Comunidade cristã da Síria está preocupada após violência visando minoria religiosa alauíta

A violência visando alauítas nas cidades costeiras da Síria aumentaram os temores entre as minorias religiosas do país, que temem ser alvo de ataques semelhantes no futuro. Em Damasco, a comunidade cristã está preocupada e não esconde seu receio de que a situação se deteriore.

Com informações de Mohamed Errami, correspondente da RFI em Damasco

Na quinta-feira (6), a Síria foi palco de confrontos entre as forças de segurança das novas autoridades e grupos aliados, de um lado, e homens armados leais a Bashar al-Assad do outro. Estima-se que mais de mil civis morreram nesta área onde vive uma significativa comunidade alauíta, a minoria muçulmana à qual pertence o ex-presidente, suscitando o temor de uma possível perseguição religiosa no país.

A Síria é composta por uma maioria de muçulmanos sunitas (74%), enquanto o restante da população é dividido entre muçulmanos alauítas (mais de 10%), drusos, curdos e cristãos. E desde que chegou ao poder após derrubar o regime de Assad em dezembro passado, o novo governo comprometeu-se a proteger as minorias étnicas e religiosas.

No entanto, as tensões registradas no vilarejo de maioria alauíta na província de Latakia alertam para um contexto complexo. O episódio de violência, o pior desde que uma coalizão liderada pelo grupo radical islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS) chegou ao poder em 8 de dezembro, ameaça a estabilidade do país, onde o presidente interino, Ahmad al-Chareh, está tentando estabelecer sua autoridade após 13 anos de guerra civil sob o comando de Assad.

Do lado das minorias, o temor é que o novo governo adote um endurecimento religioso, como resume Yahya Shaqrac, um jovem cristão. Em entrevista à RFI, ele lembra que, no passado, alguns dos membros do atual governo faziam parte de grupos extremistas, como o Estado Islâmico, a al-Qaeda e a Frente al-Nosra.

"Por que toda essa matança e essas lutas? Na verdade, não entendemos o está acontecendo", desabafa. "Os combatentes do governo devem ser racionais e preservar a vida das minorias, bem como a vida de seus filhos e suas propriedades, porque o sectarismo não beneficiará ninguém", pede o jovem.

"As áreas visadas foram as dos alauítas e dos cristãos", confirmou o patriarca Ortodoxo Jean X. "Muitos cristãos inocentes também foram mortos", enfatizou.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma entidade sediada no Reino Unido, confirmou que, desde o início das tensões na semana passada, pelo menos 1.093 civis foram mortos, a grande maioria deles alauítas, nas mãos das "forças de segurança e grupos afiliados", principalmente nas províncias de Latakia e Tartous. Nenhum balanço com o número de cristãos mortos foi divulgado, mas as agências de notícias contabilizam pelo menos sete vítimas fatais dessa minoria religiosa.

Continua após a publicidade

Uma comissão de inquérito mandatada pela presidência da Síria para investigar a violência no oeste do país. "A Nova Síria está determinada a garantir a justiça, defender o estado de direito, proteger os direitos e as liberdades de seus cidadãos, impedir qualquer represália extrajudicial e garantir a ausência de impunidade", disse nesta terça-feira (11) o porta-voz da comissão de inquérito, Yasser al-Farhane, em uma coletiva de imprensa em Damasco.

Proteção das minorias é essencial para reconhecimento do novo governo

De acordo com o analista político Samir Taqi, a proteção das minorias e sua inclusão no governo são essenciais para que o novo sistema sírio obtenha reconhecimento internacional, já que os países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, estão exigindo que o regime adquira legitimidade interna, antes de conquistar uma legitimidade externa.

"A mensagem do Ocidente foi clara e ligada à questão interna da Síria", aponta. "A ênfase está na legitimidade interna em vez da legitimidade externa. A legitimidade interna significa claramente que a nova administração deve incluir todos os componentes do povo sírio e gerenciá-los adequadamente", avalia Samir Taqi.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.