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Equador: Vitória de aliado de Trump vira incógnita após empate técnico no 1º turno

Imagem: Rodrigo Buendía e Marvin Recinos/AFP

Márcio Resende;

correspondente da RFI em Buenos Aires

10/02/2025 08h37

A reeleição do presidente Daniel Noboa, antes tida como provável, é agora uma incógnita. Após a apuração de 92% dos votos, Noboa ganhou o primeiro turno neste domingo (9) com 44,3% dos votos válidos, mas a diferença em relação à segunda colocada foi apenas de meio ponto. A candidata de esquerda, Luisa González, somou 43,8% dos votos. O segundo turno da eleição presidencial colombiana acontece no dia 13 de abril.

A reeleição do presidente Daniel Noboa, antes tida como provável, é agora uma incógnita. Após a apuração de 92% dos votos, o aliado de Donald Trump na direita ganhou o primeiro turno neste domingo (9) com 44,3% dos votos válidos, mas a diferença em relação à segunda colocada foi apenas de meio ponto. A candidata de esquerda, Luisa González, somou 43,8% dos votos. O segundo turno da eleição presidencial colombiana acontece no dia 13 de abril.

Apesar de ter ficado em segundo lugar, a candidata da oposição, Luisa González, do Revolução Cidadã, leva vantagem. A diferença mínima em relação a Noboa é vista como uma vitória e impulsiona sua candidatura. "Vencemos. Foi uma grande vitória", disse Luisa González ao agradecer os equatorianos.

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Este foi único discurso da noite. O atual presidente e candidato à reeleição, Daniel Noboa, do Ação Democrática Nacional, sentiu o golpe e preferiu o silêncio. A decepção foi tamanha que o presidente não apareceu em público e cancelou o discurso que daria aos militantes.

A vitória de Noboa deixou um sabor de derrota. As pesquisas de opinião apontavam para uma ampla vitóriado presidente, que tinha chances de vencer já no primeiro turno. Já Luisa González, segundo as pesquisas, teria sorte se obtivesse uma vaga no segundo turno.

Os 20% de indecisos e a diferença mínima entre os dois candidatos fizeram com que Luisa González superasse o seu próprio recorde na campanha de 2023, quando ficou com 33% dos votos. Esse, aliás, vinha sendo o recorde do chamado "correísmo", a corrente política do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017), da qual González faz parte.

Disputa polarizada

Dos 16 candidatos à Presidência, outros dois somaram mais de 2%, enquanto os outros 12 candidatos não chegaram nem a 1% dos votos. O primeiro turno teve cara de segundo em meio a uma disputa polarizada entre duas correntes: a nova direita de Noboa, um aliado de Donald Trump, e a esquerda de González, aliada do chavismo venezuelano. Essa polarização ficou também representada no Parlamento com as duas alas dividindo 85% dos legisladores.

Segundo analistas, esta é uma eleição a favor ou contra as políticas de Daniel Noboa de combate ao crime. Apesar dos extremos ideológicos, os dois candidatos são adeptos da 'linha-dura' em relação ao combate à violência, principal tema dos debates desta campanha.

"No Equador, não votamos por ideologias nem por princípios. Não temos partidos que expressem valores. Votamos por emoções. Votamos naquele candidato que cai bem. Rejeitamos aquele que gera medo. Isso nos impede de afirmar que os votos de determinado candidato passem a outro num segundo turno. Poderia acontecer, mas não necessariamente por ideologia", pondera a analista política Karen Sichel Arciniega.

"Teremos dois meses muito longos de campanha até o segundo turno. Teremos uma polarização no debate. Quem dolariza e quem desdolariza a economia. Quem defende a democracia e quem quer uma ditadura. Teremos Venezuela, mas também Estados Unidos no debate. E, claro, teremos o discurso 'linha-dura' porque usualmente termina sendo o que mais chama a atenção", conclui o analista Juan Rivadeneira.

Este é também um embate entre o anti-correísmo e o anti-noboísmo. Ou seja: a maior parte da sociedade não vota na expectativa de um governo melhor, mas no menos ruim, para impedir que o outro ganhe.

