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Policiais aparecem em vídeo agredindo e humilhando mulher em barco no Pará

Luciana Cavalcante

Colaboração para o UOL, em Belém

17/12/2020 11h35Atualizada em 17/12/2020 18h45

Três policiais civis são suspeitos de agredir e humilhar uma mulher dentro de um barco que faz transporte de passageiros entre Breves, no Marajó, e Belém. Um dos policiais aparece no vídeo apontando a arma para ela e a acusa de desacato. Ele manda que a mulher saia da embarcação, chega a agredi-la e joga seus pertences no rio. O caso ganhou repercussão nas redes sociais.

O fato ocorreu na tarde de ontem em uma parada no município de Portel (PA) e foi filmado por passageiros. O motivo seria uma discussão por conta da proximidade entre as redes da vítima, a autônoma Lilian Batista, 34 anos, e uma mulher que embarcou nessa escala junto com os policiais. Um deles teria se incomodado com a situação e começou a discussão com Lilian.

Nas imagens, ele aparece com a arma em punho e gritando para que ela saia do barco. Ele ainda a acusa de desacato. Em dado momento, o policial joga alguns pertences da vítima no rio e ameaça prender tanto a mulher, como a que a acompanhava.

Ao UOL, a autônoma contou como foram as agressões. "Eu só pensava que ia morrer na frente de todo mundo ali quando ele deu uma gravata em mim. Não tinha como me defender, estava imóvel. Fui puxada por mais de três metros pelo meu cabelo. Como podem imobilizar uma pessoa? Eu não matei, não roubei, não fiz nada para ninguém. Não chegaram para conversar comigo e já foram me batendo", desabafou.

Ela disse ainda que, além dos policiais, também foi agredida fisicamente pela mulher que protagonizou a discussão. "Eles (os policiais) ainda me seguraram para a mulher me bater."

As agressões deixaram várias marcas não só no corpo de Batista, mas também no emocional. "Estou muito perturbada da cabeça. Estou com a boca toda espocada. Não consegui comer porque a boca está só hematoma. Estou com pescoço inchado, sem conseguir movimentar o braço direito. Desmaiei várias vezes hoje. Estou muito fraca", revelou a autônoma, que mora em Belém e tinha ido até Breves visitar a mãe.

Lilian conta que já estava se sentindo mal, com hemorragia, e suspeita de covid-19, por isso estava voltando para a capital para atendimento médico, e não esperava que fosse passar por isso. "Está quase certo que eu tenha (covid-19), mas vou fazer o atendimento na UPA."

Assim que o caso veio à tona pelas redes sociais, a Secretaria Estadual de Segurança Pública destacou uma equipe para receber os envolvidos no caso e conduzi-los para depoimento na delegacia geral de polícia. A vítima e os policiais passaram a manhã em depoimento e foram encaminhados para exame de corpo de delito no Centro de Perícias Renato Chaves.

Bastante abalada, Lilian chegou a ser atendida por socorristas do Samu. Um sobrinho que a acompanhou até a delegacia confirmou que a discussão ocorreu por conta da localização da rede e das agressões. "Ela está apavorada, assustada e bastante machucada. Tem marcas pelo corpo, pela perna, no braço, a boca dela está estourada. O rosto está roxo, tanto dela como da outra moça que estava com ela, tudo consequência da agressão do policial", disse Mateus William.

Em outro vídeo que circula nas redes sociais, ela é coagida pelos mesmos policiais que aparecem no vídeo do barco a pedir desculpas a eles. O vídeo foi gravado na delegacia de Breves.

"Senti como se tivesse matando, roubando alguém por que não fiz nada. Me levar como ré e eu era a vítima. Ainda tentaram levar conversa para me incriminar. Questionei o delegado (de Breves) e ele disse que o que eu fizesse não iria dar em nada. Eles me coagiram na delegacia e saíram me ameaçando para que eu não falasse nada. Cheguei no barco e eles estavam rindo", lamentou.

Policiais são afastados

O Secretário de Segurança Pública do Pará, Ualame Machado, lamentou o ocorrido e disse que essa não é a conduta da maioria dos policiais. Além disso, afirmou que os envolvidos no caso vão responder por dois processos, sendo um administrativo e um criminal.

"Os três policiais civis envolvidos estão sendo autuados em flagrante delito pelo crime do artigo 33, da lei de abuso de autoridade, além de lesão corporal, as testemunhas estão sendo ouvidas, todo procedimento está sendo lavrado, para que a gente possa dar o exemplo da conduta que não deve ser tomada pelo agente público", reforçou Machado.

Sobre o processo administrativo, o secretário explicou que os policiais — sendo um escrivão e dois policiais civis, lotados na cidade de Portel, no Marajó — foram afastados preventivamente por até 60 dias.

"Inclusive com recolhimento de carteira funcional e armamento para que não desenvolvam suas atividades e estejam à disposição da comissão de processo disciplinar até o final das apurações."

Machado também informou que será investigada a situação anterior à discussão, que pode ter gerado o conflito, incluindo a participação da mulher que teria começado a discutir com a vítima.

Sobre o vídeo de desculpas que a vítima teria sido coagida a gravar, Machado, informou que será apurada a conduta dos policiais e gestores da delegacia onde ele teria sido gravado.

A Secretaria de Segurança informou que foi arbitrada uma fiança para os envolvidos no caso, que é o que prevê a lei em crimes que não somam quatro anos de penalidade.