Encontro entre Macron e Modi demonstra interesse da França "em atuar como ponte entre o Norte e o Sul"

Em Marselha, no sul da França, o presidente francês Emmanuel Macron e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi demonstraram sua proximidade e a parceria entre seus países, nesta quarta-feira (12). De acordo com Paris, um símbolo da "independência" francesa em um momento de confronto entre os Estados Unidos e a China. Parcerias importantes, como novos projetos de cooperação franco-indiana no setor bélico, em portos, no setor de energia nuclear, não foram oficialmente debatidas. 

Depois de chegarem à segunda maior cidade da França na noite de terça-feira (11) e de um jantar tardio em um restaurante três estrelas em Cassis, perto de Marselha, na costa do Mediterrâneo, os dois estadistas visitaram os pontos turísticos em um ritmo lento na quarta-feira, sem falar com a imprensa ou anunciar novos projetos conjuntos. 

Após prestarem homenagem aos soldados indianos que morreram na França durante a Primeira Guerra Mundial, Macron e Modi inauguraram o Consulado Geral da Índia em Marselha e visitaram a sede da gigante global do transporte marítimo CMA CGM, no porto de Marselha.  

O encontro dos líderes também foi uma oportunidade para discutir o corredor Imec, um projeto de transporte marítimo e ferroviário que liga a Índia à Europa via Oriente Médio, que pretende ser uma alternativa à nova "Rota da Seda" da China. 

Em breves conversas informais, Emmanuel Macron disse a Modi que Marselha "pode claramente ser o ponto de entrada para o mercado europeu" dentro da estrutura do Imec, que ele descreveu, na terça-feira, como um "catalisador formidável" no encerramento de um fórum de negócios franco-indiano, prometendo "mobilizar projetos e investimentos concretos".  

Em seguida, as comitivas visitaram o monumental canteiro de obras do reator experimental de fusão nuclear Iter em Saint-Paul-lès-Durance, adjacente à usina nuclear de Cadarache da CEA, a 70 km de Marselha. Esse projeto internacional, que tem como objetivo revolucionar a produção de energia, envolve a França e a Índia, além de outros países, como a Rússia, a China e os Estados Unidos. "É um projeto único porque são países com tensões geopolíticas, mas aqui eles estão trabalhando juntos. É um modelo: aqui, os passaportes são deixados na recepção", disse à AFP o gerente geral do local, o italiano Pietro Barabaschi. 

Leia tambémCúpula sobre IA é oportunidade para Europa em meio à rivalidade entre EUA e China

Porém, embora o porta-voz do Palácio do Eliseu tenha mencionado possíveis novos projetos de cooperação franco-indiana em portos e no setor de energia nuclear, nenhum anúncio foi feito. Também não houve progresso nas negociações de vários bilhões de euros sobre a compra por Nova Délhi dos caças franceses Rafale para a Marinha e dos submarinos Scorpène. 

Interesses além da cooperação bilateral 

Na terça-feira, Narendra Modi garantiu que essa "parceria não se limita" às relações bilaterais. "Estamos trabalhando juntos para encontrar soluções para os desafios globais que enfrentamos" e 'para fortalecer nossa cooperação em todas as áreas', disse ele. 

Continua após a publicidade

Para um ex-ministro francês, foi uma "boa intuição" por parte de Emmanuel Macron, porque "Modi, à frente de uma potência emergente, encontrou uma posição de equilíbrio entre os americanos, os chineses e os russos". 

Bertrand Badie, professor da Sciences-Po, acredita que "há uma consistência retórica no desejo da França de atuar como uma ponte entre o Norte e o Sul". 

No entanto, o especialista em relações internacionais também adverte que, ao mostrar a sua proximidade com Nova Délhi, "Macron é forçado a ignorar as políticas domésticas" do primeiro-ministro hindu ultranacionalista, criticado por seus oponentes e ativistas de direitos humanos por excessos autocráticos. 

De Marselha, Narendra Modi voou para os Estados Unidos no início da tarde para se encontrar com o novo presidente americano Donald Trump.

(Com AFP)

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.