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Drama da imigração ilegal de crianças para os EUA cria dilema para Obama

2.jul.2014 - Manifestantes anti-imigração bloquearam a chegada de três ônibus que transportavam famílias centro-americanas para uma estação da polícia de fronteira dos Estados Unidos - Hayne Palmour/Xinhua
2.jul.2014 - Manifestantes anti-imigração bloquearam a chegada de três ônibus que transportavam famílias centro-americanas para uma estação da polícia de fronteira dos Estados Unidos Imagem: Hayne Palmour/Xinhua

04/07/2014 09h35Atualizada em 04/07/2014 11h30

Geralmente reservado às margens europeias do mar Mediterrâneo, o cenário de um grande drama causado pela imigração clandestina se desenha na fronteira dos Estados Unidos com o México.

Como nas migrações de africanos e asiáticos para a Europa, é a miséria que leva milhares de centro-americanos, e também de brasileiros e outros sul-americanos, a tentar entrar no Texas de qualquer jeito. Mas o caso americano revela agora um fenômeno particularmente trágico: a entrada ilegal, cada vez mais numerosa, de crianças.

Nesta semana, o presidente Obama classificou a situação como uma “crise humanitária”. Segundo a administração federal americana, mais de 50 mil “menores desacompanhados” foram detidos tentando cruzar a fronteira nos seis primeiros meses deste ano.

Do lado mexicano, as autoridades informam que o número de crianças e adolescentes detidos na fronteira -, geralmente vindos da Guatemala, Honduras e El Salvador -, aumentou 7% este ano.

Contrariamente aos clandestinos mexicanos, que são imediatamente deportados para o outro lado da fronteira, os centro-americanos são primeiro identificados como originários de tal ou tal país, e em seguida liberados para se apresentar um mês depois aos serviços federais. Muitos deles desaparecem e juntam-se aos onze milhões de clandestinos que residem nos Estados Unidos.

No caso específico das crianças, os republicanos e a direita americana afirmam que o presidente Obama agravou a situação ao permitir, em 2012, que menores imigrantes clandestinos pudessem ficar nos Estados Unidos por dois anos.

Por sua vez, a Casa Branca atribui o fenômeno ao aumento da violência em países da América Central e a grupos locais que estimulam a imigração para explorar os imigrantes ou por outros motivos.

Especialistas no assunto dizem que a maioria das crianças, mandada por outros parentes, tenta juntar-se aos pais que já residem nos Estados Unidos. 

Obama sofre pressão dos governistas e da oposição para resolver logo a crise. Liderados por Rick Perry, ex-presidenciável e atual governador do Texas, os republicanos exigem que todos os imigrantes ilegais centro-americanos, adultos e crianças, sejam deportados imediatamente.

Setores democratas, sobretudo os de origem latino-americana, clamam para que Obama seja mais tolerante e restrinja as deportações.

O tema terá um impacto importante nas eleições legislativas intermediárias de novembro próximo, nas quais a taxa de abstenção eleitoral é geralmente alta.

Se os eleitores democratas de origem latino-americana, irritados com a política imigratória de Obama, se abstiverem, os republicanos, que já detêm a maioria da Câmara, podem reconquistar o Senado. Obama passará assim os dois últimos anos de seu mandado frente a um Congresso totalmente dominado pela oposição.