Economia mundial entrará em 2025 em suspenso à espera do "imprevisível" Trump
O ano de 2025 chega recheado de incertezas na economia global, pontuadas pela guinada protecionista prometida por Donald Trump nos Estados Unidos, a partir de janeiro. No Brasil, a expectativa é se o governo vai conseguir convencer os agentes econômicos sobre a solidez fiscal do país, em meio a uma disparada dos juros ao patamar mais alto em uma década.
Instituições como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a OCDE preveem que o crescimento do PIB mundial permanecerá estável, acima de 3%. O economista Renato Baumann, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), resume o quadro para o começo do ano: com a volta de Trump, a única certeza é um conjunto de incertezas.
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"A questão é que ele é imprevisível. Muito provavelmente a gente vai ver, nos primeiros meses, uma proatividade de mandar imigrantes ilegais de volta para os seus países e um discurso contra o multilateralismo, mas eu não afastaria a possibilidade de uma acomodação a médio prazo", pondera o pesquisador. "Os custos de adotar tarifas, como ele fala, são custos que não serão menores", salienta.
O futuro presidente americano promete importar menos da China, e o país asiático deve crescer menos em 2025. Pequim já planejou a sua reação e vai se voltar para dentro: o governo chinês anunciou um ambicioso plano de estímulos para aquecer o consumo, aumentar os investimentos e enfrentar a crise imobiliária crônica.
Este cenário tem tudo para afetar as importações do Brasil, uma vítima colateral da retomada da provável guerra comercial entre as duas maiores potências globais. Mas também pode representar uma oportunidade para as vendas de minério de ferro, que hoje respondem por cerca de um quarto da pauta de exportações brasileiras para o país.
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Dólar alto vai continuar
Reginaldo Nogueira, economista e diretor nacional do Ibmec, ressalta ainda que a volta de Trump favorece a moeda americana e a China pode buscar fortalecer o yuan em contrapartida. Resultado: a cotação do dólar não deve baixar tão cedo em relação ao real.
"Teremos um período em que o dólar vai continuar forte, e os países vulneráveis, entre eles o Brasil aparece disparado em 2025, serão aqueles que vão sofrer mais", observa. "A pressão cambial sobre o Brasil vai continuar porque nós estamos com a jugular exposta, com déficit fiscal e déficit externo, simultaneamente. Isso deixa o país como um alvo muito claro para pressões cambiais."
No cenário interno, 2025 começa com desconfiança sobre os rumos da política fiscal, depois que o governo anunciou um pacote de ajuste considerado tímido demais, ao prever R$ 70 bilhões de economias em dois anos. Nogueira vê sinais de uma economia superaquecida pelo consumo, que têm levado o país a se afastar cada vez mais da meta de inflação, de 3%.
Choque de juros
Para frear esse ciclo, o Banco Central antecipou que a subida da taxa básica de juros não deve parar tão cedo. O atual índice em dezembro, de 12,25%, alça o Brasil ao país à posição de segundo maior juro real do mundo, atrás apenas da Turquia, e à frente da Rússia.
"Acho que a pergunta que fica para 25 é o quão alto os juros precisarão chegar para que a gente tenha um cenário de inflação mais estável. Isso vai depender fundamentalmente da política fiscal", afirma o diretor do Ibmec. "Se o governo seguir com um ajuste de 30 bilhões em 2025, provavelmente os juros terão que ir para perto de 15%, isso vai despencar o investimento privado e a gente vai ter uma situação, em termos de crescimento, muito mais complicada - não só em 25, mas também em 26", antecipa.
A previsão atual de crescimento brasileiro no próximo ano gira em torno de 2%, bem abaixo dos 3,3% projetados para 2024. Alguns economistas, como na Fundação Dom Cabral, avaliam que um quadro de estagflação pode estar se desenhando - ou seja, crescimento fraco, inflação elevada e desemprego em alta. Mas Renato Baumann, do Ipea, prefere olhar o futuro com mais otimismo.
"Eu não sei se chega a estagflação. A expectativa é de um desempenho da economia brasileira menos brilhante, se é que esse ano foi brilhante. Mas nos últimos dois anos, sempre houve uma superação de expectativas para o lado positivo", ressalta. "Há quem diga que isso foi inflado por um excesso de transferências de renda que não é sustentável, mas está por ver-se como vai ser. A economia brasileira é muito diversificada e sempre surpreende - para cima ou para baixo."