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Brasil negocia tarifas com EUA e busca parceiros alternativos

14/03/2025 10h05

Enquanto negocia com os EUA uma saída contra o tarifaço do Republicano Donald Trump, o governo brasileiro quer, mais do que nunca, parceiros alternativos aos mercados tradicionais. Em duas semanas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva inaugura sua estratégia de abrir novas frentes econômicas em um contexto de restrições e aumento do protecionismo. Os destinos são Japão e Vietnã, onde desembarca com assessores e empresários para duas visitas de Estado. 

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Brasília

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A ideia é mostrar que o país está em busca de novos parceiros econômicos e comerciais em um período de mais protecionismo e incertezas provocadas justamente pelos anúncios quase que diários de novas tarifas e restrições promovidos pelos EUA. Mas não é só isso. O governo brasileiro quer mostrar que a Ásia é uma rota importante e que ela é maior do que a China. Isso é um recado para os chineses inclusive, como admitem diplomatas.

As duas viagens têm grande potencial comercial. No Japão, por exemplo, está em jogo a abertura do mercado para carnes bovinas brasileiras, uma prioridade do presidente Lula. As negociações estão em curso e existe a expectativa de que se anunciem os primeiros carregamentos nesta viagem.

Lula será recebido no Palácio Imperial pelo imperador Naruhito, deferência que concede apenas uma vez por ano a chefes de Estado. O brasileiro será o primeiro desde a Covid-19. Representantes de empresas brasileiras, entre elas a JBS, uma das maiores produtoras de carnes do país, participam de fórum na capital japonesa.

O comércio do Brasil com o Japão, país de 120 milhões de habitantes e com enorme comunidade brasileira esta em torno ele US$ 11 bilhões a US$ 12 bilhões por ano. Já foi de US$ 20 bilhões no passado. Lula estará em Tóquio nos dias 25 e 26/03.

O Vietnã é outro país asiático importante. Além de emergente, é também integrante da ASEAN, a associação dos países do sudeste asiático, de quem o Brasil também pretende se aproximar. Existe a perspectiva de que Lula seja convidado a participar da cúpula da ASEAN este ano.

O comércio bilateral com o Vietnã anual é de cerca de US$ 8 bilhões. Parece pouco, mas é maior do que o fluxo que tem com alguns países europeus  Lula já havia sido o primeiro presidente brasileiro a ir ao país em 2007.

A ideia é consolidar as relações. O Vietnã importa do Brasil commodities como soja, milho e algodão, enquanto exporta produtos eletroeletrônicos, pneus, roupas e calçados. Ele estará em Hanói, no Vietnã entre os dias 27 e 28/03.

Esta é a estratégia de diversificar seus mercados, algo que outros países têm feito diante dos avanços de Trump. Mas neste momento, o Brasil ainda negocia com os EUA uma saída para as tarifas de 25% que os passaram a cobrar das importações de aço e alumínio, medida que passou a valer na última quarta-feira e tem como alvo todos os países que vendem esses produtos ao mercado americano.

O Brasil é o seu segundo maior fornecedor e exporta cerca de US$ 3 bilhões por ano. Na semana passada, ficou acertada em reunião entre o vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, e o secretário de Comércio americano, Howard Lutnick, que seria criado um grupo de trabalho em nível técnico para discutir a relação.

A primeira reunião virtual deve acontecer nesta sexta-feira. As informações estão na mesa. E a ideia é tentar negociar a suspensão dessas tarifas ou a criação de um regime de cotas, como havia até a semana passada. Ou seja, até um certo número de embarques não incidiria tarifa.

Indústrias complementares

O Brasil quer convencer os americanos, com certa razão, de que as indústrias dos dois lados são muito complementares. O aço brasileiro é essencial para a indústria siderúrgica americana. Mas tudo isso vai ser negociado. O Brasil quer esgotar o canal técnico antes de pensar em retaliar os EUA.

Até porque não se trata apenas de tarifas sobre aço e alumínio. Em breve, Trump deve anunciar o que chamou de plano de reciprocidade tarifária. Vai punir os países que cobram altas taxas dos EUA. No caso brasileiro, ele deu o exemplo do etanol. A  taxa americana para o etanol brasileiro é de 2,5%. No lado oposto, é de 18%.

Se o resultado das negociações não for satisfatório, não está descartado o anúncio de retaliações. Mas antes disso, o governo brasileiro quer se certificar de que tentou o caminho técnico. E não é só isso: vai se sentar com setor produtivo para ouvi-lo. Não quer anunciar medidas de reciprocidade que sejam tiros que saiam pela culatra e prejudique as empresas brasileiras. A União Europeia (UE) tentou negociar e acabou anunciado essa semana retaliações que devem punir a indústria americana em 26 bilhões e euros.


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