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'Você não sabe o que está fumando': como a falsificação de cigarros atinge brasileiros | Podcast UOL Prime #69

Do UOL, em São Paulo

08/05/2025 05h20

Quatro em cada 10 cigarros no Brasil são falsos ou contrabandeados. Por trás desse negócio, que já é o quinto mais lucrativo do crime organizado no Brasil, estão facções, milícias e "capos" do jogo do bicho.

Apesar da redução da população brasileira que fuma, que está entre 10% a 12%, o Brasil deixa de arrecadar R$ 8 bilhões ao ano com o comércio ilegal de cigarros.

Para além da questão financeira, esse negócio atinge a saúde da população e mantém reféns os mais pobres.

É sobre esta apuração que José Roberto de Toledo conversa com os repórteres Adriana Ferraz e Luís Adorno no novo episódio do podcast UOL Prime.

"Você não sabe mais o que está fumando. Se é o contrabandeado, se é o que é produzido aqui ilegalmente ou se é o que tem registro", diz a repórter Adriana Ferraz.

"Agora a gente imita o cigarro paraguaio. E esse cigarro imitado, falsificado, é valorizado no mercado, é procurado", complementa.

A confusão é porque existem, basicamente, três tipos: o contrabandeado, que vem do Paraguai, chamado de falso; o falso que é fabricado aqui no Brasil e, ainda, o cigarro legal, produzido no Brasil com selo da Anvisa.

As fábricas clandestinas de cigarros começaram a chamar atenção da polícia a partir de 2015, mas se intensificaram da pandemia para cá. Uma série de fatores explicam isso.

Na pandemia era mais difícil contrabandear o cigarro do Paraguai. Com isso, as apreensões de cigarros contrabandeados aumentaram no Brasil.

E o crime, consequentemente, começou a perceber que, pela logística e riscos envolvidos, era melhor fabricá-los.

As grandes rotas do contrabando do cigarro e do cigarro eletrônico também são basicamente as mesmas do tráfico de drogas, com entrada pela fronteira do Brasil com o Paraguai.

Antigamente, os criminosos utilizavam um abatedor nas rodovias, que trafegava na frente dos caminhões que traziam os cigarros contrabandeados.

Agora, o crime coloca, entre o abatedor e o caminhão, carros cheios de cigarro para a polícia pegar os veículos e, assim, abrir espaço para o caminhão passar.

A maioria dos brasileiros que fumam são negros e moradores de periferias.

"Nesses locais, o cigarro que é vendido de maneira unitária, não só o maço, é a droga, digamos assim, de mais fácil acesso juntamente com a cachaça. Então, essas pessoas são as que ficam mais vulneráveis quando inalam esse tipo de cigarro", diz o repórter Luís Adorno.

"As pesquisas indicaram que tinham mais metais pesados, como chumbo, por exemplo, e alguns pesticidas proibidos no Brasil. Então, o risco é muito similar, o cigarro faz mal de todo jeito, mas esse faz mais mal ainda", complementa.

Adriana Ferraz acrescenta que, a longo prazo, pesquisadores indicam que a diferença entre o legal e o ilegal seria similar a saltar do 30º andar ou do 28º andar.

No Rio de Janeiro, um dos principais chefes da máfia dos cigarros apontado pelas polícias é Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho, patrono do Salgueiro.

"Consegue dialogar com Comando Vermelho, Terceiro Comando Puro, milícias, policiais corruptos, enfim, com todos os grupos criminosos armados ilegais para que o seu esquema funcione", diz Adorno.

O podcast UOL Prime é publicado às quintas-feiras no YouTube do UOL Prime, Spotify, Apple Podcasts, Amazon Music, Deezer e em todas as plataformas de podcast.