"Ainda Estou Aqui" começa segunda fase da campanha para o Oscar com engajamento dos brasileiros

Após o anúncio das três indicações históricas ao Oscar para "Ainda Estou Aqui", agora começa mais uma fase da campanha, já que os cerca de 10.500 membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas vão receber outra cédula em branco e aí, sim, escolhem seus favoritos entre os indicados.

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

No dia 11 de fevereiro, abre a janela de votação final e durante uma semana, até 18 de fevereiro, os membros da Academia vão poder assinalar os melhores do ano. Nessa segunda fase, todos votam em todas as categorias.

Antes disso,  o elenco de "Ainda Estou Aqui", o diretor Walter Salles e os produtores, têm um tempo para investir nessa segunda fase da campanha. Porém, há muitas restrições impostas pela Academia para esse final da corrida, muito corpo-a-corpo não é mais permitido, mas alguns eventos já estão marcados.

No dia 7 de fevereiro acontece a premiação da Critics Choice Association, na qual o longa brasileiro concorre na categoria de Filme Internacional. Muitos votantes do Oscar vão estar nesta festa e o diretor e os atores brasileiros devem aproveitar a oportunidade para conversar com a mídia do mundo inteiro e com os membros da Academia presentes no evento.

Já no dia 8 de fevereiro está prevista, também em Los Angeles, uma exibição e bate-papo com eles, mas ainda não foram divulgados os detalhes.

Campanha histórica

É importante destacar que esse resultado, de três indicações - Melhor Filme, Melhor Atriz para Fernanda Torres e Melhor Filme Internacional - é, claro, mérito do filme incrível, mas principalmente resultado da campanha que foi feita até agora.

O longa rodou festivais do mundo inteiro, ganhou diversos prêmios, e os atores ficaram nos Estados Unidos por cerca de dois meses, fazendo exibições, conversando com os membros da Academia, dando entrevistas, convencendo as pessoas a assistir à produção, que muitas vezes é a parte mais difícil, já que neste ano 323 filmes estavam inscritos na competição.

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É preciso reconhecer que um filme brasileiro nunca teve uma campanha tão intensa, no caso, bancada pela distribuidora Sony Classics, que comprou a ideia de que o drama brasileiro poderia chegar onde chegou. Não foi uma campanha gigantesca, isso é preciso destacar, já que, por exemplo, a Netflix gastou muito mais com "Emília Perez".

Favorita, só com a estatueta na mão

Até existe uma favorita, mas neste ano, dá para dizer que tudo pode acontecer. Hoje, as publicações especializadas colocam Demi Moore - por "A Substância" - como a grande favorita. Ela reforçou seu favoritismo graças ao discurso e à estatueta do Globo de Ouro como Melhor Atriz de Comédia ou Musical.

Podemos dizer também que, a partir daí, Fernanda Torres também despontou para conseguir essa vaga. Anteriormente, a liderança estava entre Mikey Madison - de "Anora" e Karla Sofía Gascón - de "Emilia Perez" - primeira atriz trans a ser indicada em 97 anos de premiação. Mas esse contexto mudou a partir do Globo de Ouro.

Fernanda Torres é a grande favorita das redes sociais, por exemplo. E essa força que os brasileiros estão dando, fazendo "bombar" tudo que aparece o nome dela, não pode ser descartada. Nenhuma estrela de Hollywood consegue tamanho engajamento.

Os meios de comunicação nos Estados Unidos descobriram isso, qualquer reportagem sobre o filme ou sobre a Fernanda é a receita do sucesso e, muitas vezes, as revistas postam duas, três vezes o mesmo conteúdo para ter uma ajuda no algoritmo. E isso dá força porque ela é vista, lembrada e desperta interesse. A curiosidade em torno dessa 'campeã de cliques' mobiliza o público, que se apaixona pela atriz e pelo cinema brasileiro, aumentando as chances de Fernanda Torres conquistar o Oscar.

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"Emilia Pérez" fazendo história

O principal concorrente de "Ainda Estou Aqui" na categoria de Filme Internacional é "Emília Perez", uma co-produção francesa, que obteve 13 indicações, um recorde para um filme falado em língua não-inglesa. Mas não dá para saber se vai ter fôlego para chegar ao final da corrida. Já vimos muitos casos de filmes que tiveram recordes de indicações e não levaram nada para casa.

"Emília Perez" já ganhou muitos prêmios da temporada, entre eles quatro Globos de Ouro, incluindo Melhor Comédia e Musical e Melhor Filme Internacional.

Mas, o filme, que se apoia em uma campanha gigantesca bancada pela Netflix, que quer a todo custo ter um Oscar de Melhor Filme na estante, também tem recebido muitas críticas nos últimos tempos, principalmente por parte dos mexicanos, já que o filme se passa no México e é dirigido por um diretor francês, Jacques Audiard. Muitas das críticas alegam que o musical sobre um narcotraficante que muda de gênero traz um estereótipo do México, e foi acusado de banalizar a violência relacionada às drogas. 

Uma petição no site Change.org que teve mais de 11.000 assinaturas, pediu que o filme fosse retirado de cartaz antes mesmo de seu lançamento mexicano, que aconteceu nessa quinta (23).

"O filme banaliza o problema dos desaparecidos no México. (...) É um desrespeito com todos os ativistas, mães em busca de ajuda e milhares de familiares de pessoas desaparecidas no México, que ultrapassam 120 mil pessoas??", argumenta o documento.

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As crescentes críticas podem alterar significativamente o cenário do Oscar. O filme 'O Brutalista', antes favorito na categoria principal, perdeu força nesta última semana após a revelação do uso de inteligência artificial para melhorar o sotaque húngaro dos atores.

Nas próximas semanas, especulações e notícias podem redesenhar completamente a competição e fortalecer. 'Ainda Estou Aqui'. Com três indicações, o filme mantém potencial para conquistar várias estatuetas.

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