Trump viaja à Califórnia em meio a ameaças ao governo local, pondo em risco a reconstrução de Los Angeles
Donald Trump cortará a verba federal para a reconstrução de Los Angeles, atingida pelos piores incêndios de sua história? Muitos se fazem esta pergunta na segunda maior cidade dos Estados Unidos, que o mandatário republicano visita nesta sexta-feira (24).
Na sexta-feira (24), Donald Trump viajou para a Califórnia, estado norte-americano que prometeu liderar uma resistência contra ele, enquanto a Casa Branca encena deportações de imigrantes ilegais. O governo dos EUA se gabou publicamente de ter lançado "a maior operação de deportação em massa da história".
A operação de comunicação da Casa Branca sobre imigração ocorre no momento em que Donald Trump deixa a Casa Branca nesta sexta-feira para sua primeira viagem à Carolina do Norte (sudeste) e à Califórnia (oeste), dois estados atingidos por desastres naturais que o líder republicano transformou em tema de intensa controvérsia.
Em outubro, em meio à campanha eleitoral presidencial, a Carolina do Norte foi atingida pelo furacão Helene, que causou 104 mortes. Trump criticou veementemente o gerenciamento de crise do presidente Joe Biden e da vice-presidente Kamala Harris, sua rival democrata que não teve sucesso na corrida à Casa Branca.
Na mira do bilionário de 78 anos: a FEMA, uma agência federal de resposta a desastres. A agência "será objeto de uma grande discussão em breve, porque eu prefiro que os estados (federais) cuidem de seus próprios problemas", disse o presidente norte-americano à Fox News.
Na mesma entrevista, ele também repetiu suas ameaças às autoridades californianas: "Acho que não devemos dar nada à Califórnia até que eles deixem a água fluir do norte para o sul" do estado para combater os incêndios em Los Angeles.
Declaradamente cético em relação ao clima, Trump disse várias vezes que a Califórnia está ficando sem água por causa das políticas ambientais dos democratas.
De acordo com a imprensa, o presidente será recebido ao descer do avião, como de costume, pelo governador do estado, Gavin Newsom.
Esse candidato do Partido Democrata é um dos alvos favoritos do republicano, que o chamou de "idiota" em sua entrevista à Fox News na quarta-feira.
O governador se posicionou como um dos grandes líderes da oposição a Donald Trump. Ele quer "defender a Constituição e manter o estado de direito".
A Califórnia, com suas políticas progressistas sobre moralidade e suas iniciativas para combater as mudanças climáticas, há muito tempo está na mira da extrema direita norte-americana, apoiadora massiva de Donald Trump.
Los Angeles devastada pelas chamas
Devastada pelas chamas, esta região na costa oeste dos Estados Unidos que até o momento registrou mais de 25 mortos, contava com a promessa do então presidente democrata Joe Biden de receber apoio financeiro de Washington para se reerguer.
Mas Trump, que retornou à Casa Branca na segunda-feira e enfrenta resistência política na Califórnia, acusa sem fundamentos o estado de administrar mal seus recursos hídricos a ponto de colocar em risco o combate aos incêndios.
A acusação, rejeitada por especialistas, é usada pelo republicano como uma arma retórica para condicionar a ajuda federal.
O republicano assinou um decreto que impede Washington de conceder ajuda financeira a cidades que se declaram "santuários" para imigrantes, como Los Angeles, governada pela prefeita democrata Karen Bass.
"Imediatamente"
Em meio ao tenso contexto, aqueles que perderam tudo nos incêndios florestais em Eaton e Palisades expressam incerteza quanto ao retorno de Trump à Casa Branca.
"Não consigo imaginar que o governo vá deixar tantas pessoas e comunidades destruídas sem ajudá-las", disse Sebastian Harrison, cuja casa em Malibu foi reduzida à cinzas.
Harrison, que não tinha seguro devido aos altos custos, vê uma eventual ajuda federal como a única alternativa para reconstruir sua casa. "Não se trata de uma declaração política, mas acho que Trump é um homem de ação que cuidará disso imediatamente", afirma.
As ruínas de milhares de estruturas no bairro luxuoso de Pacific Palisades e em Altadena, ao norte de Los Angeles, exigem enormes trabalhos de limpeza. A ajuda federal que Biden aprovou por 180 dias deve financiar esta operação.
Mas as autoridades locais temem que a verba não seja disponibilizada ou que seja necessário mais tempo.
Na semana passada, um político local afirmou, sob anonimato, que houve uma corrida nos bastidores para garantir que os fundos fossem transferidos antes da posse de Trump.
"Trump pode ver Altadena como um grupo de democratas sem importância, mas Pacific Palisades é outra história. É o primeiro lugar para onde ele e outros republicanos vão quando querem arrecadar dinheiro em Los Angeles", declarou.
"Incondicional"
O subúrbio da cidade abriga bairros luxuosos de celebridades, algumas das quais perderam suas mansões nos incêndios.
Entre elas, Mel Gibson, que foi nomeado por Trump para chefiar uma missão especial para "recuperar a era de ouro de Hollywood".
Sua visita a Los Angeles também poderia colocá-lo frente a frente com o governador da Califórnia, Gavin Newsom, um de seus alvos constantes, embora uma reunião não esteja na agenda até o momento.
Na semana passada, Newsom enviou uma carta a Mike Johnson, líder republicano na Câmara dos Deputados, para tratar do assunto. "Historicamente, a ajuda federal em tempos de desastre é dada de forma incondicional", disse ele na carta.
"Cálculos políticos ou divisões regionais não devem impedir os esforços de ajuda (...). Este princípio de unidade está no centro da resiliência de nossa nação", acrescentou.
A Procuradoria-geral da Califórnia espera que a ajuda federal chegue, mas, se necessário, o escritório afirmou à AFP que está pronto para ir aos tribunais.
"Estamos nos preparando para o governo Trump há meses e não hesitaremos em agir se acreditarmos que o presidente está violando a lei", disse a Procuradoria.
(Com AFP)
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