Rússia e EUA se encontram para discutir guerra da Ucrânia sem europeus

O Kremlin confirmou na segunda-feira (17) o que toda a mídia russa vem falando há vários dias. Na terça-feira (18), delegações de alto nível de Washington e Moscou vão se reunir para "entre outras coisas", diz o Kremlin, falar sobre a situação na Ucrânia, que vive em guerra com a Rússia há quase três anos. Em outras palavras, eles vão discutir o maior conflito na Europa desde 1945. No entanto, a negociação não contará com a participação da Ucrânia ou de representantes europeus.
A reunião acontecerá em Riade, de acordo com o porta-voz do Kremlin, "porque Trump mencionou" e "convém à América e à Rússia". Ambos acreditam que divulgar o encontro como um espetáculo aumenta seu valor.
Moscou e Washington também querem mostrar que, para eles, os europeus não contam no cenário internacional. A diplomacia russa, no final da manhã, argumentou que os europeus, por meio de seu apoio à Ucrânia, não querem a paz. Isso seria suficiente para desqualificá-los para ocupar um assento nas negociações.
No papel, o encontro é levado muito a sério em Moscou, já que a Rússia enviou oficialmente dois negociadores: o chanceler Serguei Lavrov e o conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov. Ambos devem desembarcar em Riade nas próximas horas.
Fontes não oficiais na capital russa mencionam outra presença que é um sinal do interesse do governo, a de Sergei Naryshkin, o chefe do SVR, a inteligência estrangeira russa. Já Washington enviou seu secretário de Estado, Marco Rubio, que chegou nesta segunda-feira à Arábia Saudita.
Na mesa de discussões está a restauração do funcionamento normal dos canais diplomáticos oficiais entre Moscou e Washington, com um possível compromisso de acabar com as expulsões cruzadas e talvez a reabertura de consulados, por exemplo, o russo em São Francisco e o americano em São Petersburgo.
Discussões em estágio muito avançado
As negociações sobre a Ucrânia estariam em um estágio muito avançado, a ponto de o porta-voz do Kremlin mencionar pela primeira vez, mas de maneira alusiva, na manhã desta segunda-feira, um possível retorno de marcas ocidentais à Rússia, o que representaria um alívio de sanções. Por sua vez, até o momento a Rússia não fez nenhuma concessão sobre a Ucrânia.
As relações entre Estados Unidos e Rússia estão praticamente congeladas há quase três anos. O encontro acontecerá poucos dias antes do aniversário de três anos da invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, e foi organizado após uma conversa telefônica do presidente americano com o chefe de Estado russo na semana passada.
O conflito na Ucrânia, no entanto, será apenas um dos vários tópicos da agenda da reunião em Riade, para a qual não foram convidados representantes da Ucrânia, nem das potências europeias.
Os Estados Unidos não veem a reunião de terça-feira como o início de uma "negociação" sobre a Ucrânia, mas sim como uma continuação da conversa telefônica entre Putin e Trump, disse o Departamento de Estado dos EUA nesta segunda-feira.
Segundo o porta-voz da presidência russa Dmitry Peskov, a reunião "será dedicada principalmente a restabelecer o conjunto das relações russo-americanas".
"Também será dedicada à preparação de possíveis negociações sobre uma resolução ucraniana e à organização de um encontro entre os dois presidentes", Putin e Trump, acrescentou o representante de Moscou.
O Oriente Médio também pode ser mencionado nas conversas, acrescentou Peskov. A Rússia, que rivaliza com os Estados Unidos na região, observou os fracassos de vários aliados, incluindo o Irã e Bashar al-Assad na Síria, nos últimos meses.
"Putin e Trump concordaram sobre a necessidade de deixar para trás relações absolutamente anormais. Os presidentes decidiram que o diálogo deveria ser retomado", explicou Lavrov.
Ao mesmo tempo, Volodymyr Zelensky, viajará na quarta-feira (19) para a Arábia Saudita, anunciou seu porta-voz. Segundo o presidente ucraniano, citado pela agência Interfax-Ukraine, seu governo não foi informado oficialmente sobre a reunião em Riade entre Rússia e Estados Unidos. Ele advertiu que a Ucrânia "não reconhecerá" nenhum acordo sobre seu futuro que seja negociado sem a sua participação.
Além disso, fez um apelo aos europeus por uma "ação" para evitar um acordo forjado por Washington "pelas costas" da Ucrânia e da Europa, e propôs a criação das "Forças Armadas da Europa".
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