Acusado de 'misógino e obsoleto', concurso de Miss França tenta se renovar com 1ª candidata de mais de 30 anos
O sucesso do Miss França é considerado atípico, uma exceção cultural na Europa, com 7 a 8 milhões de telespectadores e picos de audiência de 9 milhões. O produtor da cerimônia, que acontece neste sábado (14), nota, com satisfação, que os perfis das candidatas têm mudado, com médicas, engenheiras e até policiais concorrendo ao título. Desde 2022, o concurso está aberto a mulheres casadas ou mães. As regras revisadas também permitem inscrições de mulheres transgênero com mudança oficial no registro de estado civil.
A Miss França 2025 será coroada neste sábado (14) à noite com transmissão ao vivo pelo canal TF1, direto de Poitiers (centro), entre 30 candidatas, incluindo, pela primeira vez, uma concorrente na casa dos 30 anos de idade. De acordo com os organizadores do concurso, houve até agora apenas um caso confirmado de uma candidata trans durante a eleição da Miss Paris, em 2022.
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Ainda na mira de associações feministas francesas que denunciam uma tradição "misógina e ultrapassada", a eleição da Miss França continua a se transformar, numa tentativa de renovação, com a eliminação, este ano, dos limites de idade para as candidatas. A França continua, assim, na contramão de outros países que decidiram eliminar o concurso de beleza. O caso mais recente é o da Holanda, que extingiu na quinta-feira (12) a competição baseada na aparência física, considerada obsoleta pelos holandeses.
Angélique Angarni Filopon, 34 anos, comissária de bordo e Miss Martinica 2024, é a primeira concorrente com mais de 30 anos na 95ª cerimônia de Miss França. A candidatura de uma outra mulher de 52 anos foi registrada, mas ela não foi além da etapa regional.
Holanda inova no conceito de Miss
Na Holanda, a eleição da Miss nacional será, a partir de agora, substituída pela exibição de mulheres bem-sucedidas "para celebrar a vida real, sem a pressão de se conformar a uma imagem perfeita, sem vestidos ou coroas, mas sonhos que ganham vida", anunciou Monica van Ee, ex-diretora do Miss Holanda, na quinta-feira.
Para Frédéric Gilbert, presidente e produtor do Miss França, o concurso, no entanto, "mostra as mulheres em toda a sua diversidade, durante mais de três horas de cobertura ao vivo".
Picos de audiência na França
"Os picos de audiência agora são alcançados quando as candidatas falam, e não quando elas desfilam em trajes de banho", disse Gilbert.
Mas para Aliénor Laurent, porta-voz da associação feminista francesa Osez le féminisme! (Ouse o feminismo, em português), abolir um concurso de beleza como o Miss Holanda ou o Miss França é um passo na direção certa. "Precisamos acabar com essa sociedade de mulheres como objetos do patriarcado, a representação das mulheres como ela ainda é feita", disse a porta-voz feminista.
"Substituir um concurso de beleza por uma mostra anual de mulheres inspiradoras, como na Holanda, ainda não é satisfatório. Seria mais eficaz destacar as mulheres nos programas de estudo das escolas e na arena pública. Não deveríamos nos surpreender ao ver mulheres inspiradoras", acrescentou Laurent.
Júri 100% feminino
Presidido este ano pela cantora Sylvie Vartan, o júri do Miss França 2025, mais uma vez 100% feminino, inclui a campeã olímpica Marie-José Pérec, a apresentadora e estilista brasileira Cristina Cordula, a dançarina Fauve Hautot, a comediante Nawell Madani, a pianista Khatia Buniatishvili e a ex-Miss França Flora Coquerel. Convocado ao palco pela trigésima vez consecutiva, o incansável apresentador Jean-Pierre Foucault, de 77 anos, será o mestre de cerimônias do concurso, com o tema "Le grand bal des Miss" (O grande baile das misses, em português).
As 30 candidatas que disputam a coroa de Miss França incluem Manon Le Maou, 28 anos, oficial de polícia, Miss Franche-Comté 2024; Romane Agostinho, 27, Miss Auvergne, médica osteopata de animais; e Mélissa Atta Bessiom, 25, Miss Pays-de-la-Loire, gerente de projetos de inteligência artificial em um grupo francês de produtos de luxo.
(Com AFP)