Morador de Gaza libertado por Israel afirma que teve que usar agasalho com estampa de estrela de Davi

A sexta troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos ocorreu no fim de semana. Desde o início, Israel acusou grupos armados palestinos de usar as entregas dos detidos para fazer propaganda. Mas, desta vez, são os agentes penitenciários israelenses que são acusados de práticas contestáveis. Segundo o depoimento de um palestino detido pelo Exército israelense, ele teria sido obrigado a usar um agasalho estampado com uma estrela de Davi.

Sami Boukhelifa, correspondente da RFI em Jerusalém

O testemunho do jovem palestino Bilal*, preso em Israel sem acusação ou julgamento, é raro. Ele acaba de ser solto após passar um ano em um centro de detenção do Exército israelense.  Originário de Jabaliya, no norte de Gaza, no início da guerra, ele fugiu com sua esposa e filhos para o sul, após uma ordem do Exército israelense, e foi para Khan Younis.  

"Fomos para um centro de recepção para pessoas deslocadas, em um hospital do Crescente Vermelho, mas o Exército também cercou Khan Younis. Depois de um tempo, eles disseram que estavam abrindo uma passagem humanitária segura, para que os civis pudessem sair. Então, mais uma vez, fomos forçados a sair. E quando deixamos o hospital, eles me disseram: "Ei, você aí de camiseta vermelha, vem aqui". O jovem palestino conta que foi preso na frente da esposa e dos filhos.

"Eles me colocaram de lado e me despiram. Fui preso, espancado, insultado, humilhado, fiquei encharcado pela chuva. Estava muito frio. Minhas mãos ficaram amarradas. Nos primeiros dois meses, também fiquei com os olhos vendados. Durante todo esse tempo, você tinha que se sentar de joelhos ou sobre as nádegas, das 5h às 23h, todos os dias. Este é um dos métodos de tortura."

"Fui detido sem acusação" 

Bilal* também diz que passou fome e ficou sem informações de sua família ou da Faixa de Gaza. Segundo ele, seu cotidiano foi pontuado pela humilhação e os castigos corporais, sem atendimento médico. "Todos nós pegamos sarna e outras doenças de pele", conta. 

"Eles me disseram que eu ficaria preso indefinidamente, e alegaram que eu era um perigo para o Estado de Israel. Fui detido sem acusação, em nenhum momento compareci diante de um juiz. Tentei argumentar, perguntei exatamente do que eu era acusado e perguntei se tinham alguma prova, mas eles obviamente não tinham nada", declara.

De acordo com o Comitê de Assuntos de Detidos Palestinos, "milhares de moradores de Gaza foram sequestrados depois de 7 de outubro pelo Exército israelense, para serem usados como moeda de troca para a libertação de reféns israelenses sequestrados pelo Hamas".

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* O nome foi trocado a pedido do entrevistado

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