Coreia do Sul: Manifestantes prometem manter protestos, após impeachment de presidente fracassar

O presidente sul-coreano, Yoon Suk Yeol, que tentou impor a lei marcial em seu país, sobreviveu a um pedido de impeachment feito pela oposição no Parlamento neste sábado (7), depois que membros de seu partido boicotaram a votação. Nas ruas, dezenas de milhares de sul-coreanos protestam contra a decisão.

Deputados do Partido do Poder Popular (PPP), de Yoon Suk Yeol, abandonaram a sessão na Câmara e deixaram apenas três membros do seu partido na bancada, quando os parlamentares debatiam a moção de destituição. Para ser aprovado, o texto precisava do apoio de pelo menos oito votos do PPP. Sem quórum suficiente, com apenas 195 votos, o pedido de impeachment foi recusado.

"Declaro que a votação sobre esta questão é inválida", disse o presidente da Câmara, Woo Won-shik. "A não votação desta questão significa o fracasso do processo democrático numa questão nacional crítica. Em nome da Assembleia Nacional, peço desculpa ao povo", acrescentou Woo.

Do lado de fora, entre 150 mil pessoas, segundo a polícia, e 1 milhão, conforme os organizadores, protestavam a favor da saída do presidente, algumas com as emoções à flor da pele. Gritos de raiva e lágrimas marcaram a manifestação em frente à Câmara dos Deputados, para exigir que os parlamentares acusassem Yoon pela sua tentativa frustrada de impor a lei marcial na última terça-feira (3), o que levou a Coreia do Sul para um caos político.

Durante horas, as pessoas se aglomeraram na área ao redor do complexo do Parlamento onde, na noite de terça-feira, soldados foram transportados de helicóptero como parte da tentativa de Yoon de derrubar o poder civil. A iniciativa não prosperou porque alguns deputados votaram contra o plano.

Protesto pacífico

Muitos manifestantes seguravam faixas nas quais podia-se ler "Impeach Yoon" e "Insurreição criminosa", e cantavam letras como "A Coreia do Sul é uma república democrática", em um clima pacífico. Alguns estavam acompanhados de crianças pequenas. Outros vieram em grandes grupos, ao som de música animada pontuada por slogans anti-Yoon.

Mas quando os deputados abriram oficialmente a sessão destinada a definir o destino do presidente, a multidão permaneceu em silêncio, concentrada nos telões que transmitiam a votação.

Quando o projeto de lei sobre a investigação especial por suspeitas contra a primeira-dama Kim Keon Hee foi rejeitado por pouco, uma onda de pessimismo tomou conta dos manifestantes. Dos 300 deputados, 198 votaram a favor da investigação, dois a menos dos 200 necessários para passar o texto.

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Os sinais de frustração tornam-se mais visíveis à medida que os legisladores do Partido do Poder Popular (PPP), sigla do presidente, começam a sair da Câmara para boicotar a votação do impeachment, que também requeria 200 votos para remover Yoon do cargo.

'Faça a porcaria do trabalho de vocês'

"Sinto-me péssimo por ter chegado a este ponto hoje", exclamou An Jun-cheol, 24 anos. "O que os deputados do partido no poder fizeram hoje - evitando a votação - nada mais é do que uma tentativa de consolidar o seu poder, sem qualquer consideração pelo povo."

Mesmo assim, An permanece determinado, dizendo que continuará participando de protestos até que Yoon seja indiciado. "Tenho certeza de que outras pessoas virão aqui para a próxima votação", disse ele.

Jo Ah-gyeong, 30 anos, de Seul, compartilha a mesma determinação. "Não estou desanimada nem decepcionada, porque ainda conseguiremos. Continuarei vindo aqui até conseguirmos", afirmou à AFP. "Por favor, façam a porcaria do trabalho de vocês", gritou ela, na direção do Parlamento.

Em outra manifestação, no centro da capital Seul, milhares de apoiadores de Yoon também foram às ruas.

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Presidente pede desculpas e se explica

Mais cedo, pela manhã, o presidente fez um discurso à nação transmitido pela televisão, com duração de apenas dois minutos. Yoon, 63 anos, anunciou que confiaria ao seu partido a tomada de "medidas destinadas a estabilizar a situação política, incluindo no que diz respeito ao (seu) mandato".

"Não fugirei das minhas responsabilidades legais e políticas em relação à declaração da lei marcial", acrescentou. Ele justificou o seu golpe pelo "desespero como presidente", enquanto o Parlamento, dominado pela oposição, bloqueia praticamente todas as suas iniciativas.

"Causei ansiedade e inconveniência ao público. Peço sinceras desculpas", concluiu ele, antes de se curvar profundamente aos telespectadores.

O breve discurso, entretanto, não ajudou a acalmar a tensão. O chefe do PPP, Han Dong-hoon, afirmou que "uma demissão antecipada do presidente é inevitável", ao considerar que o exercício normal das suas funções "é impossível nestas circunstâncias".

Na véspera, ao final de uma reunião na noite de sexta-feira para sábado, a maioria dos deputados do partido reafirmaram a linha oficial segundo a qual derrotariam o impeachment, apesar de Han pedir a "suspensão rápida" do presidente.

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"Parece que o partido no poder decidiu opor-se ao impeachment na votação, com a condição de que o presidente lhe cedesse o controle", disse Chae Jin-won, pesquisador do Humanitas College da Universidade Kyung Hee, à AFP.

"O principal problema é que, embora reconheçam que o presidente cometeu erros e é um criminoso, eles simplesmente não querem dar o poder a Lee Jae-myung", acrescentou Chae, referindo-se ao líder do Partido Democrata, a principal força de oposição.

Além do processo de impeachment agora invalidado, Yoon Suk Yeol é alvo de uma investigação policial por "rebelião", crime teoricamente punível com pena de morte, que não é aplicada no país desde 1997.

Com informações da AFP

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