Declaração final dos líderes do Brics pode ser questionada por Irã no último dia da cúpula

A geopolítica turbulenta complicou a vida dos negociadores dos países do Brics, mas não foi suficiente para impedir a divulgação de uma declaração final pelos líderes que vieram ao Rio de Janeiro participar da cúpula do bloco, realizada neste domingo (6) e nesta segunda-feira (7). Obter consensos em um grupo de 11 países tão distintos não é simples, ainda mais quando um deles, o Irã, é alvo de ação militar. 

Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro 

O ataque de Israel e dos EUA ao Irã, em junho, provocou reações distintas entre os integrantes do Brics e poderia ter comprometido todo o processo. Foi necessário alterar a redação previamente acordada pelos chanceleres do grupo, em abril, sobre os conflitos no Oriente Médio. Após a divulgação do documento, na tarde de domingo, os iranianos manifestaram insatisfação. Os negociadores precisaram retomar as discussões até a noite.

No entanto, o Irã já não tinha como modificar o que havia sido acordado e mudanças só seriam possíveis durante as plenárias. A última delas está prevista para esta segunda-feira. A expectativa é de que não haja alterações, embora também não se esperasse que os iranianos se manifestassem após o entendimento. 

O documento do Brics é considerado uma vitória pela presidência brasileira, diante dos conflitos antigos e recentes e da política externa imprevisível dos EUA sob Donald Trump.

A estratégia do presidente americano é marcada por ataques ao multilateralismo e medidas unilaterais que distorcem o comércio, como mencionou Lula em seu discurso aos demais chefes de Estado, sem citar diretamente Trump ou os Estados Unidos.

A declaração também evitou nomear diretamente os envolvidos. Lula afirmou que, "com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque, e avanços arduamente conquistados, como os regimes de clima e comércio, estão ameaçados". 

Defesa do multilateralismo

A declaração defende o multilateralismo, reformas nos organismos internacionais, mais transações em moedas locais para facilitar o comércio entre os países do bloco e progressividade tributária para um sistema mais justo, mas não menciona explicitamente a taxação de altas rendas.

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As declarações inéditas sobre Inteligência Artificial, financiamento climático e saúde, divulgadas separadamente, também são vistas como conquistas.

O governo brasileiro incluiu no texto a necessidade de maior controle sobre o uso de dados e informações sensíveis, além da proteção dos direitos autorais e da remuneração pela produção de conteúdo no contexto da Inteligência Artificial.

O clima ganhou um espaço inédito na agenda do Brics. E a saúde tornou-se uma nova bandeira, com foco nas doenças socialmente determinadas, conceito que passa a orientar as políticas de parceria do bloco. 

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