Reino Unido abre investigação sobre problemas em maternidades que levaram à morte de centenas de bebês
O Departamento de Saúde britânico anunciou na segunda-feira (23) a abertura, nos próximos dias, de um "inquérito nacional" sobre problemas no funcionamento das maternidades inglesas, após mortes de centenas de bebês.
O objetivo é "estabelecer a verdade para as famílias afetadas, estabelecer responsabilidades e implementar melhorias urgentes no atendimento e na segurança", afirmou o departamento em um comunicado à imprensa, citando "problemas sistêmicos que datam de mais de quinze anos".
"Conheço famílias de luto em todo o país porque perderam um bebê ou sofreram danos graves durante o que deveria ter sido o momento mais feliz de suas vidas. O que elas vivenciaram é devastador (...), causado por falhas no atendimento nas maternidades do NHS (Sistema de Saúde Nacional na sigla em inglês) que nunca deveriam ter acontecido", disse o Secretário de Saúde, Wes Streeting, em um comunicado.
O inquérito nacional, liderado por médicos, especialistas e pais, começará neste verão (no hemisfério norte) e os resultados serão publicados em um relatório em dezembro.
Inicialmente, a investigação se concentrará nas dez maternidades em situação mais preocupante, para fornecer respostas às famílias cujos bebês morreram ou sofreram ferimentos graves durante o parto. Posteriormente, a apuração se ampliará a todo o sistema de saúde público, buscando os responsáveis e definindo reparações.
Mortes e ferimentos
Somente na cidade de Leeds, no norte da Inglaterra, 56 mortes de recém-nascidos em cinco anos poderiam ter sido evitadas entre janeiro de 2019 e julho de 2024, de acordo a Comissão de Qualidade do Cuidado (CQC). Nas dez maternidades e unidades neonatais afetadas, dezenas de bebês também sofreram lesões cerebrais durante o parto, ou fraturas graves.
O ministro da Saúde pediu desculpas às famílias na segunda-feira. O sindicato dos ginecologistas chamou a investigação de "bem-vinda", em um contexto em que "mulheres e bebês não estão recebendo o atendimento seguro que merecem".
Em 2022, um relatório da Comissão de Qualidade de Cuidados (CQC) concluiu que mais da metade das 139 maternidades da Inglaterra apresentavam padrões de segurança inadequados ou precisavam de melhorias.
O relatório foi publicado dois dias após a difusão de uma investigação que mostrou que 45 mortes de bebês poderiam ter sido evitadas, ao longo de uma década, em duas maternidades no sudeste da Inglaterra.
Desigualdades no Tratamento
Alguns meses antes, outro relatório havia revelado que disfunções em diversas maternidades no oeste do país haviam causado as mortes de mais de 200 bebês ao longo de 20 anos. A recusa persistente dos médicos em realizar cesáreas e o atendimento inadequado foram citados como causas.
Vários desses documentos também destacaram diferenças no tratamento de mulheres de minorias étnicas. De acordo com o relatório do CQC de 2022, mulheres negras têm quatro vezes mais probabilidade de morrer durante a gravidez ou o parto do que mulheres brancas. Para mulheres asiáticas, esse risco é duas vezes maior.
Entre 2009 e 2022, a taxa de mortes de mulheres durante ou após o parto na Inglaterra aumentou 27%. O número mais alto dos últimos vinte anos.
Além dos serviços de maternidade, o sistema público de saúde, descrito pelos britânicos como uma das "joias da coroa", por garantir saúde gratuita a milhões de pessoas, está em crise há muitos anos. O NHS sofre com cortes de orçamento, diante de uma demanda crescente com o envelhecimento da população, levando a tempos de espera longos para cirurgias e tratamentos, além de desigualdades no acesso, segundo a região, e falta de pessoal.
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