Bandeiras a meio-mastro: esquerda francesa causa polêmica por homenagem ao papa

A polêmica está lançada na França. Após o anúncio do governo francês, que confirmou na terça-feira a decisão de colocar as bandeiras a meio mastro nos prédios públicos nacionais no sábado, dia do funeral do papa Francisco, para prestar homenagem ao pontífice, a classe política francesa já reage violentamente. Algumas personalidades, principalmente da esquerda, se opõem a essa decisão em nome da laicidade.

Foi no final da tarde da terça-feira que o escritório do ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, divulgou a decisão. "Após o falecimento do papa Francisco, o governo decidiu que as bandeiras deverão ser colocadas a meio mastro nos prédios públicos no dia de seus funerais solenes", diz o comunicado curto.

Esse procedimento, comum em muitos países, incluindo a França, em contextos de comemorações, é utilizado para prestar uma homenagem e expressar um sentimento coletivo de tristeza em casos de eventos trágicos, ou como neste caso, o falecimento de uma personalidade importante.

Em diversos outros países, a homenagem é ainda mais marcante. Na Argentina, país de origem de Jorge Bergoglio, foi decretado um luto nacional de uma semana. Alguns países vizinhos, como Itália (cinco dias), Espanha e Portugal (três dias), também irão se reunir por vários dias para prestar homenagem ao papa.

Por que a esquerda denuncia essa homenagem?

Rapidamente, várias personalidades de esquerda na França, vindas de diferentes grupos políticos, condenaram a escolha do governo. Começando por Alexis Corbière. O ex-membro da França Insubmissa (LFI), hoje deputado por Seine-Saint-Denis pelo grupo "l'Après", expressou seu "total desacordo" na terça-feira à noite no site de Franceinfo.

"A laicidade tem princípios. É normal que o chefe de Estado preste homenagem ao papa. Mas não devemos ter uma laicidade com aplicação variável, ou seja, quando uma autoridade religiosa morre, colocamos as bandeiras a meio mastro, mas não fazemos o mesmo para outros cultos", explicou o ex-aliado de Jean-Luc Mélenchon.

"Devemos ser neutros em relação aos cultos", considera o deputado da região parisiense, também contrário à presença de Emmanuel Macron nos funerais de sábado em Roma. Uma opinião compartilhada pelo deputado LFI de Loire-Atlantique, Matthias Travel.

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No X (ex-Twitter), ele afirmou: "Independentemente do que se pense sobre o papa Francisco, a República não deve prestar homenagem ao chefe da Igreja Católica. O Estado em sua esfera, a Igreja na dela." O mesmo tom é ouvido no grupo comunista, como na declaração do senador Pierre Ouzoulias, que chegou a chamar a decisão de "vergonhosa para nossa República laica".

Diante da polêmica crescente, o governo francês reagiu rapidamente por meio de sua porta-voz, Sophie Primas. "Não estamos demonstrando preferência por uma religião", explicou em entrevista ao canal TF1. "O papa tinha um papel relevante na política e na diplomacia internacional, que não era neutro." Ao lembrar que o papa Francisco era "um chefe de Estado", a porta-voz enfatizou o caráter diplomático do papado para justificar a homenagem nacional.

De fato, a França já colocou suas bandeiras a meio mastro várias vezes após a morte de importantes líderes internacionais, como Joseph Stalin em 1953, Francisco Franco em 1975, Ronald Reagan em 2004, e Nelson Mandela em 2013.

Um argumento reforçado por Bruno Retailleau, ministro do Interior e, portanto, responsável pelos cultos na França, que se deslocará para os funerais do pontífice no sábado, ao lado de seu colega das Relações Exteriores, Jean-Noël Barrot. "A emoção é mundial, ele é uma figura universal. Nós já colocamos as bandeiras a meio mastro para a rainha da Inglaterra", disse o responsável do ministério do Interior, fazendo referência ao falecimento da rainha Elizabeth II, em setembro de 2022.

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