Paz frágil: entenda os desafios para manter o cessar-fogo entre Índia e Paquistão

O cessar-fogo entre o Paquistão e a Índia entrou em vigor às 17h de sábado, pelo horário local. O presidente americano fez o anúncio em sua rede social antes que a informação fosse confirmada pelos ministros das Relações Exteriores do Paquistão e da Índia. Os dois países embarcaram em uma escalada militar gradual que começou após o ataque terrorista contra turistas na Caxemira indiana em 22 de abril.
O primeiro desafio é fazer com que esse cessar-fogo se mantenha. Durante a noite, as autoridades paquistanesas reafirmaram sua determinação em impor o cessar-fogo "fielmente". A declaração foi feita após incidentes ocorridos na noite de sábado na Linha de Controle, área fronteiriça que separa o Paquistão da Índia na região da Caxemira, pelos quais ambos se acusaram mutuamente.
Contexto histórico
O cessar-fogo ainda se mantém. Mas, para durar, será preciso negociar um mecanismo de resolução aceito por Islamabad e Nova Delhi. Em contato direto para chegar a um acordo perene, os diretores-gerais das operações militares indianas e paquistanesas devem se reunir novamente nesta segunda-feira (12), com os Estados Unidos na posição de mediador.
Ponto de discórdia entre Islamabad e Nova Delhi desde a divisão dos dois países em 1947, a Caxemira será uma das questões na mesa das negociações. Entre outras questões delicadas está o Tratado das Águas do Indo, assinado em 1960 entre a Índia e o Paquistão, para compartilhamento as águas do rio. Os indianos suspenderam o acordo após o ataque de 22 de abril. Uma medida punitiva descrita como um ato de guerra pelo Paquistão, cuja economia depende dessa fonte de água.
Logo após o ataque na Caxemira indiana, os Estados Unidos se ofereceram como um possível mediador, já que mantêm boas relações com ambos os países. Mas foi depois que a Índia atacou uma base aérea paquistanesa e o Paquistão respondeu atacando instalações indianas que as coisas aceleraram.
A escalada mobilizou Washington e Donald Trump falou em uma "noite inteira" de negociações para chegar a um acordo sobre essa trégua. O primeiro-ministro paquistanês agradeceu-lhe publicamente. Além disso, na noite de 10 para 11 de maio, o presidente americano disse que estava "muito orgulhoso" de que a Índia e o Paquistão tivessem concordado em cessar suas hostilidades e anunciou que os Estados Unidos aumentariam seu comércio com essas potências rivais no sul da Ásia.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, garantiu que os dois governos "concordaram em iniciar negociações sobre uma ampla gama de questões em um local neutro".
O secretário-geral ONU, António Guterres, também fez inúmeras abordagens diplomáticas com ambos os lados esta semana, mas Narendra Modi, primeiro-ministro indiano, supostamente se recusou a falar com ele. Guterres esperava que o acordo levasse a uma "paz duradoura" e à criação de um diálogo para resolver os problemas que há muito dividem os dois países. O Paquistão, que faz parte do Conselho de Segurança da ONU, estava considerando que o conselho endossasse a trégua.
Preocupação em Nova Delhi
Desde o início do conflito entre a Índia e o Paquistão, que deixou pelo menos 60 mortos desde 7 de maio, os sentimentos dos habitantes de Nova Delhi estão divididos entre a confiança e o medo de uma guerra total.
Com seu turbante na cabeça, símbolo de sua religião, Kashish, um jovem sikh, diz que não teme uma escalada de tensões entre as duas potências nucleares. Para ele, Índia e Paquistão têm mais a perder do que a ganhar: "No que diz respeito a um conflito armado real, ambos os Estados sabem muito bem quais seriam as consequências, especialmente no plano econômico", pontuou em entrevista à reportagem da RFI. "Uma guerra não só mata pessoas, como também tem repercussões muito mais amplas na economia e no status internacional dos países envolvidos", lamentou.
Para outros, o conflito em curso entre a Índia e o Paquistão é uma fonte de ansiedade. "Estou realmente assustada com esse estado de guerra", desabafa Jagriti, uma indiana de 20 anos. "Eu ainda sou muito jovem. Tenho muitas coisas para fazer na minha vida antes que algo me aconteça. Então, esse é realmente o único pensamento que me vem à mente e acho que as duas nações poderiam resolver isso conversando em vez de lançar mísseis uma contra a outra", opina. Nesse clima tenso, Nova Delhi está se antecipando com exercícios de proteção civil.
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