Mulher de Macron mudou de sexo? Série causa escândalo na França com fake news

"Tornando-se Brigitte": esse é o nome de uma série de "reportagens" publicada no YouTube que vem dando o que falar na França. Na controversa produção, a ultraconservadora influenciadora americana Candance Owens propõe fazer revelações sobre a vida da primeira-dama francesa, entre as quais, uma suposta mudança de sexo.
"Como os franceses estão permitindo que isso aconteça?", pergunta a influenciadora na abertura do primeiro episódio de "Becoming Brigitte", título original. Segundo ela, Brigitte e Macron "não se comportam como um verdadeiro casal que nada tem a esconder" por diversas razões. A principal delas é que, segundo essa comentarista política - fã de Donald Trump e defensora da teorias da conspiração - a primeira-dama se chamaria, na verdade, Jean-Michel Trogneux.
Em cerca de cinco horas de um duvidoso "documentário", Owens apresenta uma série de informações falsas e manipuladoras que fizeram reagir até mesmo o Palácio do Eliseu, que desmente as informações veiculadas na série. "Por que eles não dizem a verdade no lugar de dizer que o que eu falo está longe da verdade?", questiona a comentarista, ao exibir uma carta que recebeu da sede da presidência francesa, classificada pela influenciadora como "uma ameaça".
Entre as provas exibidas pela autora de "Tornando-se Brigitte", está a tecnologia de reconhecimento facial Face++ que aponta que o rosto da primeira-dama se assemelha em 72% a de seu irmão, o verdadeiro Jean-Michel Trogneux. Candace conclui então que Brigitte Macron é, na verdade, seu próprio irmão.
Ao mesmo tempo, no segundo episódio da série, a influenciadora mostra uma foto da família Trogneux, nos anos 1950. Brigitte, bebê, aparece no colo da mãe. No entanto, Candance acredita que a criança não se parece fisicamente com a primeira-dama, e sugere que alguma fatalidade ter acontecido com a bebê, e que seu irmão, Jean-Michel, teria sido obrigado a assumir sua identidade.
O irmão de Brigitte, portanto, existe e foi inclusive fotografado ao lado da primeira-dama em diversas ocasiões, como na posse de Macron, em 2017. Ele também depôs, ao lado da irmã, em um processo de difamação aberto contra duas mulheres que divulgavam a mesma falsa notícia.
Acusações de satanismo e pedofilia
Owens ainda recorre a outras acusações contra o casal Macron, segundo as quais eles fariam parte de um clube satanista e estariam ligados a uma rede de pedofilia. A comentarista ultraconservadora relembra a história do casal que se conheceu quando o presidente tinha apenas 15 anos, e estudava no liceu jesuíta La Providence, em Amiens, no norte. Na época, aos 39, Brigitte era professora de francês na mesma instituição e dirigiu uma peça de teatro em que Macron interpretava um papel.
A história é conhecida na França e objeto de um outro documentário, de Pierre Hurel. Em entrevista ao cineasta, Brigitte testemunha sobre o encontro e a "presença inacreditável no palco" do aluno que a encantou. Em seu livro, "Revolução", publicado em 2016, o então candidato à presidência Emmanuel Macron, relembra o início da precoce relação, afirmando que aluno e professora se tornaram "inseparáveis, apesar dos ventos contrários".
Mas, para Owens, a questionável relação não é o verdadeiro problema. Segundo a influenciadora, a gravidade do namoro que o casal assume quando Macron completa 18 anos, seria que Brigitte não era suficientemente bonita para suscitar o interesse de um adolescente.
Outras acusações contestáveis emergem das "investigações" da comentarista americana, como o fato de que a escolha do diretor de teatro Thomas Jolly para a concepção da abertura dos Jogos Olímpicos de Paris tenha sido feita pelo casal Macron. O objetivo, segundo ela, seria realizar o polêmico quadro do evento com drag queens, que chocou conservadores na época, para agradar um suposto culto satânico ao qual a primeira-dama e o presidente pertenceriam.
Na série, Brigitte também é acusada de querer substituir a flecha da Catedral Notre Dame por uma escultura de um pênis ereto. Além disso, Owens aponta que no primeiro retrato oficial de Macron, em 2017, é possível ver "Os Frutos da Terra", um livro de André Gide. Em suas obras, publicadas no início do século passado, o autor descreve relações sexuais com menores - uma prova da "perversão" do presidente francês, segundo a americana.
Falta de provas
A série tem forte repercussão na França e surpreende não apenas pelo teor fantasioso das informações, mas também pela falta de provas. "Insinuações enganadoras" e "afirmações infundadas", diz o canal TF1. "Pseudo-investigação", classifica a emissora France Info. Já o jornal Le Parisien publica um perfil da influenciadora "antiprogressista, pró-Trump e adepta das teorias da conspiração" que, segundo o diário "alimenta fake news sobre Brigitte Macron".
Ainda que alguns episódios da série de Owens tenham atraído quatro milhões de visualizações no início deste mês, a cansativa sequência de especulações perdeu cerca de três milhões de espectadores até o encerramento da produção. No último capítulo do documentário, divulgado na terça-feira (18), a influenciadora ainda afirma que a carta que recebeu do Palácio do Eliseu tinha o objetivo de impedi-la de veicular seu trabalho, o que não ocorreu.
"Acredito na liberdade da palavra, acredito na informação e acredito que o que está acontecendo na França é uma malvadeza", finaliza a comentarista destacando a necessidade de fazer frente ao "totalitário" governo Macron.
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