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Por motivos eleitorais ou por convicção, declaração de Obama sobre casamento gay mudará a história

Obama durante entrevista concedida a Robin Roberts, da ABC News, na qual declarou que apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo - Pete Souza/White House/The New York Times
Obama durante entrevista concedida a Robin Roberts, da ABC News, na qual declarou que apoia o casamento entre pessoas do mesmo sexo Imagem: Pete Souza/White House/The New York Times

De Boston

12/05/2012 06h00

A declaração de Barack Obama em favor do casamento gay, no dia 9, polariza o debate político nos Estados Unidos e terá certamente consequências na eleição presidencial americana. O anúncio também teve repercussões internacionais. Vários jornais publicaram reportagens elencando países, religiões e costumes que, pelo mundo afora, reprimem muitas vezes brutalmente o homossexualismo e, mais ainda, as uniões entre pessoas do mesmo sexo. No diário "Boston Globe", a reportagem cita as reações que a declaração de Obama – bom exemplo para uns e mau exemplo para outros - suscitou nos diversos continentes.

Segundo conselheiros da Casa Branca citados pelos jornais americanos, Obama tinha a intenção de expor sua opinião sobre o assunto mais tarde, nas vésperas da convenção do Partido Democrata, no começo de setembro. Mas a entrevista do vice-presidente Joe Biden no dia 6, declarando-se favorável ao casamento gay, acelerou o pronunciamento presidencial. Quaisquer que tenham sido as circunstâncias, de caso pensado ou por obra do acaso, as iniciativas dos últimos dias se encadearam para dar grande destaque ao anúncio presidencial.

Na sequência do debate lançado por Biden, Obama deu uma entrevista exclusiva cuidadosamente preparada -, falando da evolução de suas ideias, mencionando casais gays que são amigos dele e de sua família, ou que trabalham com ele no governo -, para uma rede de TV, a ABC, e para uma jornalista amiga, Robin Roberts, escolhidos, ambas as duas, pela Casa Branca.

O site de direita “NewsBusters.org” denunciou imediatamente o que lhe pareceu uma manobra política, visto que Robin Roberts é uma jornalista negra de assumida fé cristã, pertencendo assim a duas comunidades que são contrárias ao casamento gay. Favorável a Obama, o jornal “The New York Times”, numa análise de fôlego escrita por Adam Nagourney notou, entre outros pontos importantes, que o grupo de homens e mulheres gays está entre os maiores doadores da campanha de Obama.

De uma maneira geral, os analistas consideram que a sociedade americana evoluiu bastante e que o apoio ao casamento homossexual se generalizou, atravessando as linhas partidárias. Assim, segundo as sondagens, a porcentagem dos americanos favoráveis a essa forma de união conjugal passou de 27% em 1996 a 47% em 2012.   

Resta que a iniciativa revigora a campanha presidencial democrata, principalmente entre os jovens americanos, bastante favoráveis ao casamento gay. Para os republicanos, o assunto é uma má surpresa. Certo de vencer as primárias republicanas depois da desistência de Santorum e de Gingrich, Mitt Romney pretendia concentrar suas críticas na Casa Branca e centrar o debate no terreno econômico, onde a recessão e o desemprego lhe oferecem mais argumentos contra Obama. Nesta perspectiva, a discussão sobre o casamento gay embaralha seus planos, aparecendo como um tópico tão imprevisto quanto inoportuno.

No final das contas, por motivos eleitorais ou por convicção, Obama fez uma declaração que mudará a história de seu país e de boa parte do mundo, fazendo jus, desta vez, ao prêmio Nobel da Paz que lhe foi atribuído de maneira meio inesperada em 2009.