Fórum Econômico de Davos: Oxfam denuncia "oligarquia de bilionários perigosa para a democracia"

Começa na noite desta segunda-feira (20) o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, reunindo centenas de participantes, entre eles, executivos de grandes empresas, os homens mais ricos do planeta e líderes políticos. Em seu relatório anual sobre as desigualdades no mundo, a ONG Oxfam denuncia a emergência de uma "oligarquia" de bilionários que representa um perigo para a democracia.

A Oxfam destaca o crescimento das fortunas dos super-ricos, descritos como uma aristocracia que exerce "um poder tentacular sobre nossos sistemas político e econômico".

Este ano, a cúpula de Davos, que ocorre em uma estação de esqui nos Alpes suíços, coincide com a cerimônia de posse do 47º presidente dos Estados Unidos em Washington, evento que contará com a presença dos homens mais ricos do planeta.

Para a ONG, "a joia da coroa dessa oligarquia" é o bilionário Donald Trump, que passa a liderar a maior economia global, apoiado pelo homem mais rico do mundo, Elon Musk, criticou Amitabh Behar, diretor-executivo da ONG. 

Dono da fabricante de automóveis Tesla e da empresa espacial SpaceX, além de proprietário da rede social X, Musk financiou amplamente a campanha de Donald Trump e vai dirigir um departamento para a "eficiência governamental", que terá a tarefa de reduzir os gastos públicos da administração americana.

O presidente dos Estados Unidos em fim de mandato, Joe Biden, lamentou a mistura de interesses financeiros e políticos e alertou para o surgimento de um "complexo tecnológico-industrial". Ele também expressou o receio de que os EUA caiam nas mãos de uma "oligarquia".

Ainda de acordo com o relatório da Oxfam, a fortuna dos bilionários "cresceu 2 trilhões de dólares" no ano passado, um aumento três vezes maior do que no ano anterior, alcançando 15 trilhões. No relatório, a ONG também alertou que "é provável que as políticas defendidas pelo presidente Trump façam disparar a desigualdade".

Protestos

"Impostos para os ricos" foi um dos lemas dos manifestantes que bloquearam no domingo (19) a estrada de acesso a Davos para protestar contra a reunião do Fórum Econômico Mundial. Centenas de pessoas foram retiradas pela polícia, segundo a agência de notícias Keystone-ATS.

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"O Fórum de Davos simboliza o poder que pessoas ricas como eu possuem", declarou à AFP a austríaca Marlene Engelhorn, que no ano passado redistribuiu sua herança de 25 milhões de euros entre diversas organizações. "Simplesmente porque nascemos milionários ou tivemos sorte alguma vez, agora podemos influenciar políticos de todo o mundo com nossas preferências políticas", afirmou.

A Oxfam calcula que cinco homens podem alcançar uma fortuna de 1 trilhão de dólares, enquanto "o número de pessoas mantidas na pobreza quase não mudou desde 1990".

Um trilhão já é a fortuna combinada dos quatro homens mais ricos do mundo, todos norte-americanos e da indústria tecnológica: Elon Musk, Jeff Bezos (Amazon, Blue Origin), Mark Zuckerberg (Meta) e Larry Ellison (Oracle).

Os três primeiros, que devem comparecer nesta segunda-feira à cerimônia de posse de Trump, "possuem hoje mais riqueza do que a metade mais pobre da sociedade americana", criticou Bernie Sanders, uma figura proeminente da esquerda nos Estados Unidos.

Nas últimas semanas, Elon Musk também participou de debates políticos no Reino Unido e na Alemanha.

Ajuda para a posse

O comitê de posse do presidente eleito recebeu mais de US$ 170 milhões para celebrar a chegada de Trump à Casa Branca: um recorde. Americanos ricos e grandes empresários correram para assinar cheques de altos valores, não apenas para poder participar das festividades, mas na esperança de obter alguns favores do presidente eleito.

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Só as gigantes automobilísticas (Ford, General Motors, Stellantis, Toyota) ou os líderes de tecnologia (Google, Microsoft) pagaram 1 milhão de dólares para participar da posse de Donald Trump. O valor é o dobro do que deram a Joe Biden em sua posse. Por esse preço, eles terão o privilégio de falar brevemente com o presidente americano e seu vice, J.D. Vance.

Já americanos muito influentes, como os donos da Amazon, Meta, Open AI e Uber contribuíram, a título pessoal, com somas de sete dígitos. O suficiente para abrir as portas para jantares à luz de velas e bailes suntuosos. Outros, que preferiram permanecer anônimos, pagaram quantias igualmente exorbitantes, mesmo sem poder participar das festividades, pois o evento está esgotado há várias semanas.

Ao todo, os aliados de Donald Trump arrecadaram mais de US$ 250 milhões desde o dia da eleição para os projetos políticos do republicano, que volta à Casa Branca para um segundo mandato. 

Donald Trump já nomeou alguns bilionários para a sua nova administração e designou empresários para ocupar cargos de embaixadores ou diretores de agências federais. O que eles geralmente têm em comum é que contribuíram financeiramente para a campanha do republicano.

"Não quero viver em um país com um punhado de ricos e uma massa de pobres", disse por telefone à AFP Morris Pearl, um nova-iorquino aposentado que fez carreira no setor financeiro e integra os "milionários patrióticos", que pedem maior taxação sobre os mais ricos. "Temo que enfrentaremos distúrbios civis se não mudarmos as coisas", acrescentou.

Mais de 60 chefes de Estado e de governo se reunirão esta semana em Davos, em uma cúpula que será encerrada na quinta-feira (23) com um discurso por videoconferência de Donald Trump.

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(Com RFI e AFP)

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