Daniel Noboa assumiu a Presidência em novembro de 2023 para um mandato tampão até o próximo mês de maio. Está no poder há 14 meses e concorre para um mandato completo de quatro anos. Noboa termina o mandato do ex-presidente Guillermo Lasso, que dissolveu o Parlamento para evitar uma destituição. A manobra implicava sacrificar o próprio cargo.

Crise de segurança e energética

Nestes 14 meses, Noboa enfrentou uma crise de segurança, com uma onda de crimes violentos, e uma crise energética, com uma série de apagões elétricos por mais de 14 horas durante três meses, afetando a vida cotidiana e a produção do país. Existe o risco de uma nova crise em abril, período de estiagem, que coincide com a data do segundo turno.

Os eleitores de Noboa defendem que o presidente herdou os problemas de violência e de crise hídrica, sem o devido tempo para colher resultados. O presidente, de apenas 37 anos, aplica uma política de linha-dura, com pouco apego constitucional, alegando que os fins de combate ao crime justificam os meios de desrespeito às instituições democráticas.

Para boa parte da sociedade, essas políticas criam uma sensação de segurança, mesmo sem resolver o problema. Segundo a consultora em Segurança Pública, Katherine Herrera, os eleitores interpretam as políticas de 'linha-dura' como a solução para a insegurança, mas a solução sustentável passa por uma política integral.

"A sociedade demanda 'linha-dura', mas isso não significa a solução. Tivemos 'linha-dura', 'estados de exceção', militares nas ruas, ações punitivas, mas as mortes violentas não terminaram. O que realmente existe é uma relação entre a 'linha-dura' e a percepção de segurança, mesmo que a realidade seja outra. O que se requer para uma solução é uma estratégia integral que proteja o cidadão, que envolva Inteligência e que fortaleça as instituições", aponta a especialista equatoriana.

Luisa Gonzáles, de 47 anos, dez a mais do que Noboa, tenta reerguer um partido cujo líder, o ex-presidente Rafael Correa, foi condenado por corrupção e vive exilado na Bélgica. Durante 18 anos, o Equador foi dividido entre a favor e contra Correa.

Agora, à medida que Daniel Noboa acumula poder, exerce de forma autoritária e se aproxima de Donald Trump, nasce uma nova divisão, a favor e contra Noboa. Esta é a última chance do "correísmo" voltar ao poder ou do "noboísmo" se consolidar no poder, fazendo o Equador entrar nesse movimento de extrema-direita.

Combate à violência

A principal demanda da sociedade equatoriana é o combate à violência. Até 2018, o Equador era um dos países mais pacíficos da região. Em 2023, passou a liderar o ranking de homicídios da América Latina.

Pouco depois de assumir, Daniel Noboa declarou o país em "conflito armado interno" para combater o crime organizado, incluindo decretos de "estado de exceção" para justificar a presença de militares nas ruas e nas prisões. No decreto, 22 organizações foram declaradas como "terroristas".

Noboa também fechou fronteiras terrestres e militarizou os portos. O próprio presidente apareceu com colete à prova de balas e capacete, no meio de operações militares.Os homicídios diminuíram 15% em 2024 em relação a 2023. No entanto, cada vez que os militares se afastam, os crimes voltam. Os resultados não são consistentes.

Por exemplo: em janeiro de 2024, morreram de forma violenta 487 pessoas. No mês passado, um ano depois, houve recorde histórico de crimes violentos: 723. Um aumento de 48,5%, equivalente a um crime violento por hora no país.O marketing da "linha-dura" levou a própria opositora Luisa González a defender a política do do Estado contra o crime organizado.

Apoio de outros candidatos

Outra estratégia para o segundo turno será seduzir os eleitores dos demais candidatos. O candidato de esquerda, Leonidas Iza, do movimento indígena, ficou com 5,2% dos votos e sua aliança é a mais cobiçada no segundo turno. Esse é um voto de esquerda que tenderia a ficar com Luisa González. Em quarto lugar, ficou Andrea González, com 2,7%, um voto que tende a ser contra Luisa González.

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