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A União Europeia e o retorno ao passado

15.mar.2015 - Homem passa por grafite dedicado ao Holocausto na cidade grega de Salônica; a comunidade judia local relembrou no domingo o aniversário da primeira deportação para os campos de concentração nazistas durante a 2ª Guerra - Alexandros Avramidis/Reuters
15.mar.2015 - Homem passa por grafite dedicado ao Holocausto na cidade grega de Salônica; a comunidade judia local relembrou no domingo o aniversário da primeira deportação para os campos de concentração nazistas durante a 2ª Guerra Imagem: Alexandros Avramidis/Reuters

16/03/2015 10h16

Um incidente banal entre a França e a Bélgica ilustra a persistência dos nacionalismos europeus.

Sob pressão do governo francês, a Bélgica sustou a comercialização de uma moeda de dois euros que comemorava a vitória de Waterloo. Foi nesta pequena cidade do sul de Bruxelas que Napoleão e as tropas francesas foram definitivamente derrotadas em 18 de junho de 1815 pelas tropas inglesas e prussianas comandadas por Wellington e Blücher.

Na época, a Bélgica ainda não existia, mas batalhões belgas participaram da batalha ao lado dos anglo-prussianos sob o comando dos oficiais dos Países Baixos. Portanto, Waterloo é também uma vitória belga.

O jornal "Libération", que publica uma pequena nota sobre o assunto, informa que fontes francesas alegaram que o pedido para suspender a circulação da moeda visava evitar "tensões inúteis na Europa".

Do lado belga, houve protestos contra o prejuízo de 1,5 milhão de euros resultante da fundição das 180.000 moedas que já haviam sido cunhadas. A Inglaterra celebrará em grande pompa a vitória sobre Napoleão. Mas, a Bélgica, dividida entre flamengos (neerlandófonos) e valões (francófonos), não pode desagradar a França.

Outro incidente, muito mais grave, opõe a Grécia à Alemanha. No meio das difíceis negociações entre Atenas e Berlim a respeito da dívida pública grega com a zona euro - e sobretudo com os credores alemães -, o governo do primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, reabriu a questão das reparações de guerra por parte da Alemanha.

Martirizada pela ocupação nazista durante a Segunda Guerra, a Grécia agora dá o troco. A demanda grega tem três partes: a indenização pelos estragos da ocupação nazista, o reembolso de empréstimo "concedido" pela Grécia ao governo de Hitler e a reparação às famílias de 218 civís, homens, mulheres e crianças, massacrados com grande selvageria numa aldeia grega pelos soldados alemães.

O governo e os juristas alemães alegam que o problema já foi resolvido nos acordos de Londres, de 1953, e de Moscou, 1990, que quitaram as dívidas alemãs oriundas da Segunda Guerra. Outros especialistas, gregos e europeus, pensam que as duas últimas reivindicações gregas ainda podem ser cobradas dos alemães.

A construção da União Europeia apaziguou muitos dramas históricos que sacudiram e ensanguentaram o Velho Mundo nos dois últimos séculos. Porém, vira e mexe o passado das guerras europeias volta aos debates da atualidade.