'Reencarnação de Jesus e Da Vinci': quem é falso profeta acusado de estupro
Jair Tércio Cunha Costa, conhecido como o "falso profeta", foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão após ser acusado de uma série de crimes sexuais na Bahia, e está foragido. Ex-grão-mestre de uma loja maçônica, ele utilizava sua posição para abusar de mulheres, convencendo-as de que era um "ser iluminado".
Quem é Jair e o que se sabe sobre o caso
Jair Tércio Cunha Costa é acusado de mais 21 crimes de assédios sexuais e se autointitulava um "Messias" ou "líder espiritual". Ele teria abusado de sua influência para explorar mulheres e adolescentes sexualmente.
Ele foi denunciado oficialmente por abusar de 14 mulheres, muitas delas menores de idade, e submetê-las a violência moral e psicológica. Originalmente, foi sentenciado a 13 anos e quatro meses de prisão, mas em fevereiro deste ano sua pena aumentou para 17 anos e seis meses em regime fechado. O crime foi reclassificado de importunação sexual para estupro de vulnerável, conforme o artigo 217. Nem todas as 21 denúncias resultaram em condenação devido à prescrição dos crimes.
Costa virou líder espiritual em 1984 quando fundou a OCIDEMNTE (Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais). O perfil da organização ainda existe no Instagram e a última publicação foi feita em 2023.
Os seguidores de Costa precisavam passar por rituais de iniciação, sempre realizados em locais paradisíacos. Nesses rituais, passavam fome, frio e sede, e eram submetidos a exercícios de resistência física e psicológica.
Costa dizia ser a reencarnação de Jesus e, ao mesmo tempo, do profeta Maomé e do pintor Leonardo Da Vinci. Seus seguidores ainda o defendem das acusações, citando a pureza de suas intenções. Porém, mulheres ouvidas pelo programa Linha Direta, da TV Globo, expressam o contrário.
A pedagoga Tatiana Badaró contou que, aos 16 anos, começou a namorar um rapaz que seguia os preceitos do Imutabilismo, como é chamada a seita criada por Costa. Após engravidar, foi chamada pelo "mestre", que lhe disse que o namorado só assumiria a criança se ela passasse a fazer parte da seita. Já fazendo parte do grupo, Tatiana teve que passar a seguir os "códigos de conduta" da seita permitindo, entre outras coisas, que o então namorado rasgasse todas as suas roupas para, depois, determinar as que seriam usadas por ela.
Outra participante da seita, não identificada pelo Linha Direta, afirmou que Costa começou a pedir fotografias a ela. Ele dizia que iria fazer uma "leitura" dela, para que pudesse encontrar caminhos e se "libertar".
Cura gay
Uma jovem lésbica foi submetida a sessão de "cura" da homossexualidade ao ser fecundada com os espermatozoides do líder da seita. O caso foi narrado pela promotora de Justiça Márcia Teixeira ao Linha Direta. Segundo a Justiça, isso configura um "estupro corretivo". Ou seja, uma prática criminosa em que uma ou mais pessoas, geralmente familiares ou pessoas próximas, violam um indivíduo, supostamente para alterar a sua orientação sexual.
Eu confiava muito nele e queria ser curada mesmo, queria sair daquele martírio que ele colocava na minha cabeça. Se era um sofrimento, tinha cura. Eu não sabia por que a minha família toda é de héteros. Cresci vendo que o normal era uma mulher e um homem estarem juntos e terem filhos, afirma a jovem.
Chamada para uma visita presencial ao flat onde Costa vivia, ela foi estuprada pelo líder. "Ele arrancou minha roupa e me violentou de uma maneira muito bruta. Naquele momento eu descobri da pior forma possível que ele era homem e o que era estar com um homem. Ele tirou tudo o que havia de mais puro em mim. A minha inocência, a minha virgindade. Ele se transformou em um bicho, um animal".
Costa foi condenado a 12 anos de prisão pelo estupro dessa jovem. Ficou claro para a Justiça que ele abusava de menores de idade, o que ficou comprovado por mensagens trocadas com outra adolescente, de 16 anos.
O "falso profeta" é considerado um foragido da justiça e atualmente consta na lista da Interpol. Quem tiver informações sobre o seu paradeiro pode informar através do número de telefone 181, de forma sigilosa.
O UOL entrou em contato com a Fundação Ocidemnte e o Ministério Público da Bahia para obter mais informações, mas até o momento não houve resposta aos questionamentos. O espaço segue aberto para manifestações.
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