Xerife diz que 'cartéis continuarão agindo' mesmo com política anti-imigração de Trump

Ao tomar posse nesta segunda-feira (20) como presidente dos Estados Unidos, uma das primeiras medidas prometidas por Donald Trump será combater o problema da imigração ilegal no país. O novo governo prepara operações em larga escala para prender imigrantes irregulares já a partir da próxima terça-feira (21). A RFI esteve na fronteira com o México, onde a população de ambos os lados se questiona sobre o impacto na nova gestão de Trump.
A poucas horas da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, ainda que a situação seja calma, há uma tensão no ar na fronteira com o México. A poucos passos do portão de acesso à fronteira, motoristas oferecem transporte para diferentes partes do Arizona.
Em Nogales, o movimento não para. "Tucson, Fênix; Você vai para Tucson? "Estou indo agora, você vai para Tucson? Passarei por lá" grita um motorista no posto de fronteira.
O apito do trem de carga anuncia a sua passagem pelo posto de controle. É ali mesmo, ao lado dos trilhos, que são deportados os imigrantes ilegais detidos no Arizona, estado americano que compartilha 568 quilômetros de fronteiras com o México e que fazia parte da Nação asteca, até 1853.
Em 2024, Nogales (no estado mexicano de Sonora) foi o município do México que recebeu o maior número de pessoas repatriadas ou deportadas: 48.960, segundo dados oficiais.
Fernando López Miranda, gerente de uma empresa a poucos metros da fronteira, diz não esperar que as possíveis deportações afetem a economia local. "Acho que a visão do presidente Trump é uma visão de negócios, de ganhar dinheiro; Ele é um empresário e não creio que isso vá afetar as empresas. Do nosso ponto de vista, estamos otimistas", afirma.
López Miranda vivenciou em primeira mão o êxodo de africanos e haitianos que lotaram as ruas da pequena cidade de Nogales, no início de 2024. "Eles precisavam ir ao banheiro, se lavar, comer, se fazer entender para comprar alguma coisa, e muitos não falavam espanhol ou inglês, que são as línguas locais aqui e tiveram dificuldades para suprir as necessidades básicas", acrescentou.
Embora não haja indícios de deportações em massa em Nogales, os funcionários do Departamento de Segurança Interna sabem que, se uma ordem executiva for assinada, eles terão que cumprir e iniciar operações para localizar, apreender e deportar o máximo de imigrantes ilegais, no menor tempo possível.
Carteis continuarão agindo
A nova administração de Trump já preparou uma série de operações de imigração para as semanas seguintes à posse.
O presidente republicano prometeu "fechar a fronteira". Mas o xerife Don White, que percorre vastas fazendas do Texas ao redor da cidade de Falfurrias em busca dos corpos de imigrantes que morrem no caminho, tem dúvidas sobre a viabilidade dos planos de Trump e diz não acreditar no fim das travessias ilegais.
"Na verdade, poderia fechar completamente a fronteira para o comércio. Eles poderiam interditar os postos de controle nas pontes sobre o Rio Grande em direção ao México e ninguém conseguiria entrar. É simples assim", afirma. "Porém, impedir as pessoas de cruzarem o rio e as montanhas é uma história totalmente diferente", observa.
Para o policial, por mais que as autoridades possam "complicar as coisas", o fato é que "sempre haverá pessoas que vão se arriscar". Segundo o xerife, se os guardas focarem nas travessias ilegais em uma determinada área, os migrantes irão se mudar para outro lugar". Ele cita como exemplo o episódio em que as autoridades do Texas reforçaram os controles no sul do estado e os migrantes começaram a entrar por outros pontos, como a fronteira mais ao norte no Texas, no Novo México e no Arizona. "Em geral, quanto mais rigorosas as leis e mais monitorada é a fronteira, maior o número de travessias ilegais", observa. "Vamos ver o que acontece. Mas, seja como for, os cartéis de drogas mexicanos não se importam. Eles continuarão a ganhar dinheiro não importa o que aconteça", conclui.
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