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Em Tóquio, Lula defende acordo Japão-Mercosul contra protecionismo de Trump

26/03/2025 07h18

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a Tóquio, defendeu nesta quarta-feira (26) o interesse em uma "parceria" entre o Japão e o bloco comercial sul-americano Mercosul, para conter o avanço do protecionismo dos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump. "Estou convencido de que devemos avançar na assinatura de um acordo", declarou Lula no 3° dia de sua visita ao arquipélago. 

A parte essencial da viagem do presidente brasileiro se concentra nesta quarta-feira, com sua participação em um fórum econômico e na reunião com o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba. Acompanhado por uma delegação de quase 100 empresários, Lula pretende reforçar as relações comerciais com o Japão, buscando alternativas às tarifas norte-americanas e evitar uma dependência excessiva da China.

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Os dois líderes também devem discutir nesta quarta-feira o desenvolvimento conjunto de biocombustíveis antes da COP30 sobre o clima, que será realizada em novembro na Amazônia brasileira.

"Nossos países têm mais a ganhar com a integração (dentro de alianças comerciais transnacionais) do que com o protecionismo", afirmou Lula durante um fórum que reuniu lideranças econômicas e políticas brasileiras e japonesas.

O presidente brasileiro citou como desafio inverter o declínio das relações comerciais observado entre os dois países: "Nosso comércio bilateral diminuiu nos últimos anos. Caiu de US$ 17 bilhões, em 2011, para US$ 11 bilhões em 2024. Algo não andou bem na nossa relação e é preciso aprimorá-la", afirmou Lula. 

É provável que ao final da reunião, em uma declaração conjunta, Brasil e Japão reafirmem seu compromisso com o livre comércio diante da ofensiva alfandegária lançada pelo americano Donald Trump. "Não podemos retornar ao protecionismo. Não queremos uma segunda Guerra Fria", insistiu o presidente brasileiro. "Queremos o livre comércio para garantir o estabelecimento da democracia, o crescimento econômico e a distribuição da riqueza", frisou Lula em Tóquio

Empresários japoneses querem acelerar acordo

A influente organização patronal japonesa Keidanren pediu "com urgência", em novembro, para "acelerar os esforços" em direção a um acordo de parceria econômica (APE) Japão-Mercosul, este último sendo amplamente semelhante a um acordo de livre-comércio.

"Os benefícios que um acordo Japão-Mercosul traria para ambas as partes são imensos", declarou a Keidanren, destacando a grande população (300 milhões de habitantes) do bloco sul-americano, e sua força econômica.

No entanto, assim como nas negociações de um acordo de livre comércio do Mercosul com a União Europeia, a agricultura pode ser um ponto de discórdia - com o temor de um impacto significativo para os agricultores japoneses em caso de importações agrícolas massivas do Brasil e da Argentina.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, declarou nesta quarta-feira que ele e Lula pretendem "promover fortemente a facilitação do comércio e dos investimentos bilaterais".

"O setor empresarial dos dois países defende um acordo rápido sobre um acordo Japão-Mercosul. Ouvindo essas vozes, continuaremos as discussões para fortalecer os laços bilaterais e econômicos", observou. 

Giro estratégico pela Ásia

Do Japão, Lula segue para o Vietnã. E, em datas ainda a serem divulgadas, deve ir à Malásia e à Indonésia no segundo semestre. É quase certo que também se encontre bilateralmente com o presidente da Índia, Narendra Modi, em data a ser confirmada, possivelmente no Brasil.

Durante o giro estratégico pela Ásia, Lula quer deixar claro para a comunidade internacional que o Brasil não quer estar sob a tutela norte-americana, mas tampouco sob a chinesa. O presidente pretende reforçar as relações comerciais com o Japão para buscar alternativas às tarifas norte-americanas, mas também para evitar uma dependência excessiva da China.

Pequim é atualmente o principal parceiro comercial de Brasília, com negócios que alcançaram US$ 160 bilhões (R$ 922 bilhões na cotação atual) em 2023.  

(RFI com AFP)


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