de "Garota de Ipanema".

Annie Gasnier descreveu com emoção como foi recebida na casa de Tom Jobim, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, um espaço que refletia a harmonia entre modernidade e natureza, característica muito presente nas composições do artista.

"Era uma casa muito bonita, aberta sobre a natureza, com flores e muito verde. Estavam lá a mulher dele, Ana, a filha, Maria Luísa, e os cachorros. Foi perto do piano, tomando café, um momento muito tocante para mim" lembrou.

A jornalista destacou a descontração de Tom Jobim durante a entrevista e o tom de bate-papo usado pelo maestro ao comentar os assuntos, variados, desde suas lembranças de Ipanema, até a parceria com Vinícius de Moraes, e a história por trás de uma das canções que o tornaram mundialmente conhecido: "Garota de Ipanema". 

"O mais interessante é que em Ipanema ainda existe esse bar onde eles escreveram essa canção, onde passava essa garota, que hoje todos sabem que é a Helô Pinheiro. Na época se chamava Bar Veloso, mas que virou Garota de Ipanema. Acho que o Brasil também entrou nos Estados Unidos graças também a essa música", comentou.

Questionado por Annie Gasnier sobre as diversas versões da famosa canção, Tom Jobim respondeu primeiramente ter perdido a conta, mas estimava em mais de 500 versões e traduções para o clássico, que segundo disse na entrevista, era uma "música local que se tornou universal". Depois, ao lado do piano, Tom Jobim confessou à jornalista que uma de suas interpretações favoritas era da cantora de jazz americana, Ella Fitzgerald.

"Tom Jobim estava tocando algumas notas no piano e depois disse: 'acho que uma das versões que mais me tocou e emocionou foi a de Ella Fitzgerald. Ela colocou uma emoção diferente, coisa de mulher', ele disse", lembrou Annie Gasnier.

Relação com a França

A gravação mantida pela jornalista mostra ainda que durante toda a entrevista, Tom Jobim se esforçava em introduzir palavras em francês nas respostas. "Faltava prática. Ele era daquela burguesia do Rio de Janeiro que falava francês. O pai dele tinha sido diplomata na França em 1940. Ele morou algum tempo, e também viajava bastante para a França por causa do trabalho, mas também porque gostava", conta Annie Gasnier.

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Outra lembrança marcante para Tom Jobim com a França, registrada na entrevista, foi sobre a conquista da Palma de Ouro do Festival de Cannes do filme Orfeu Negro, dirigido por Marcel Camus baseado na obra Orfeu da Conceição de Vinícius de Moraes.

Tom Jobim compôs com o parceiro várias músicas para a trilha sonora do premiado longa, entre elas, "A Felicidade". "Pela primeira vez meu nome com o do Vinícius apareceu em Paris e tudo mais com as músicas do Orfeu", disse Jobim à jornalista.

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