Rússia adia possibilidade de cessar-fogo exigido por aliados de Kiev e sugere conversas 'diretas' em Istambul

Neste domingo (11), o presidente russo, Vladimir Putin, propôs negociações "diretas" e "sem pré-condições" entre a Rússia e a Ucrânia para a quinta-feira, 15 de maio, em Istambul, adiando até essas conversas qualquer possibilidade de estabelecer o cessar-fogo exigido pelos aliados de Kiev no dia anterior:
Em uma rara demonstração de unidade ocidental, a Ucrânia e seus aliados europeus, juntamente com os Estados Unidos, emitiram um ultimato a Moscou no sábado para que aceitasse um cessar-fogo "completo e incondicional" de 30 dias a partir de segunda-feira, sob pena de a Rússia enfrentar novas "sanções maciças".
Sem se referir diretamente a essa proposta, o presidente russo criticou os europeus por tratarem a Rússia de forma "rude e com ultimatos" e disse que qualquer possível trégua teria que fazer parte de conversas "diretas" com Kiev.
"A Rússia está pronta para negociações sem quaisquer pré-condições (....). Propomos começar na próxima quinta-feira, 15 de maio, em Istambul", declarou Putin à imprensa, na noite de sábado no Kremlin. Ele acrescentou que se reuniria com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, nas próximas horas. Este último, em contato regular com o russo, ofereceu-se em várias ocasiões para sediar conversações de paz. A Turquia, membro da Otan, desempenhou um papel de mediação em 2022 na conclusão de um acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos pelo mar Negro, que a Rússia posteriormente abandonou.
Vladimir Putin não "descartou" a ideia de um cessar-fogo ser discutido nas conversas com Kiev, mas ressaltou que essas discussões devem se concentrar nas "causas fundamentais do conflito" - que ele descreveu como uma "guerra", embora as autoridades russas rejeitem esse termo - "a partir de uma perspectiva histórica". Moscou justificou o lançamento de sua ofensiva em larga escala em fevereiro de 2022 com o desejo de "desnazificar" a Ucrânia, cujo exército ocupa atualmente cerca de 20% de seu território, e de se opor à sua aproximação com o Ocidente e ao reforço da Otan perto de suas fronteiras.
Putin quer "ganhar tempo"
Embora os movimentos de Donald Trump, desde seu retorno à Casa Branca, indiquem uma aproximação com Vladimir Putin, Moscou tem rejeitado até agora os pedidos de cessar-fogo. O Kremlin se contentou em declarar unilateralmente uma trégua de três dias para as comemorações do 80º aniversário da vitória sobre a Alemanha nazista, que terminaram na noite de sábado após serem marcadas por acusações de violações de ambos os lados. Após o término da trégua decretada por Moscou, os alertas de ataques aéreos soaram em muitas regiões ucranianas, incluindo Kiev.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, vem sendo pressionado pelo americano a concordar em negociar com Moscou desde sua posse em fevereiro. Zelensky havia dito na quinta-feira (8), após uma ligação com Trump, que seu país estava "pronto" para conduzir "todos os formatos de negociações" com Moscou, mas que a Rússia teria primeiro que estabelecer um cessar-fogo.
Na manhã de domingo, o chefe de Estado francês, Emmanuel Macron, descreveu a proposta russa como "um primeiro passo (...) insuficiente", observando o "desejo de Vladimir Putin de ganhar tempo". "Além disso, acho que isso é inaceitável para os ucranianos, porque eles não podem aceitar discussões paralelas enquanto continuam a ser bombardeados", insistiu o presidente francês, falando ao descer do trem na cidade polonesa de Przemysl, no retorno de sua viagem à Ucrânia, onde foi acompanhado pelos líderes da Alemanha, Friedrich Merz, Grã-Bretanha, Keir Starmer e Polônia, Donald Tusk.
Ajuda militar a Kiev
Durante essa visita, segundo o presidente francês, cerca de 20 países membros de uma "coalizão dos dispostos", que trocaram opiniões por videoconferência em Kiev com os líderes em torno de Zelensky, "decidiram apoiar um cessar-fogo" por 30 dias, "monitorado principalmente pelos Estados Unidos da América" e para o qual "todos os europeus contribuirão".
Se a Rússia recusar esse cessar-fogo ou aceitá-lo, mas violá-lo, foi acordado que "sanções maciças seriam preparadas e coordenadas entre europeus e americanos", acrescentou. Volodymyr Zelensky e os quatro europeus telefonaram para Donald Trump para informá-lo sobre os resultados de suas conversas.
Friedrich Merz falou sobre a continuação da "ajuda maciça" a Kiev na ausência de uma reação do Kremlin e disse que a guerra russa na Ucrânia "visa destruir toda a ordem política europeia".
A embaixada americana na Ucrânia alertou, ainda na sexta-feira (9), sobre o risco de um grande "ataque aéreo" russo nos próximos dias.
(Com AFP)
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