EUA dizem à Turquia que é "imperativo" impedir retorno do grupo Estado Islâmico à Síria
Em visita a Ancara, o secretário de Estado americano, Anthony Blinken, afirmou nesta sexta-feira (13) que é "imperativo" trabalhar contra o ressurgimento do grupo terrorista Estado Islâmico (EI) na Síria, após a queda do ditador Bashar al-Assad. Blinken viajou para a Jordânia e a Turquia para abordar a nova situação na Síria, que corre o risco de fragmentação pelas divisões internas após 13 anos de guerra civil.
"Nosso país trabalhou muito... para garantir a eliminação do califado territorial do EI, para garantir que esta ameaça não volte novamente. E é imperativo que continuemos esses esforços", declarou Blinken em uma entrevista coletiva ao lado do ministro turco das Relações Exteriores, Hakan Fidan.
"As nossas prioridades incluem garantir a estabilidade na Síria o mais rapidamente possível, impedir que o terrorismo ganhe espaço e impedir que o EI e o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, considerado uma organização terrorista e principal inimigo do presidente turco) dominem o país", pontuou o chefe da diplomacia turca Hakan Fidan.
Na noite de quinta-feira (12), Blinken se reuniu com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, no saguão do aeroporto de Ancara e insistiu na importância de se respeitar os direitos humanos e tomar "todas as medidas possíveis para proteger os civis" na Síria.
Erdogan disse a Blinken que a Turquia "nunca irá fraquejar no combate ao Estado Islâmico". Mas o presidente turco também frisou que, "como o único país da Otan que lutou corpo a corpo contra o EI, a Turquia impedirá os esforços do PKK e suas extensões de transformar a situação em uma oportunidade", citou um comunicado de imprensa da presidência turca.
Ao falar de "extensões do PKK", Erdogan se refere às Forças Democráticas Sírias (FDS), uma coalizão de milícias étnicas curdas e árabes e grupos rebeldes que controlam grandes áreas do norte e leste da Síria, com o apoio dos Estados Unidos.
Inimigos de Erdogan
Em 2018, as FDS declararam unilateralmente uma administração autônoma nesta área, onde estão instaladas bases militares dos EUA e da Rússia, assim como campos de detenção de familiares de combatentes do grupo Estado Islâmico, sob custódia dos curdos a pedido dos EUA. No entanto, para a Turquia, as FDS são consideradas uma emanação do PKK.
Na conversa com Erodgan, Blinken argumentou que "no momento em que se busca um caminho melhor para a Síria, as FDS são fundamentais para garantir que o grupo Estado Islâmico não reapareça". Mas a Turquia destacou em seu comunicado que também tomaria "medidas preventivas principalmente para a sua própria segurança nacional contra todas as organizações terroristas que operam na Síria e constituem uma fonte de ameaça para a Turquia".
Os novos líderes da Síria prometeram, na quinta-feira, estabelecer um "Estado de direito" no país depois de anos de abusos do regime de Assad, deposto em uma ofensiva-relâmpago liderada por uma coalizão de insurgentes islâmicos.
A Jordânia sediará neste sábado (14) uma cúpula sobre a Síria com os ministros das Relações Exteriores e diplomatas de Estados Unidos, União Europeia, países árabes e Turquia.
País a ser repensado e reconstruído
A imprensa francesa continua a dar amplo destaque às mudanças geopolíticas na região e às reações dos sírios à queda de Assad. A reconstrução do sistema educacional no país deverá ser uma das principais prioridades dos próximos meses.
O portal de notícias FranceInfo aponta para as mudanças urgentes que o país precisa e que devem começar a aparecer inclusive nos currículos escolares "que glorificam o regime". Estudantes sírios iniciam um movimento para que uma matéria obrigatória que elogia o regime, chamada "educação nacionalista", desapareça da grade curricular. Por outro lado, o ensino de ciências e matemática permaneceu de bom nível na Síria, segundo jovens entrevistados pelo portal francês. Um dos anseios dos estudantes é ver os livros de história reescritos para que os sírios venham a conhecer a verdadeira história do país.
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