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Latinos devem se unir em busca de "plano B" para os imigrantes ilegais nos EUA

Mulheres e crianças que foram deportadas dos Estados Unidos são escoltadas por um agente de imigração após chegarem à Guatemala, em julho - Moises Castillo/AP
Mulheres e crianças que foram deportadas dos Estados Unidos são escoltadas por um agente de imigração após chegarem à Guatemala, em julho Imagem: Moises Castillo/AP

17/09/2014 00h00

Em relação a fornecer aos imigrantes ilegais um caminho para a cidadania, o presidente Barack Obama já quebrou duas promessas. A primeira foi a de apresentar o projeto de reforma da imigração ao Congresso no seu primeiro ano de mandato; a segunda foi seu recente adiamento de uma ação executiva a respeito da imigração até depois das eleições de novembro. Enquanto isso, seu governo já deportou mais de 2 milhões de imigrantes ilegais desde que tomou posse em 2009.

Sem causar surpresa, o presidente tem um problema de credibilidade na comunidade latina, que mantém a questão da imigração próxima de seu coração. Mas Obama é tudo o que temos: o destino dos 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem nos Estados Unidos está nas mãos dele. A curto prazo, Obama é nossa única esperança de progresso.

É claro, essa esperança é difícil de manter quando, repetidas vezes, vemos que a política fala mais alto que governar. Em 30 de junho, em meio aos esforços republicanos para bloquear qualquer progresso da reforma da imigração no Congresso, o presidente declarou em um discurso na Casa Branca que recorreria a uma ação executiva para ajudar milhões de imigrantes ilegais nos Estados Unidos a saírem das sombras antes do final do verão (no Hemisfério Norte). Essa ação acabou sendo adiada, supostamente para proteger os candidatos democratas ao Congresso de qualquer reação contrária quando os eleitores forem às urnas em novembro.

Funcionários da Casa Branca insistem que tudo é apenas questão de "momento" e que o presidente cumprirá sua promessa ainda neste ano. Enquanto isso, tudo o que podemos fazer é esperar e torcer.

Mas enquanto as deportações sob o governo Obama continuam a separar famílias, e a prometida reforma da imigração continua sendo adiada, nós devemos reconhecer duas coisas.

Primeiro, os republicanos no Congresso continuam sendo os verdadeiros obstáculos à reforma, especialmente John Boehner, o temível e passivo presidente da Câmara. Infelizmente, será preciso grandes derrotas eleitorais para convencer os republicanos que não podem continuar contrários à reforma da imigração e esperar conquistar o cada vez mais importante voto latino nos Estados Unidos. Se os republicanos não mudarem sua estratégia, a eleição presidencial de 2016 será um verdadeiro pesadelo para o partido deles.

Segundo, quando se trata da reforma, os defensores da imigração não têm um plano B. Nós fomos ingênuos e depositamos toda nossa confiança na Casa Branca e em alguns poucos legisladores democratas, mas isso não foi suficiente. Nós devíamos ter aprendido com as experiências de outras minorias --gays, afro-americanos, mulheres, cubano-americanos-- e criar coalizões bipartidárias para ajudar a promover o progresso. Nosso fracasso em fazê-lo foi um erro, e agora estamos pagando o preço.

Sem coalizões políticas, os latinos e todos aqueles que apoiam a reforma da imigração ficaram aguardando pela ajuda de Obama. Sim, ele ainda pode vir a ser nosso maior aliado. Talvez ele ajude milhões de imigrantes ao corajosamente adiar as deportações, como fez para mais de meio milhão de jovens adultos ilegais conhecidos como "sonhadores", que foram trazidos por seus pais aos Estados Unidos quando eram crianças.

Mas todo tipo de variáveis poderiam mudar as coisas. E se, por exemplo, em vez de oferecer mais vistos de trabalho aos imigrantes e adiar as deportações, Obama decidisse ajudar menos pessoas? Ou o que aconteceria se uma crise internacional ou um ataque terrorista mudasse totalmente o cálculo político? Os defensores da imigração ficariam impotentes e os imigrantes ilegais ficariam sem esperanças.

Mesmo se Obama mantiver sua palavra desta vez e assinar uma ordem executiva em novembro ou dezembro, os republicanos certamente contestarão suas ações, potencialmente adiando a reforma de fato até que Obama deixe o cargo, em 2017.

Nós precisamos conceber um plano B para a reforma da imigração e o avanço da comunidade latina não deveria depender de alguém nos fazer um favor. Para avançar, vamos aprender com a história e nos inspirarmos com aqueles na comunidade latina que superaram enormes obstáculos: pessoas como Cesar Chavez, o ativista dos trabalhadores rurais, ou mesmo com os homens e mulheres jovens do movimento sonhador. Eles nunca desistiram; eles lutaram, apesar de seu medo, e confrontaram de frente líderes poderosos. Eles apresentaram argumentos inteligentes e fizeram as pessoas perceberem que o triunfo deles seria um triunfo de todo o país.

Vamos reconhecer nossos erros do passado e decidir estarmos mais bem preparados daqui em diante. Eu estou certo que, cedo ou tarde, os Estados Unidos serão tão generosos com todos os imigrantes quanto foram comigo. Mas nós somos responsáveis por promover a mudança. Ninguém mais pode fazer isso por nós.