Emília Perez: apesar da polêmica, França ainda pode ganhar Oscar?
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O filme "Emília Perez", do diretor francês Jacques Audiard, passou, em apenas algumas semanas, de favorito nas premiações do cinema internacional a alvo de todas as críticas. Indicado em 13 categorias do Oscar, após uma série de polêmicas envolvendo sua atriz principal e acusado de apropriação cultural, o filme agora parece estar distante de levar alguma estatueta na cerimônia realizada em 2 de março.
Na França, o filme foi celebrado pela crítica em seu lançamento em Cannes - onde levou o prêmio do júri e de interpretação feminina coletiva - e depois, no final de janeiro, quando se impôs como o filme não falado em inglês com mais indicações ao Oscar na história da premiação. Os jornais franceses celebraram uma conquista histórica do musical de Audiard.
Mas nesta quarta-feira (5), a imprensa francesa se questiona se a atriz principal do longa, Karla Sofia Gascón, queimou realmente todas as chances da França nos Oscar.
A espanhola e primeira mulher trans a ser indicada a um Oscar de melhor atriz, multiplicou polêmicas, com direito a recuperação de antigos tuites racistas e islamofóbicos, e acabou sendo afastada da promoção do filme.
A Netflix, que investiu milhões de dólares na campanha de Emília Perez, de acordo com Hollywood Reporter, agora tenta preservar os outros indicados, como o cineasta Jacques Audiard e os músicos Camille e Clément Ducol, que concorrem nas categorias de "melhor diretor" e "melhor trilha sonora", respectivamente.
Mas Gascón não é a única a se envolver em polêmicas. O filme concentra críticas globais, que vão desde a escolha das atrizes, que não são mexicanas ou simplesmente não falam espanhol, como no caso de Selena Gomez, até a representação do México, carregada de estereótipos.
Na França, as associações de defesa da comunidade transgênero criticaram, assim como as americanas, o "cis gaze" - anglicismo que significa "olhar cis", usado para designar o ponto de vista normativo lançado por pessoas cisgênero sobre pessoas transgênero - que está particularmente presente no filme de Jacques Audiard. Morgann Gicquel, presidente da associação Espace santé trans, disse em entrevista à Franceinfo, que "a história parte de uma premissa bastante transfóbica".
O musical conta a história da transição de gênero de um traficante mexicano e, no processo, sua jornada de arrependimento. "A transição é usada como uma mola narrativa para uma mudança de personalidade. No entanto, não mudamos completamente ao fazer a transição, nos tornamos mais nós mesmos", diz Gicquel.
Esses erros ou preconceitos transfóbicos têm repercussões muito concretas na vida das pessoas envolvidas, ressalta o ator Jonas Bem Ahmed, da associação OUtrans, para quem a mensagem sombria do filme pode ser perigosa para uma comunidade já vítima de discriminação. "Devemos ter cuidado, nossas vidas dependem disso", insiste Jonas Ben Ahmed.
Apropriação cultural
O diretor também foi criticado por ter filmado na França, após procurar locações no México, dizendo primeiramente que preferia um estúdio para "se afastar da realidade", antes de alegar razões financeiras.
Para colocar mais lenha na fogueira, em novembro de 2024, uma entrevista com Audiard onde o cineasta explica que não estudou muito sobre o México para fazer o filme circulou nas redes sociais.
adding fuel to the fire, here's an interview for Jacques Audiard, director of EMILIA PÉREZ
? ana (@comingsofage) November 14, 2024
INTERVIEWER: How much did you have to study Mexico to be able to make this film?
AUDIARD: No, I didn't study much. I kinda already knew what I had to understand
Make of that want you will https://t.co/sWkF0KknXt pic.twitter.com/WiwYXkzuiE
As respostas de Jacques Audiard após a onda de críticas em torno do filme também parecem não satisfazer.
"Se os elementos de Emília parecerem chocantes, se eles chocaram os mexicanos, eu estaria pronto para pedir desculpas. Eu queria precisar que eu não tenho a intenção de dar respostas. O cinema não dá respostas; ele apenas questiona", disse em entrevista ao canal CNN em espanhol, sem realmente se desculpar.
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