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Nobel da Paz alerta para "momento extremamente perigoso" após decisão da Meta de acabar com checagem de fatos

08/01/2025 09h22

A jornalista filipina e vencedora do prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa, alertou na quarta-feira (8) para um "momento extremamente perigoso" para o jornalismo após a decisão da Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) de cessar suas operações de checagem de fatos (fact checking) nos Estados Unidos.

A jornalista filipina e vencedora do prêmio Nobel da Paz, Maria Ressa, alertou na quarta-feira (8) para um "momento extremamente perigoso" para o jornalismo após a decisão da Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp) de cessar suas operações de checagem de fatos (fact checking) nos Estados Unidos.

"Mark Zuckerberg diz que se trata de liberdade de expressão. É completamente falso", disse Ressa em entrevista à AFP, que afirma que teme um futuro "extremamente perigoso" para o jornalismo. De acordo com ela, as motivações para a decisão são "lucro" e "poder".

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A Meta anunciou na terça-feira (7) que encerraria seu programa de verificação de fatos nos Estados Unidos, e o substituiria por um sistema de notas da comunidade, semelhante ao usado pelo X.

Em vez usar os serviços de organizações independentes no combate à desinformação, Elon Musk, dono do X, criou as notas, escritas pelos próprios usuários quando acreditam que a informação requer uma recontextualização.

De acordo com Mark Zuckerberg, "os verificadores de fatos têm sido muito orientados politicamente e têm feito mais para reduzir a confiança do que para melhorá-la, especialmente nos Estados Unidos".

Vencedora do prêmio Nobel da Paz em 2021, a jornalista filipina Maria Ressa é uma figura de destaque na luta contra a desinformação. Em 2012, ela cofundou a plataforma digital de jornalismo investigativo Rappler, que destacou a violência ligada à campanha antidrogas lançada pelo ex-presidente filipino Rodrigo Duterte.

Decisão política e lucrativa

Para analistas, ao encerrar seu programa de verificação de fatos, Mark Zuckerberg ilustra a vontade de alguns grandes chefes da tecnologia de se alinharem com a dupla conservadora formada por Elon Musk e Donald Trump. Nenhum grande chefe de uma empresa tecnológica americana tinha manifestado, até agora, um apoio tão franco ao conceito radical de liberdade de expressão defendido pelo presidente eleito e por seu inseparável aliado multibilionário, hostil a qualquer regulamentação.

 "Estamos voltando às nossas raízes", afirmou na terça-feira Zuckerberg, que sempre se recusou a considerar sua empresa como um veículo de comunicação sujeito a restrições específicas em termos de conteúdo, preferindo descrevê-la como "uma rede de distribuição" ("utility").

Donald Trump não hesita em atacar a mídia por publicações que o desagradam, no entanto, faz apelos à livre circulação de conteúdos de seus apoiadores nas redes sociais, ampliando sua retórica antimigrantes, hostil aos transgêneros ou de ameaça às políticas de seus oponentes.

"Para todos nós que lideramos a luta pela liberdade de expressão há anos, isto parece uma grande vitória e um ponto de viragem", disse David Sacks, empresário e futuro conselheiro de Donald Trump sobre inteligência artificial (IA) e criptomoedas.

Amigo próximo de Elon Musk, ele celebrou a medida dizendo que a Meta "corrigiu a sua trajetória". "Obrigado, presidente Trump, por criar este realinhamento político e cultural", escreveu.

Para Ethan Zuckerman, professor de políticas públicas, comunicação e informação da Universidade de Massachusetts, a decisão da Meta pode ser abordada de um ângulo político, mas também serve aos objetivos financeiros de Zuckerberg, já que a checagem de fatos é difícil, dispendiosa e controvertida.  

Outros grandes nomes do setor já demonstraram, de forma mais discreta, o desejo de cooperar com a futura administração Trump, no final de um mandato de Biden marcado por um tom muitas vezes duro para com as empresas tecnológicas, acusadas de permitirem a proliferação de fake news e do discurso de ódio.

Donald Trump pretende atacar as redes sociais e a mídia em geral. Durante sua campanha o presidente eleito ameaçou repetidamente as redes sociais, em particular depois de ter sido temporariamente banido do Facebook e do Twitter, antes de este último ser comprado por Elon Musk e se transformar em X.

Na terça-feira, o presidente eleito disse que a reação do chefe da Meta foi "provavelmente" resultado das ameaças que fez contra ele.

O republicano escolheu Brendan Carr, um defensor da desregulamentação do setor tecnológico, para liderar a poderosa agência federal de comunicações, a FCC.

Em 15 de novembro, Brendan Carr pediu ao X para "desmantelar o cartel de censura" formado segundo ele por "Facebook, Google, Apple, Microsoft e outros".

Recentemente, a cartunista de imprensa Ann Telnaes anunciou que havia se demitido do Washington Post, devido à rejeição pela administração de uma caricatura na qual criticava o proprietário do diário, Jeff Bezos, também chefe da Amazon, por ter procurado "obter favores de Donald Trump".

Empresas da tec que apoiam Trump

Como Mark Zuckerberg, os responsáveis ??da Google, Amazon e Apple se encontraram com Trump em Mar-a-Lago, a sua residência na Florida. Empresas do setor de tecnologia também realizaram doações para financiar recepções oferecidas na posse de Donald Trump, em 20 de janeiro.

Entre elas, da empresa de Sam Altman, chefe da OpenAI, que disse no início de dezembro ter "a convicção bastante profunda de que Elon (Musk) iria fazer as escolhas certas".

O chefe da X, SpaceX e Tesla emergiu nos últimos meses como um peso pesado dentro da esfera trumpista, e mesmo fora dela, depois de ter estado ativamente envolvido na campanha do ex e agora futuro presidente republicano. "É legal", comentou após o anúncio de Mark Zuckerberg, com quem tem um relacionamento tempestuoso.

(Com AFP)

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