Guerra em Gaza só acaba com fim da ofensiva de Israel e sem Hamas, diz especialista

A Faixa de Gaza se tornou alvo de uma nova ofensiva terrestre, lançada neste domingo (18). A operação ocorre após vários dias de bombardeios intensos e em meio às negociações indiretas entre representantes do Hamas e de Israel em Doha, no Catar. Por que Israel lançou essa ofensiva? Segundo Denis Charbit, professor do Departamento de Sociologia, Ciência Política e Comunicação da Universidade Aberta de Israel, o premiê Benjamin Netanyahu está sendo pressionado por ministros ultranacionalistas.

Na opinião do cientista político franco-israelense, o governo de Benjamin Netanyahu tenta equilibrar a pressão política interna e as expectativas da opinião pública, que resiste a uma nova ofensiva sem ligação clara com a libertação dos reféns.

De acordo com ele, o governo justifica a intensificação militar como uma forma de forçar o Hamas a aceitar um cessar-fogo que inclua a libertação dos israelenses sequestrados em 7 de outubro de 2023, que ainda estão na Faixa de Gaza.

Denis Charbit também alerta para o crescente isolamento diplomático de Israel, que considera "muito grave", principalmente diante da recusa do governo israelense em aceitar certas condições para negociar com o Hamas. Entre elas, o fim da guerra e a retirada das tropas da Faixa de Gaza.

RFI: Por que lançar essa ofensiva agora? Netanyahu cedeu aos ministros mais radicais?

Denis Charbit: Netanyahu está sempre em uma posição delicada, entre ceder à pressão ou ser cúmplice dela. Não se pode dizer que ele seja totalmente contrário à continuação de uma ofensiva massiva.

De certa forma, ele cede, mas também sabe que grande parte da opinião pública israelense — na verdade, a maioria — tem dificuldade em aceitar uma nova ofensiva se ela não estiver claramente ligada à libertação dos reféns.

A justificativa que ele apresenta internamente é a de que é preciso intensificar a pressão militar para que o Hamas ceda e aceite as exigências israelenses por um cessar-fogo, incluindo, claro, a libertação dos reféns.

RFI: Em Doha, houve uma nova rodada de negociações indiretas entre Israel e o Hamas sobre um possível cessar-fogo, com mediação do Egito e apoio dos Estados Unidos. Mas não houve avanços. Por quê?

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DC: É preciso sempre desconfiar das declarações de ambos os lados, pois cada um tenta jogar a responsabilidade sobre o outro. O Hamas tem razão ao afirmar que o governo israelense se recusa a aceitar duas condições: o fim da guerra e, sobretudo, a retirada das tropas israelenses da Faixa de Gaza, ou seja, o retorno às linhas de 6 de outubro de 2023.

Por outro lado, é legítimo questionar o governo israelense: bastaria dizer "sim" a um cessar-fogo permanente e ao recuo militar, em troca da marginalização do Hamas, que deixaria de exercer funções militares e políticas em um novo arranjo político pós-guerra?

Netanyahu ou seus representantes estão propondo algo assim? Não sabemos. E é isso que gera incerteza entre os israelenses: por que o acordo de troca de reféns por prisioneiros palestinos não avança?

Para que funcione, ambos os lados precisam ceder: o Hamas teria de abrir mão do poder que exerce desde 2007, e Israel teria de aceitar o fim definitivo da guerra e a retirada de suas tropas.

RFI: Essa escalada militar tem sido criticada no mundo. O presidente francês falou em "vergonha"; o premiê espanhol pediu o fim do massacre. Por que Netanyahu ignora esses apelos, inclusive os do chefe de direitos humanos da ONU, que fala em "limpeza étnica" em Gaza?

DC: Essa talvez seja a parte mais trágica da situação. Desde os dias 8 e 10 de outubro, quando Israel ainda "digeria" o massacre de 7 de outubro, já surgiam críticas internacionais. Isso gerou, dentro do governo e da sociedade israelense, a sensação de que "o mundo está contra nós".

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Esse sentimento alimenta um isolamento diplomático profundo, que considero muito grave. Israel não pode se sustentar sozinho, isolado, no médio prazo, no cenário internacional.

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