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'Jogavam os mortos em caçambas': ex-detentos turcos relatam os horrores das prisões sírias de Assad

Equipes realizam investigações em compartimentos secretos na Prisão de Sednaya após a queda do regime de Assad em Damasco, Síria, em 9 de dezembro de 2024. Repórteres da agência Anadolu em Damasco documentaram os esforços da Defesa Civil Síria, conhecida como Capacetes Brancos. Imagem: Anadolu/Anadolu via Getty Images

RFI

15/12/2024 13h32

Na escuridão das prisões sírias, onde o medo e a brutalidade são a regra, um sobrevivente turco compartilha os horrores vividos em cativeiro. "Jogavam os mortos em caçambas", relata, descrevendo o destino cruel reservado àqueles que não resistiam às condições desumanas. Preso durante anos, ele testemunhou torturas sistemáticas, fome extrema e doenças que se alastravam como epidemias.

Na escuridão das prisões sírias, onde o medo e a brutalidade são a regra, um sobrevivente turco compartilha os horrores vividos em cativeiro. "Jogavam os mortos em caçambas", relata, descrevendo o destino cruel reservado àqueles que não resistiam às condições desumanas. Preso durante anos, ele testemunhou torturas sistemáticas, fome extrema e doenças que se alastravam como epidemias.

"As celas eram superlotadas. Mal conseguíamos respirar, e a comida era quase inexistente", conta o homem, que pediu anonimato por questões de segurança. Os prisioneiros, muitos detidos sem julgamento, eram submetidos a sessões de espancamento e interrogatórios brutais. "Havia gritos incessantes. Você sabia que alguém estava sendo torturado, mas não podia fazer nada. Apenas esperava sua vez", descreve.

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O relato coincide com denúncias de organizações de direitos humanos que, há anos, documentam as atrocidades cometidas no sistema prisional sírio. Centros como a prisão de Saydnaya, ao norte de Damasco, foram apelidados de "masmorras da morte", devido à quantidade de execuções e mortes causadas por negligência deliberada.

"Os corpos eram descartados como lixo", diz o sobrevivente. "Vi homens morrerem na minha frente, e ninguém fazia nada. Jogavam os corpos em caçambas de metal e os levavam para fora", conta o sobrevivente. A experiência deixou marcas profundas. "Eu sobrevivi, mas não sei se realmente estou vivo. As memórias me assombram todos os dias."

Os testemunhos reforçam os apelos da comunidade internacional para responsabilizar os autores dessas violações. Apesar disso, o caminho para a justiça permanece incerto, enquanto milhares continuam desaparecidos ou presos sob o regime sírio.

"Viver em um caixão"

Outro sobrevivente, Mehmet Ertürk, 53, voltou para casa sem a metade dos dentes e as marcas de quase 21 anos de sofrimento nas prisões da Síria. Ele mal consegue comer o pão preparado por Hatice, sua esposa. "Foi tortura após tortura", relembra ele, descrevendo os golpes de cassetete que recebeu na boca dos guardas da temida prisão de Branche Palestine, em Damasco.

Preso em 2004 sob acusação de contrabando, Mehmet foi libertado apenas nesta semana e reencontrou sua família no vilarejo de Magaracik, no sul da Turquia, a poucos minutos da fronteira com a Síria. "Minha família achava que eu estava morto", conta o homem, que aparenta 20 anos a mais do que sua idade.

Na noite de sua libertação, Mehmet ouviu tiros e começou a rezar. "Achei que era o fim." Pouco depois, rebeldes que haviam invadido Damasco abriram as portas da prisão, encerrando anos de sofrimento que ele compara a viver "em um caixão".

"Batiam nos pulsos com martelos até ossos ficarem visíveis"

Condenado inicialmente a 15 anos de prisão, Mehmet deveria ter sido libertado em 2019, mas o sistema penitenciário sírio ignorou sua sentença. Durante o cativeiro, ele enfrentou torturas brutais. "Eles batiam nos nossos pulsos com martelos até os ossos ficarem visíveis", relata.

Em outro episódio, um companheiro de cela teve água fervente despejada no pescoço. "A pele derreteu e desceu até os quadris", descreve Mehmet, apontando para o próprio corpo. Ele também exibe a marca das correntes em seu tornozelo, uma cicatriz que nunca desaparecerá.

As celas estavam superlotadas, com mais de 100 pessoas espremidas em espaços projetados para 20. "Muitos morreram de fome. Os guardas jogavam os corpos em caçambas de lixo", conta. A comida era infestada de baratas, e o ar carregava o cheiro insuportável de esgoto. Diante do sofrimento, Mehmet chegou a desejar a morte.

Um dia, vi uma corda pendurada no teto de um novo setor da prisão e pensei: 'Graças a Deus, seremos enforcados. Finalmente, estaremos livres.'

Mehmet também acredita que sua nacionalidade agravou os maus-tratos. Segundo ele, os guardas descontavam sua hostilidade contra o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan , nos prisioneiros turcos. "Nós éramos torturados por causa disso", diz, acrescentando que teve medicamentos negados em diversas ocasiões.

Hoje, de volta à sua aldeia, ele agradece por estar vivo. "Deus e nosso querido presidente Erdogan me trouxeram de volta", afirma, referindo-se ao líder turco. Ainda assim, Mehmet carrega as memórias de amigos que não tiveram a mesma sorte, como Faruk Karga, um companheiro de cela que morreu de fome em 2018, pesando apenas 40 quilos.

Segundo a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos, mais de 105 mil pessoas morreram nas prisões sírias desde 2011, vítimas de tortura, fome e condições desumanas. Mehmet Ertürk sobreviveu, mas as marcas de sua experiência continuam a assombrá-lo.

(Com AFP)

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