Por Carmen Munari
SÃO PAULO (Reuters) - PMDB e PSB formalizaram nesta quarta-feira uma coligação para disputar a prefeitura de São Paulo com a desistência de Michel Temer, que ocupará o posto de vice na chapa da socialista Luiza Erundina. Apesar de pertencerem a partidos da base governista, os dois políticos prevêem críticas ao Executivo federal na campanha.
"É um gesto inovador, revolucionário e ousado do PMDB", disse a ex-prefeita, durante entrevista coletiva para anunciar a nova chapa. Erundina reiterou sua autocrítica de considerar um "equívoco" ter governado São Paulo entre 1989 e 1992 com um partido só, então o PT.
Temer admitiu que os resultados das últimas pesquisas de opinião influenciaram na formação da chapa, mas que, além disso, a decisão se deveu a um "consenso partidário". O acordo foi costurado por Orestes Quércia, presidente estadual do PMDB.
"É a alternativa para que o eleitor possa sair da mesmice", disse Temer, que é deputado federal e presidente nacional do partido.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada no fim de semana, Temer aparecia com apenas 1 por cento das preferências de votos, enquanto Erundina tinha 8 por cento.
Algumas semanas atrás, Temer, Erundina e os pré-candidatos do PPS, Arnaldo Jardim, e do PDT, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, ensaiaram uma coligação ampla para fazer frente aos três principais candidatos da disputa paulistana --a prefeita Marta Suplicy (PT), José Serra (PSDB) e Paulo Maluf (PP).
As negociações, no entanto, não avançaram. No último domingo, Paulinho oficializou sua candidatura e na terça-feira o PPS anunciou a adesão à candidatura de Serra.
Antes desta união, o PMDB tentou uma aliança com o PT, mas exigia indicar o vice. A exigência esbarrou na prefeita Marta Suplicy, que insistiu em um vice do PT.
Um integrante do PMDB afirmou antes do anúncio que a gota d'água para a decisão de se unir a outro partido que não o PT foram críticas da prefeita ao partido no programa "Roda Viva" da TV Cultura na segunda-feira. Segundo ele, a cúpula do PMDB discutiu as declarações na madrugada de segunda para terça-feira, quando foi tomada a decisão.
FEDERAL
Mesmo compondo a base, Erundina afirmou que as críticas à administração federal serão inevitáveis.
"É impossível não se referir às causas estruturais dos problemas locais", afirmou, exemplificando com o crescimento do desemprego, da marginalidade, da pobreza e da violência. Chamou o modelo econômico de "equivocado", "com efeitos sociais perversos" e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva repete a política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
Mas alertou que o tom federal estará mais presente nas campanhas de Marta e Serra porque "eles estão disputando projetos futuros para governador e presidente".
Temer também não se furtou ao tema. "Ambos os partidos (PMDB e PSB) apóiam o governo, mas não apóiam tudo. O PMDB e o PSB têm projeto de poder."
Mais cedo, um impasse em torno da coligação na disputa para a Câmara Municipal atrasou o anúncio da nova chapa. Pouco depois, a aliança se concretizou como queria o PMDB, envolvendo a eleição a prefeito e de vereadores.
Os dois partidos divulgaram documento com oito pontos programáticos, entre eles a justiça tributária. "A administração deverá dar um basta à política de onerar a população com a criação de taxas e impostos", diz o texto, em alusão aos impostos criados pela administração de Marta.