ONGs pedem que adoçante artificial seja proibido na Europa por risco de câncer

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A ONG Foodwatch e a associação francesa Liga contra o câncer se uniram em uma campanha contra o aspartame, pedido que o produto seja proibido na Europa. O adoçando artificial é acusado pelas organizações de representar um risco para o consumidor. Já a Associação Internacional de Adoçantes (ISA) diz que o aspartame é amplamente estudado e seguro.
O que aconteceu
A Foodwatch, Liga e o app de controle nutricional Yuka lançaram um abaixo-assinado conjunto para que o aspartame seja proibido. Em um comunicado, os idealizadores do projeto explicam que o objetivo da petição, que circulou em onze países europeus (Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Itália, Irlanda, Luxemburgo, Holanda, Espanha, Suíça e Reino Unido) é "pressionar as instituições europeias a proibir esse aditivo e pedir aos Estados-membros da União Europeia que tomem medidas preventivas".
De acordo com a Foodwatch, o aspartame está presente em mais de 6.000 produtos, incluindo os chamados produtos com baixo teor de gordura, como alguns refrigerantes sem açúcar, iogurtes 0% e gomas de mascar. O adoçante artificial é autorizado na França desde 1988 e há alguns anos suscita debates sobre seus potenciais riscos para a saúde.
Segundo Philippe Bergerot, presidente da Liga francesa contra o câncer, citado no comunicado, não há "nenhuma razão para permitir que as pessoas sejam expostas a um risco de câncer completamente evitável" e "pedimos aos nossos líderes que assumam suas responsabilidades e proíbam isso".
Em 2023, a Organização Mundial da Saúde chamou a atenção para os riscos potenciais do aspartame. Avaliações realizadas pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (International Agency for Research on Cancer - IARC) e pelo Comitê Conjunto de Especialistas em Aditivos Alimentares da Organização para Agricultura e Alimentação (Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives - JECFA) classificaram o adoçante como possivelmente carcinogênico para humanos. Outros estudos observaram o risco de diabetes e parto prematuro associado ao consumo de aspartame em excesso. No entanto, as pesquisas apontavam que os níveis de ingestão atual da substância (40 mg/kg de peso corporal) eram considerados aceitáveis.
Mas de acordo com um novo relatório da Foodwatch publicado nesta terça-feira, "quase três quartos dos estudos sobre o aspartame considerados confiáveis pela EFSA [a agência europeia de segurança alimentar] foram financiados ou influenciados pela indústria (alimentícia), o que questiona a credibilidade da avaliação de risco e, portanto, a aprovação do aspartame" pela instituição europeia.
No final de 2019, Foodwatch, a associação francesa Liga contra o câncer e o aplicativo Yuka já haviam lançado em conjunto uma campanha contra os sais de nitrito nos alimentos devido ao seu papel no desenvolvimento de determinados cânceres digestivos. A iniciativa teve efeitos concretos, já que determinados fabricantes chegaram a modificar suas receitas, diminuindo as doses desta substância.
Leia a nota da Associação Internacional de Adoçantes
"O aspartame é uma das substâncias mais estudadas cientificamente no mundo. Foi exaustivamente investigado e aprovado para uso global por várias entidades reguladoras. Autoridades de segurança alimentar, como o Comitê Conjunto de Peritos em Aditivos Alimentares (JECFA) da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), além da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), analisaram o composto e confirmaram a sua segurança. Em 2013, a EFSA reafirmou essa segurança após conduzir a avaliação de risco mais abrangente do aspartame até agora.
Em 2023, no contexto de uma avaliação detalhada que novamente confirmou a segurança do aspartame, o JECFA examinou também as conclusões do IARC (Agência Internacional para a Pesquisa do Cancro) e não identificou qualquer preocupação relevante para a saúde humana. Vale ressaltar que o IARC não é um órgão de segurança alimentar e não avalia níveis de exposição nem riscos reais, o que pode resultar em conclusões potencialmente confusas para o público. Para ilustrar, o IARC classifica o aspartame no mesmo grupo que o kimchi e outros vegetais em conserva, sem, no entanto, sugerir evitar o consumo desses alimentos.
O comunicado de imprensa da OMS de 2023 reforça essa perspectiva: "O JECFA também considerou as evidências sobre o risco de cancro em estudos com animais e humanos, concluindo que as evidências de uma associação entre o consumo de aspartame e o câncer em humanos não são convincentes."
Quando incluído como parte de uma dieta equilibrada e um estilo de vida saudável, o aspartame pode ser um aliado para a redução da ingestão de açúcar, contribuindo para o controle do peso, a gestão do diabetes e a promoção da saúde oral."
Aspartame adoça 200 vezes mais que o açúcar
O aspartame é um aditivo alimentar com as funções de edulcorante e de realçador de sabor. Ele possui poder adoçante 200 vezes maior do que o açúcar, o que permite que pequenas quantidades obtenham o mesmo efeito da sacarose.
Em um comunicado divulgado em 2023, a Agência brasileira de vigilância sanitária (Anvisa), que autoriza o uso de edulcorantes no Brasil, lembrou que é responsável no país pelas avaliações de segurança ligadas ao produto, baseada nas diretrizes da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e da OMS. "Até o momento, não há alteração do perfil de segurança para o consumo do aspartame, de modo que a Anvisa seguirá acompanhando atentamente os avanços da ciência a respeito do tema", informou na época a agência brasileira. "Além disso, é importante ter em conta que não há novas recomendações aprovadas pela OMS", insistiu.
(Com agências)
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