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Vitória da extrema-direita devasta a política da França e inquieta a Europa

29/05/2014 17h56Atualizada em 29/05/2014 18h14

As eleições parlamentares europeias do último domingo (25) tiveram profundas repercussões na UE (União Europeia). Juntando os votos conquistados seja pelos partidos parcialmente anti-UE ou totalmente "eurófobos", que são de extrema-direita (Reino Unido, Dinamarca, França, Áustria), de direita (Polônia, Hungria, Itália), de esquerda (Suécia, Espanha) ou de extrema-esquerda (Grécia), um quarto dos eleitores votaram contra as instituições europeias.

Há certamente diferenças no interior da cada uma dessas tendências políticas. Assim, na extrema-direita, o Front National (FN), de Marine Le Pen, que se tornou o partido mais votado da França, e o Ukip, de Nigel Farage, que rompeu o monopólio exercido pelos trabalhistas e conservadores na vida política do Reino Unido desde 1906, não vão atuar juntos no Parlamento de Bruxelas.

De fato, para formar um bloco parlamentar de partidos de extrema-direita no Parlamento Europeu, Marine Le Pen precisa reunir 25 deputados de sete dos 28 países membros da UE. Por enquanto, conseguiu o apoio de cinco partidos (cujos representantes vêm da França, Holanda, Itália, Bélgica e Áustria), mas não obteve a adesão altamente significativa do partido eurófobo inglês Ukip.

Num interessante debate sobre as eleições no canal franco-alemão Arte, um dos especialistas notou que, no final das contas, os antieuropeus de direita e de esquerda (antes representados pelos partidos comunistas europeus) sempre tiveram uma média de 20 ou 25% dos votos no Parlamento Europeu.

Neste contexto, o que aparece mesmo como o fato mais marcante dessas eleições europeias é a vitória do FN na França, país que concebeu e fundamentou, junto com a Alemanha, os avanços europeus nos últimos 50 anos. Com 25% dos votos, o FN ultrapassa os gaullistas da UMP (21%) e o Partido Socialista (PS) aliado aos Radicais de Esquerda (14%).

Na presidência e com maioria parlamentar há dois anos, o PS e seu aliado realizam um dos piores resultados eleitorais de sua história. Uma sondagem realizada em seguida, mostrou que somente 3% dos eleitores desejam que Hollande seja candidato à reeleição em 2017. Mais humilhante ainda, as sondagens mostram que a maioria dos jovens e dos trabalhadores, eleitorado tradicional da esquerda, votaram no Front National.

A direita gaullista também sai muito enfraquecida. Logo em seguida às eleições, a revelação de um escândalo sobre as contas da campanha presidencial de 2012 levou o chefe da UMP, Jean-François Copé, a se demitir da direção do partido.

No final das contas, o resultado da eleição de domingo, inquietou toda a União Europeia e deixou um paisagem de devastação na cena política partidária da França.