China despreza Nobel da Paz e relações com Noruega são prejudicadas
Horas depois do anúncio do Prêmio Nobel da Paz para o dissidente chinês Liu Xiaobo, o governo chinês reagiu como se estivesse seguindo um roteiro. Como esperado – e como era apropriado, já que Liu é um defensor da liberdade de imprensa - apagou a notícia do prêmio dos sites chineses, removeu o nome de Liu do Twitter e impediu uma transmissão da CNN de Oslo. O governo também fez uma série de denúncias padrão. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores descreveu Liu como “um criminoso condenado à prisão pelas autoridades da justiça por violação da lei chinesa”. Premiando Liu, o comitê tinha “desprezado totalmente o propósito do prêmio” e “cometido uma blasfêmia contra o prêmio da paz”.
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E não parou por aí. “Até recentemente, a China e a Noruega tinham boas relações”, declarou ameaçadoramente. Não mais.
Só há uma possível reação a isso: quem se importa com as relações entre a China e a Noruega? Certamente não os noruegueses, cujos padrões de vida invejavelmente altos derivam de sua baixa população e de suas fontes de gás offshore, e não de seu comércio com a China. É verdade que o governo norueguês está atualmente negociando um acordo de comércio livre com a China, mas não é de suma importância: tudo junto, o comércio da Noruega com a China (2% das exportações, 7% das importações) é uma pequena fração de seu intercâmbio com a União Europeia e o balanço é inteiramente em favor da China.
Esse, é claro, é precisamente o ponto. Quando criou o prêmio, o milionário sueco explosivo Alfred Nobel decretou que o comitê de seleção deveria consistir somente de cinco noruegueses. Seu raciocínio foi: a Noruega está fora do centro da Europa e, portanto, os noruegueses devem ser menos sujeitos à corrupção. Como salientei no ano passado –quando o Prêmio Nobel da Paz inexplicavelmente foi para o recém eleito presidente Obama –os noruegueses, estando fora do centro da Europa, também podem ser mais excêntricos. Neste caso, sua excentricidade é demonstrada pelo fato deles genuinamente não darem a mínima para a reação do governo chinês.
No mundo moderno, poucas nações estão em posição de ser tão indiferentes. Os britânicos e franceses aplaudiram a premiação com cautela. Os porta-vozes de seus Ministérios de Relações Exteriores declararam imediatamente que tinham pedido a soltura de Liu no passado. Mas a UE foi mais cuidadosa: o presidente da Comissão Europeia, Jose Manuel Barroso, fez uma declaração geral em apoio a “todos em torno do mundo que, por vezes com grande sacrifício, lutam pela liberdade e direitos humanos”.
A Casa Branca, enquanto isso, ficou preocupantemente silenciosa: apesar do fato da secretária de Estado Hillary Clinton também ter pedido a libertação de Liu em uma conferência pela democracia no verão passado, o Departamento de Estado não emitiu uma declaração imediata de congratulação após o anúncio, apesar de ter conseguido fabricar uma declaração pelo 40º aniversário da independência de Fiji.
Mais ao ponto, o vencedor do ano passado demorou a manhã toda para parabenizar seu sucessor. Até meio dia, nem uma palavra havia sido dita: presumivelmente, todos estavam suando em torno das palavras da declaração. Finalmente, ela apareceu. Foi suficientemente direta: o presidente descreveu Liu como “um eloquente e corajoso porta-voz pelo avanço dos valores universais”, pediu que o governo chinês soltasse Liu “o mais cedo possível” e mandou um agrado apontando para o “dramático progresso da reforma econômica na China”, só para o caso de eles ficarem sentidos.
Alguns minutos depois, quando se reuniu com a mídia no Jardim Rosa para dar um adeus oficial a Jim Jones, o presidente se recusou a elaborar mais. Realmente não estamos na Noruega.
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