Europeus temem mais 3ª Guerra Mundial desde discussão entre Trump e Zelensky

O medo de uma Terceira Guerra Mundial nunca foi tão forte na Europa. Com a volta ao poder do presidente americano, Donald Trump, e a aproximação entre os Estados Unidos e a Rússia, pesquisas mostram que a possibilidade que o conflito na Ucrânia se estenda a outros países da Europa assombra o cotidiano dos europeus.

O temor de uma guerra em escala europeia ou mundial se intensificou nos últimos dias, principalmente após o constrangedor encontro entre Trump, seu vice, JD Vance, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, em Washington, em 28 de fevereiro.

A confirmação de que o líder republicano cumprirá suas promessas de campanha, interrompendo o apoio à Kiev, e consequente e rápida movimentação de líderes para discutir o rearmamento das nações mostraram a urgência da situação.

O discurso do presidente francês, Emmanuel Macron, na quarta-feira, e a cúpula da União Europeia na quinta-feira, contribuíram com a tomada de consciência sobre a escalada de tensão. O temor da guerra estampou capas de jornais e foi tema de reportagens nas rádios e TVs da França durante a semana.

83% dos franceses preocupados com a guerra

Várias pesquisas divulgadas no início de março mostram o aumento da preocupação dos franceses com o conflito na Ucrânia. É o caso de uma sondagem do Ifop Fiducial, divulgada na quinta-feira, que analisa a evolução deste sentimento.

Em março de 2022 - poucos dias após o início da invasão russa — 92% dos franceses se declaravam preocupados com a guerra. Essa apreensão caiu para 75% em maio de 2023 e voltou a subir para 83% neste mês.

Outra pesquisa, do instituto Elabe, divulgada nesta semana, mostra que 76% dos franceses pensam que a guerra vai se estender a outros países vizinhos da Ucrânia e 64% acreditam que o conflito pode chegar na França.

Esse mesmo estudo mostra a oposição da população francesa no envolvimento direto no conflito: 68% das pessoas entrevistadas são contra o envio de soldados do país para combater na Ucrânia. Além disso, 73% acreditam que os Estados Unidos não são mais um país aliado.

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Um levantamento do instituto YouGov divulgado na quinta-feira aponta que britânicos, alemães, espanhóis, franceses e italianos veem Trump como uma grande ameaça à paz e à segurança na Europa.

A população portuguesa também está apreensiva com a volta de Trump ao poder, segundo uma pesquisa divulgada em janeiro. O balanço indica que o maior medo em Portugal neste início de ano é de uma Terceira Guerra Mundial, um sentimento diretamente relacionado com o retorno do líder republicano à Casa Branca.

Discurso marcial de Macron

5.dez.2024 - O presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma transmissão televisionada do Palácio do Eliseu
5.dez.2024 - O presidente francês, Emmanuel Macron, durante uma transmissão televisionada do Palácio do Eliseu Imagem: LUDOVIC MARIN/AFP

Na noite de quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, fez um pronunciamento de pouco mais de 13 minutos em cadeia nacional de rádio e TV adotando um tom marcial e referindo-se diretamente à "ameaça russa" à Europa.

Em um tom grave, o líder centrista afirmou que a Europa está entrando em "uma nova era". Segundo ele, a preocupação da população com o aumento das tensões é "legítima". "Se um país pode invadir impunemente seu vizinho na Europa, ninguém mais tem certeza de nada", disse.

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No discurso que alcançou quase 72% da audiência na TV francesa, Macron também expressou sua vontade de lançar um "debate estratégico" sobre a dissuasão nuclear. Além disso, o líder centrista apelou ao patriotismo da população.

"O país precisa de vocês, do engajamento de vocês", afirmou. No entanto, Macron defende, por enquanto, uma mobilização de forças europeias após a assinatura de um acordo de paz entre a Ucrânia e a Rússia , para garantir o respeito do eventual compromisso.

Convocação "acordou" a juventude, diz jornal

O jornal Le Parisien desta sexta-feira traz em sua reportagem de capa a preocupação dos jovens franceses com a possibilidade de uma extensão da guerra à França.

O diário nota que, ao "mencionar abertamente" a "ameaça russa" e dizer que "a França precisa de vocês", Macron sinalizou que a possibilidade de um confronto armado com Moscou "não é mais abstrata". Le Parisien ouviu jovens pelo país que explicam observar os acontecimentos "ora com ansiedade, ora na negação".

O medo do futuro aumenta uma angústia que já vinha se acentuando nos últimos anos, com a pandemia de Covid, a emergência climática - que leva muitos a não querer mais ter filhos - e as guerras na Ucrânia e em Gaza. Alguns têm tido pesadelos recorrentes com as notícias e a ideia de Paris ser bombardeada, e já planejam onde poderão se refugiar no caso de uma guerra - para a vizinha Bélgica ou a distante Austrália, por exemplo.

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Outros, ao contrário, dizem estar prontos para se engajar, como uma estudante de Ciências Políticas de 20 anos que fez serviço militar aos 18. "Sou uma reservista e nos deixaram claro que isso significa que um dia eu poderia ir para o front militar", afirmou ela, ao diário.

O Ministério da Defesa se mostra otimista quanto ao patriotismo dos jovens franceses. Em 2015, ano da série de atentados terroristas contra o jornal Charlie Hebdo e o Bataclan, o país teve 50 mil alistamentos a mais nas Forças Armadas. O ano passado também foi favorável: após vários anos de queda, em 2024 o número de candidatos atingiu a meta, de cerca de 27 mil alistamentos.

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