Gérard Depardieu, ícone do cinema francês, é julgado por agressão sexual em Paris
O ator francês Gérard Depardieu, acusado de agressão sexual contra duas mulheres durante as filmagens de um longa-metragem em 2021, está sendo julgado nesta segunda-feira (24) em Paris. Ele entrou na sala de audiência pouco depois das 13h (8h em Brasília) e não fez declarações. Depardieu foi, durante várias décadas, considerado um ícone do cinema francês, antes de ser alvo de várias acusações de violência sexual.
O ator não tinha comparecido à primeira audiência sobre o caso em outubro. Seu advogado, Jérémie Asvos, alegou que ele havia sido submetido a uma operação de ponte de safena e teve uma descompensação do diabetes, provocada pelo estresse do próximo julgamento.
Relacionadas
Segundo Asvos, uma perícia médica estabeleceu que a audiência não deve ultrapassar seis horas. De acordo com Carine Durrieu-Diebolt, advogada de uma das vítimas, o perito constatou "o bom estado de saúde do réu em termos de coração e diabetes".
O ator já foi investigado por estupro e foi alvo de várias denúncias de violência sexual. No julgamento que tem início nesta segunda-feira, uma cenógrafa e uma assistente de direção do filme "Les Volets Verts", de Jean Becker, lançado em 2022, acusam o ator de agressão sexual, assédio e insultos sexistas durante as filmagens. Detalhes sobre as identidades das supostas vítimas não foram reveladas.
"Meu cliente quer contar a verdade porque é vítima de falsas acusações", disse o advogado do ator. Assous garantiu à rádio RMC na manhã desta segunda-feira (24) que testemunhas confirmaram que os abusos não eram possíveis, porque "eles teriam visto".
Claude Vincent, advogado de uma das supostas vítimas, disse que ela aguarda o julgamento "há muito tempo", entre "o medo da forma como audiência vai se desenrolar" e a "vontade de prestar depoimento".
Denúncia Mediapart
Em sua denúncia apresentada em fevereiro de 2024, uma delas relatou fatos que datam de setembro de 2021, que teriam ocorrido durante as filmagens em uma mansão particular em Paris.
Em seu relato ao site investigativo Mediapart, a cenógrafa explicou que Gérard Depardieu gritou de repente, durante uma conversa, que queria um "ventilador" porque "não conseguia mais ter uma ereção com esse calor". Ele então garantiu que podia fazer as mulheres atingir o orgasmo sem encostar nelas.
Uma hora depois, ele teria "agarrado uma delas brutalmente" e "a bloquedo, fechando as pernas sobre (ela) como um caranguejo", antes de apertar "sua cintura, sua barriga e seios". O ator também teria feito outros "comentários obscenos", disse.
Assistente de direção no mesmo filme, Sarah acusa Gérard Depardieu de ter tocado seu "peito e nádegas" duas vezes em agosto de 2021, segundo Mediapart. As duas mulheres dizem que estão ansiosas pelo julgamento, mas temem "a maneira como o ator vai lidar com as partes civis na audiência", disse Claude Vincent, advogado de Sarah.
Carta aberta
Em outubro, o adiamento do julgamento foi decidido após alegações polêmicas do advogado de defesa, que denunciou uma investigação "fracassada", que incriminava o ator com base no que foi divulgado pela imprensa.
Gérard Depardieu foi acusado de ter um comportamento similar com cerca de vinte mulheres, mas vários processos foram encerrados sem julgamento.
A atriz francesa Charlotte Arnould foi a primeira a registrar uma queixa em 2018. Em agosto ano passado, o Ministério Público de Paris solicitou um julgamento por estupro e agressão sexual contra o ator, que ainda está em andamento.
"Nunca, nunca abusei de uma mulher", disse Depardieu em uma carta aberta publicada no jornal Le Figaro em outubro de 2023.
Dois meses depois, o presidente francês Emmanuel Macron chocou as associações feministas ao elogiar um "grande ator" que "deixa a França orgulhosa" e denunciar "perseguição".
Lançado em 2017 para denunciar o comportamento do produtor americano Harvey Weinstein, o movimento #MeToo também se popularizou na França. Vários grandes nomes foram acusados de violência sexual, como os diretores franceses Jacques Doillon e Benoît Jacquot.
Com informações da AFP