EUA cortam ajuda financeira ao Haiti; ação de gangues se intensifica no país
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A decisão do governo dos Estados Unidos de congelar o financiamento da Missão Multinacional de Apoio à Segurança (MMAS) do Haiti, encarregada de ajudar a combater a ação de gangues armadas, provocou reações entre os cidadãos de Porto Príncipe e preocupação entre especialistas. O anúncio do chefe da Casa Branca deve desestabilizar ainda mais a situação no país, em um momento em que a violência aumenta, inclusive em cidades e bairros até então poupados.
Com informações de Peterson Luxama, correspondente da RFI em Porto Príncipe, e Mikaël Ponge, de Paris
Os Estados Unidos frearam a ajuda internacional para o Haiti ao anunciar a suspensão imediata do financiamento para a missão multinacional. Com US$ 15 milhões, o país era o segundo maior contribuinte para esse fundo, atrás apenas do Canadá.
Juntamente com esse fundo especial para financiar a MMAS, o governo norte-americano, sob o mandato de Joe Biden, colaborou com mais de US$ 300 milhões em equipamentos diretos para a MMAS, incluindo dezenas de veículos blindados. Dos US$ 15 milhões pagos por Washington, US$ 1,7 milhão já foi gasto, o que deixa pouco mais de US$ 13 milhões congelados.
De acordo com Diego Da Rin, representante do International Crisis Group especializado no Haiti, esse é um grande golpe para a MMAS. "A missão já estava meio devagar, com fundos insuficientes, que financiavam apenas um terço das forças que deveriam atuar no país. Os US$ 13 milhões não iriam salvar completamente a missão de seus problemas financeiros, mas permitiriam manter os contingentes que estão chegando no Haiti neste momento", explica.
Na terça-feira (4), um grupo de 70 militares de El Salvador desembarcaram no país para se juntas aos soldados da missão internacional já presente, composta por mais de 400 policiais, oriundos principalmente do Quênia e da Guatemala.
"Se nos próximos dois meses não houver novas contribuições financeiras, a missão poderá, no melhor dos casos, manter apenas alguns contingentes, que não conseguirão reagir à altura dos ataques das gangues. No pior dos casos, os membros dessa missão terão que voltar para seus países", detalhou o especialista em entrevista à RFI.
Haitianos temem impacto da decisão americana
O anúncio de Trump repercutiu nas ruas de Porto Príncipe. "Não acho que essa decisão será muito benéfica para nós, já que o país está enfrentando uma insegurança sem precedentes e nossas agências de aplicação da lei estão sobrecarregadas", comentou Séphora, uma estudante de psicologia. "É verdade que a missão não foi eficaz, mas uma decisão como essa corre o risco de desestabilizar ainda mais o país e fortalecer a confiança das gangues", afirma a moradora da capital.
Já o Jonathan Gédéon diz que não está surpreso. "Sabíamos que Donald Trump daria uma sacudida nas coisas. O resultado é que a força multinacional pode não ficar no Haiti pelo tempo que havíamos planejado", prevê.
Mas outros moradores lembram que, mesmo antes da retirada da ajuda norte-americana, a missão internacional já mostrava seus limites. "Não acredito que a força estava realmente resolvendo alguma coisa no país. Acho que a decisão de não financiar a missão multinacional foi a melhor que eles tomaram. Se eles querem ajudar o Haiti, têm que dar essa ajuda às forças armadas e à polícia nacional", sugere.
Violência aumenta em cidades até então poupadas
A violência se intensificou novamente na última semana, atingindo cidades até então poupadas, como a pacata Kenscoff. Apesar da presença das forças de ordem, as gangues multiplicam suas ações, obrigando as autoridades a fechar escolas e comércio. As ruas estão desertas e a população aterrorizada.
"As inúmeras intervenções policiais não impediram que os bandidos continuassem a espalhar o terror entre a população", contou à RFI o prefeito de Kenscoff, Jean Massillon. "Os crimes continuam e os bandidos estão cometendo atos cada vez mais graves: estão matando a população local, incendiando suas casas e saqueando tudo o que possuem", diz, afirmando ser impossível estimar o número de vítimas até agora. "Há muitos mortos e muitos desaparecidos. Algumas famílias estão começando a enterrar seus entes queridos. Eu mesmo vi vários cadáveres", relata. "A situação é revoltante", desabafa.
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