O drama de 'Ainda Estou Aqui' e a impunidade aos assassinos de Rubens Paiva | Podcast UOL Prime #48
Enquanto os prêmios do Globo de Ouro e do Oscar ainda são uma incógnita para o filme "Ainda Estou Aqui", uma coisa é certa: na vida real, o final foi feliz para os militares acusados de matar Rubens Paiva.
O desaparecimento do ex-deputado nas mãos de militares é o centro do drama do longa.
O Estado brasileiro gasta mais de R$ 1,8 milhão por ano com aposentadorias e pensões aos militares —ou seus dependentes— acusados de torturar, matar e ocultar o corpo de Paiva.
Nenhum dos envolvidos foi julgado, 53 anos após o crime.
Para falar do filme e da história real, o podcast UOL Prime, apresentado por José Roberto de Toledo, ouviu Adriana Ferraz e Rodrigo Ortega sobre as reportagens "Brasil paga R$ 1,8 mi ao ano a torturadores de Rubens Paiva" e "A campanha por 'milagre' do Brasil no Oscar".
Os militares réus pela morte são Raymundo Ronaldo Campos, Rubens Paim Sampaio, José Antônio Nogueira Belham e os irmãos Jurandyr e Jacy Ochsendorf e Souza. Citado como principal torturador, Antônio Fernando Hughes de Carvalho morreu antes da denúncia.
O diretor Walter Salles e a atriz Fernanda Torres estão viajando pelo mundo para divulgar o filme, de olho no Oscar.
As viagens acabaram se tornando também uma espécie de turnê para explicar ao público global a impunidade da ditadura militar de 1964 a 1985.
Adriana Ferraz expõe a contradição: a busca por justiça da família Paiva, nunca indenizada pelo crime, esbarra na impunidade e nos privilégios dos agentes da repressão, baseados na Lei da Anistia, criada pela própria ditadura.
"Enquanto o filme é elogiado e sua história ganha o mundo, os torturadores e seus herdeiros continuam recebendo pensões milionárias", resume Adriana.
"E é interessante pensar que, apesar desse orgulho [pelo filme], ainda temos dificuldade de lidar com nosso próprio passado. É como se quiséssemos mostrar ao mundo o que temos de melhor, mas ainda relutamos em enfrentar nossas feridas internas", ela reflete.
Rodrigo Ortega, que conversou com Fernanda Torres sobre a produção e o impacto do filme, explica que Eunice Paiva, viúva do deputado, interpretada por Torres no filme "Ainda Estou Aqui", representa a própria história brasileira.
Fernanda Torres diz que a viúva, obrigada a seguir em frente sem explicação ou punição pela morte do marido, e "engolir o choro", é um símbolo de como o Brasil lidou com a ditadura.
"O filme não entra em detalhes burocráticos, mas foca na luta íntima de Eunice. É uma escolha artística. A ditadura é representada como um fantasma constante, que está sempre ali, mas nunca completamente explicado de forma direta", Ortega descreve.
Toledo faz uma relação com a situação política brasileira atual.
"Essa discussão nunca foi tão relevante, ainda mais considerando que, dentro do golpe que os militares queriam dar para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após perder as eleições, havia a possibilidade de um "golpe dentro do golpe", diz o apresentador.
"O plano incluía a criação de uma comissão de generais para atuar como tutores do país. Por isso, é essencial voltarmos a esse assunto", defende Toledo.
O podcast UOL Prime é publicado às quintas-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.
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