'Brasil escapou do pior': Le Monde volta a destacar relatório da PF sobre tentativa de golpe com 'participação direta' de Bolsonaro
O jornal Le Monde desta sexta-feira (27) traz uma longa matéria sobre os bastidores da tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022. O correspondente do diário em São Paulo, Bruno Meyerfeld, analisou os detalhes do relatório de 884 páginas da Polícia Federal, divulgado no final de novembro, um documento descrito pelo repórter como "explosivo", que revelam acontecimentos que quase mudaram os rumos da história do país.
O jornal Le Monde desta sexta-feira (27) traz uma longa matéria sobre os bastidores da tentativa de golpe de Estado no Brasil em 2022. O correspondente do diário em São Paulo, Bruno Meyerfeld, analisou os detalhes do relatório de 884 páginas da Polícia Federal, divulgado no final de novembro, um documento descrito pelo repórter como "explosivo", que revelam acontecimentos que quase mudaram os rumos da história do país.
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"Desconcertante", "vertiginoso", "gravíssimo": o jornal Le Monde não poupa palavras para descrever os resultados das investigações sobre o projeto de golpe da extrema direita brasileira há pouco mais de dois anos. Na noite de 15 de dezembro de 2022, tinha início em Brasília uma operação para assassinar Alexandre de Moraes, presidente do STF, e os recém eleitos Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. A matéria explica que o objetivo era que "o chefe de Estado em fim de mandato, Jair Bolsonaro, se mantivesse no poder".
Culto ao golpe de 1964
Para o líder da extrema direita brasileira, "a derrota nunca foi uma opção", diz Le Monde. O diário lembra que, após o anúncio dos resultados, Bolsonaro se trancou no Palácio da Alvorada durante dois dias, suscitando esperanças a seus apoiadores, que passaram a exigir uma "intervenção federal". Segundo a matéria, o então presidente também foi incitado por militares "que cultuam o golpe de 1964". Nos grupos de WhatsApp, no início de novembro, começou a circular a ideia de "uma guerra civil" para contestar a posse de Lula.
"Enquanto a transição começava, nos bastidores, a contraofensiva era lançada", relata a matéria. Na sede do governo, Bolsonaro recebeu militares de alta patente, dispostos a participar do projeto de golpe, como o general Estevam Cals Theophilo, chefe do Comandante de Operações Terrestres do Exército, juristas, como Amauri Feres Saad, do prestigioso escritório de advocacia Siqueira Castro, além de fiéis apoiadores, como seu assessor Filipe Martins, descrito pelo jornal como "um supremacista branco próximo de trumpistas".
"Todos favoráveis a uma ruptura constitucional", publica Le Monde. Na "cúpula" do projeto de golpe, especulou-se até mesmo a utilização do artigo 142 da Constituição brasileira, que segundo a extrema direita autorizaria as Forças Armadas a intervir por ordem do presidente para garantir o poder constitucional.
Punhal Verde e Amarelo
O documento com os detalhes do chamado "Punhal Verde e Amarelo" chegou a ser impresso na sede da presidência, apontando para a necessidade de um "arsenal com alto poderio bélico" para colocar o plano em prática. O método para assassinar Lula também foi pensado: envenenamento, "por meio de um elemento químico ou biológico", diz o documento da PF citado no Le Monde.
O correspondente do diário no Brasil também descreve a convocação do alto comando militar para uma reunião com Bolsonaro no início de dezembro de 2022. No entanto, o general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, não aderiu à ideia de golpe, o que teria irritado lideranças das Forças Armadas.
Ainda assim, o plano entra em execução em 15 de dezembro, sob o comando do general Walter Braga Netto. A matéria descreve a troca de mensagens dos chamados "kids pretos" por meio de celulares descartáveis e os codinomes de países: Alemanha, Argentina, Gana, Japão. Mas Le Monde lembra que o grupo resolveu abortar a operação, provavelmente por uma mudança no cronograma do STF.
A sequência da história foi relatada por jornais do mundo inteiro: Bolsonaro deixa o Brasil, em direção dos Estados Unidos, e a posse de Lula é sucedida pela invasão do Congresso, do Palácio do Planalto e da sede do STF por militantes da extrema direita. A novela parece se encaminhar para o fim com a revelação do relatório da Polícia Federal e com o indiciamento de 37 homens, entre eles, 24 militares, suspeitos de terem participado do plano de golpe.
Le Monde ressalta que um dos indiciados é o próprio Bolsonaro, cuja participação no projeto foi "direta e efetiva", afirma o relatório da PF. O ex-presidente pode ser condenado a até 28 anos de prisão. Já o "Brasil escapou do pior", conclui o jornal.