Posse de Maduro é marcada por ausência de líderes internacionais e panelaços
Durante a posse na Assembleia Nacional, Nicolás Maduro confirmou que criará uma comissão para revisar a Constituição outorgada em 1999 por Hugo Chávez para "democratizar até o infinito a vida política e social da Venezuela". Ele prometeu que "este novo período presidencial será um período de paz, prosperidade, igualdade e uma nova democracia". Maduro deve ficar no poder até 2031. "Juro pela história, juro pela minha vida e cumprirei!", acrescentou.
Por Eliahah Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas
Houve panelaços em várias regiões de Caracas enquanto Maduro fazia seu discurso de posse. Opositores criticam a falta de transparência no resultado do pleito de 28 de julho do ano passado. Embora seja regra, o Conselho Nacional Eleitoral não divulgou os resultados das atas eleitorais.
Os Estados Unidos e outros países tomaram decisões contundentes contra Caracas pelas irregularidades. A União Europeia anunciou sanções a 15 funcionários do governo por violações de Direitos Humanos e pela falta de transparência no pleito presidencial.
A posse de Maduro estava esvaziada por causa das críticas ao processo eleitoral. Apenas os presidentes de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e o da Nicarágua, Daniel Ortega, estiveram presentes. Os demais convidados eram representantes enviados por seus países de origem. O Brasil foi representado pela Embaixadora Glivânia Maria de Oliveira.
Oposição denuncia golpe de Estado
A oposição denunciou que Maduro deu "um golpe de Estado" ao tomar posse, apoiado "pela força bruta e ignorando a soberania popular que foi expressa de forma contundente em 28 de julho", data da votação. "González Urrutia é quem deve tomar posse", disse a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária, em um comunicado.
A líder da oposição Maria Corina Machado, que na quinta-feira alegou ter sido brevemente detida após liderar uma manifestação em Caracas, disse que explicará, na clandestinidade, "o que está por vir".
Os Estados Unidos, por sua vez, chamaram a posse de "farsa" e aumentaram a recompensa oferecida pela captura de Maduro e seu ministro do Interior, Diosdado Cabello, para US$ 25 milhões (R$ 152,3 milhões na cotação atual). O governo também impôs sanções contra o chefe da empresa petrolífera estatal PDVSA e sete outros altos funcionários venezuelanos.
The Venezuelan people and world know that Nicolas Maduro clearly lost the 2024 presidential election and has no right to claim the presidency today. We stand ready to support a return to democracy in Venezuela.
? Secretary Antony Blinken (@SecBlinken) January 10, 2025
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, afirmou que Nicolás Maduro "não tem o direito de reivindicar a presidência" na Venezuela, após a posse do líder chavista.
"O povo venezuelano e o mundo sabem que Nicolás Maduro claramente perdeu as eleições presidenciais" de 28 de julho e os Estados Unidos estão "preparados para apoiar o retorno da democracia na Venezuela", acrescentou Blinken na rede social X.
A proteção migratória que concede residência e autorizações de trabalho aos venezuelanos nos Estados Unidos foi estendida por 18 meses. O próximo presidente dos EUA, Donald Trump, referiu-se ao opositor González Urrutia na quinta-feira como "presidente eleito".
Maduro foi declarado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) com 52% dos votos, embora uma contagem detalhada ainda não tenha sido publicada, conforme exigido por lei. A oposição publicou cópias dos registros eleitorais em um site, que, segundo afirma, comprovam a vitória de seu candidato com mais de 70% dos votos.
Na madrugada desta sexta-feira, a Venezuela anunciou o fechamento, até esta segunda-feira, da fronteira com a Colômbia. A decisão foi tomada unilateralmente e sem aviso prévio, o que gerou surpresa entre os que circulam diariamente entre ambos os países. Os voos à Colômbia também foram cancelados até segunda ordem.
Reforma constitucional
No poder desde 2013, apadrinhado por Hugo Chávez, Maduro governa com mão de ferro e apoio das Forças Armadas. González Urrutia pediu que os militares o reconhecessem como presidente, mas a hierarquia jurou "lealdade absoluta" a Maduro.
Para seu próximo mandato de seis anos, Maduro propõe uma "grande reforma" na Constituição, com a aprovação de novas leis que, segundo especialistas, acabam com as liberdades individuais. O herdeiro do governo chavista também promete recuperação econômica, depois de passar grande parte de seus 12 anos no poder à frente de um país em recessão, com inflação alta e escassez de produtos e medicamentos.
Mais de sete milhões de venezuelanos fugiram da crise, segundo a ONU. No horizonte, há possíveis novas sanções com a chegada de Trump à Casa Branca. O republicano impôs um embargo de petróleo à Venezuela durante seu primeiro governo.
Com informações da AFP
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