Russos desafiam regime e se reúnem no túmulo de Navalny para lembrar um ano da morte do rival de Putin
Um ano após a morte do inimigo número 1 do Kremlin, centenas de apoiadores do opositor russo Alexei Navalny se reúnem neste domingo (16) em torno de seu túmulo, em Moscou, para homenageá-lo. Outros eventos marcam a data fora da Rússia, onde opositores do regime correm o risco de sofrer represálias.
Uma multidão tomou o cemitério de Borisovskoye, em Moscou, neste domingo, para prestar homenagens e deixar flores no túmulo de Navalny. Muitas pessoas usam máscaras cirúrgicas, temendo serem identificadas e repreendidas pelas autoridades. O esquema de segurança é discreto e policiais à paisana vigiam o local.
Diplomatas ocidentais - entre representantes das embaixadas dos Estados Unidos, França, Espanha, Noruega e da União Europeia - também marcaram presença. No final desta manhã, o túmulo de Navalny estava coberto por uma montanha de flores, enquanto dezenas de pessoas continuavam a chegar ao cemitério.
Carismático opositor anticorrupção e inimigo número 1 do presidente russo, Vladimir Putin, Navalny morreu aos 47 anos, em 16 de fevereiro de 2024, em uma prisão na Sibéria. Ele cumpria uma pena de 19 anos no local por liderar uma organização que foi classificada pelo regime russo como "extremista". As circunstâncias de sua morte não foram esclarecidas até hoje.
Navalny foi preso em Moscou em janeiro de 2021 ao retornar da Alemanha, onde havia sido hospitalizado após ter sido envenenado na Sibéria. Ele atribuiu o envenenamento ao Kremlin, que sempre negou envolvimento no caso.
Eventos no mundo inteiro
Os apoiadores de Navalny, em exílio em diversas partes do mundo, anunciaram eventos para marcar a data em vários países. A viúva do opositor, Yulia Navalnaya, que vive na Alemanha, programou uma manifestação em Berlim, onde moram dezenas de membros da oposição russa.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, foi um dos primeiros líderes ocidentais a se manifestar sobre o aniversário da morte do militante russo. Na rede social X, ele escreveu que Navalny morreu por "ter lutado pela democracia e pela liberdade na Rússia". O líder alemão ainda publicou duras críticas contra Putin que, segundo ele, "luta brutalmente contra a liberdade e os seus defensores".
Alexei Navalny died one year ago today - because he fought for democracy and freedom in Russia. Putin brutally combats freedom and its defenders. Navalny's work was all the more brave. His courage made a difference and reaches far beyond his death. pic.twitter.com/QCSP8ZZEv4
? Bundeskanzler Olaf Scholz (@Bundeskanzler) February 16, 2025
As palavras de Scholz foram reforçadas pela chefe da diplomacia europeia, Kaja Kallas. Em comunicado, ela afirmou neste domingo que "Navalny deu sua vida por uma Rússia livre e democrática". A diplomata também fez um apelo para que Moscou "liberte imediatamente e sem condições os advogados do opositor e "todos os prisioneiros políticos".
Kallas se refere aos advogados Alexei Liptser, Igor Sergunin e Vadim Kobzev, que foram condenados em janeiro deste ano por "extremismo". Eles estavam presos desde outubro de 2023, acusados de participar da organização de Navalny, o Fundo Anticorrupção (FBK), no alvo da repressão do regime russo desde 2021.
Ameaças de repressão
No Telegram, apoiadores de Putin enviaram mensagens aos defensores de Navalny, ameaçando quem participasse das homenagens deste domingo. Uma postagem no canal afirma que "Big Brother e seu olho vigiam sempre", em referência ao livro "1984", de George Orwell, que conta a história de um regime totalitário fictício, que empreende um monitoramento de massa e uma violenta repressão das dissidências.
O Fundo Anticorrupção de Navalny foi desmantelado pelas autoridades russas, mas o movimento de oposição ao Kremlin continua atuando fora do país, sem grande sucesso. Em novembro de 2024, Yulia Navalnaya e dois opositores russos organizaram uma marcha em Berlim contra Putin e sua ofensiva na Ucrânia, reunindo apenas dois mil exilados no evento.
Sem Navalny ou outros opositores de peso, o movimento também tem dificuldades para propor uma linha concreta de luta no exterior. Enquanto isso, o Kremlin reforça sua repressão e segue detendo e punindo quem ousa se manifestar contra Putin e a guerra na Ucrânia.
(Com informações da AFP)
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