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Economista do momento defende que concentração de renda se acelera nos países ricos

Economista francês Thomas Piketty apresenta seu livro "Capital no Século XXI", em Washington DC, EUA - Ivan Couronne/ AFP
Economista francês Thomas Piketty apresenta seu livro "Capital no Século XXI", em Washington DC, EUA Imagem: Ivan Couronne/ AFP

17/04/2014 08h26

O "Capital no Século XXI", do economista francês Thomas Piketty é o livro mais discutido no momento na Europa e nos Estados Unidos.

Paul Krugman não para de comentar e de elogiar a originalidade e a elegância do livro. Outro prêmio Nobel de Economia americano, Robert Solow, da geração anterior a de Krugman, saiu de seu descanso de aposentado nonagenário do MIT para debater e saudar o livro "fascinante" de Piketty no Washington Center for Equitable Growth.

No mesmo debate pode-se ouvir Piketty apresentar seu livro no seu inglês fortemente marcado pelo sotaque francês. O que diz Piketty? Essencialmente que a concentração da renda nos países ricos se acelerou nas últimas décadas. No mesmo pique, as sociedades avançadas estão se reaproximando do modelo social do século 19, onde a renda estava na mão dos herdeiros -- do capitalismo oriundo do patrimônio -- em detrimento dos empresários enriquecidos por seu próprio trabalho, sua própria iniciativa.

Assim, antes da Primeira Guerra Mundial, os pertencentes à faixa de 1% mais ricos detinham um quinto da renda total nos Estados Unidos e no Reino Unido. Em 1950, graças à política fiscal mais igualitária do pós-guerra, este contingente viu sua parte se reduzir consideravelmente. Mas a partir dos anos 1980, depois da política de desfiscalização dos mais ricos implementada nos Estados Unidos por Reagan e por Thatcher no Reino Unido, a renda dos mais ricos começou a subir de novo, trazendo as sociedades mais avançadas para o modelo oitocentista de concentração da renda. Desse modo, os 1% mais ricos se apropriaram de um quinto da renda americana em 2012, o mais alto nível de concentração desde 1913, quando o imposto de renda foi criado nos Estados Unidos.

No seu comentário ao livro, Solow afirma que este tipo de concentração da renda leva, a médio prazo, a uma baixa dos investimentos produtivos, à estagnação e ao aumento do desemprego.

Note-se que tudo isso decorre, não por uma falha do mercado, mas por causa da política governamental, fiscal, deliberadamente favorável aos mais ricos. Por essas e por outras, Piketty prefere usar o termo oriundo do marxismo "economia política", em vez do termo mais corrente e mais pretensioso, generalizado no Brasil, de "ciência econômica".

O Brasil só é citado rapidamente no livro, quando Piketty fala da tendência geral do decrescimento demográfico ou da reação às políticas de austeridade do FMI.

Para muitos de seus leitores, entre os quais me situo, o livro de Piketty trouxe uma grande satisfação suplementar: a reabilitação dos grandes historiadores (de Fernand Braudel e do conceito de "longa duração"), da literatura (de Balzac e de Jane Austen aos quais um subcapítulo é dedicado), da cultura geral e da ideia que o estudo da economia deve se associar às ciências humanas e à cultura geral. Enfim, trata-se também de um livro muito bem escrito.

Retomo aqui a conclusão de um dos comentários de Krugman sobre o livro de Piketty: "Minha admiração é reforçada por meu ciúme profissional: que livraço!"