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A aposta arriscada da Polônia no euro

05/04/2013 00h01

A Polônia ainda não está perdida. Mas seus líderes parecem determinados a dar uma chance ao desastre.

A Polônia é uma das histórias relativas de sucesso da Europa. O país evitou a recessão severa que afligiu grande parte da periferia europeia e então exibiu uma recuperação razoavelmente forte.

Como mostra o gráfico, o crescimento caiu mais recentemente, em grande parte devido à austeridade fiscal, além da decisão enigmática das autoridades polonesas de copiar o Banco Central Europeu e elevar as taxas de juros em 2011.

Ainda assim, segundo os padrões europeus, há uma ausência refrescante do puro horror econômico.

E muito desse sucesso relativo claramente tem a ver com o fato de a Polônia não apenas manter sua própria moeda, como também o de ter permitido que o zloty flutuasse. Assim, durante os anos de grandes fluxos de capital para a periferia europeia, a Polônia viu uma valorização da moeda em vez de uma inflação diferencial, e conseguiu corrigir rapidamente a taxa de câmbio real quando chegou a crise.

Logo, o que a liderança da Polônia deseja fazer? Ora, juntar-se ao euro, é claro. Isso realmente me dá vontade de bater a cabeça contra uma parede.

Pense na Espanha, Irlanda e agora no Chipre. Quantas evidências são necessárias de que o euro é uma armadilha, que pode deixar facilmente os países sem boas opções diante de uma crise? Mesmo se você acreditar na lenda da Letônia, o que não deveria, você teria que reconhecer que o ingresso no euro é, na melhor das hipóteses, uma aposta, com uma desvantagem potencialmente terrível.

A farsa do tamanho único

Nesta semana, Joe Weisenthal, da "Business Insider", apresentou os índices dos gerentes de compras realmente funestos da Europa (índices baseados em pesquisa que funcionam como indicadores de alerta iniciais para os dados econômicos oficiais). Não há dúvida de que o Continente está mergulhando profundamente em recessão, mesmo nos países centrais.

E ler essa notícia faz com que eu me recorde de algo que queria escrever –o de que as discussões sobre os problemas da Europa e o debate em torno da austeridade frequentemente sofrem de uma tendência de misturar duas questões um pouco diferentes.

Uma questão –que é a que recebe mais atenção– envolve o grau de austeridade imposto aos países devedores. Claramente, os países devedores têm pouca escolha a não ser aceitar as exigências da troika (o Banco Central Europeu, a Comissão Europeia e o Fundo Monetário Internacional) a menos que estejam dispostos a abandonar o euro– e essa é uma linha que ninguém ainda se mostrou disposto a cruzar, apesar de Chipre e o início dos controles de capital ali deixarem essa possibilidade mais próxima.

Eu argumentaria que o interesse próprio por parte da troika pediria por austeridade mais branda. Mas mesmo os céticos da austeridade concordariam que um pouco de austeridade nesses países é inevitável, que é o preço de uma política monetária tamanho único.

Mas há uma questão separada –o status da Europa como um todo.

O que aconteceu na Europa é que os países periféricos foram forçados a adotar uma austeridade extrema, mas que não foi compensada pelos países centrais –na verdade, os países centrais também adotaram medidas de austeridade, apesar de não tão severas. Assim, o resultado geral é uma forte contração fiscal na Europa –o balanço ciclicamente ajustado agora é de um arrocho muito maior do que antes da crise, apesar da demanda no setor privado permanecer muito fraca– sem nenhuma compensação de uma política monetária mais frouxa.

Os autores de política europeus parecem surpresos que essa mistura de políticas tenha levado a uma recessão de duplo mergulho, mas não deveriam –isto é exatamente o que prevê a macroeconomia básica.

Isto, por sua vez, mostra que o euro é uma construção ainda mais falha do que a teoria de uma área monetária ótima poderia prever. A teoria enfatizou o problema de um sistema "tamanho único" diante de "choques assimétricos" –os países supostamente lidam separadamente com uma recessão enquanto o restante da área monetária passa por boom.

Mas o que se mostrou é que em tempos de ampla fraqueza econômica, este problema é agravado pela assimetria das pressões enfrentadas pelos países, com economias problemáticas sendo forçadas a adotar políticas mais duras, enquanto as economias com menos problemas não sentem necessidade de um relaxamento, de modo que a posição geral dos políticos e das políticas econômicas apresenta um forte viés deflacionário.

Como Matt O'Brien, um editor associado da "The Atlantic", escreveu recentemente, esta é a mesma questão que os países enfrentavam sob o padrão ouro –um problema que resolveram, posteriormente, abandonando o ouro.

Se os autores de políticas europeus realmente quiserem salvar o euro, o que deveriam fazer é enfrentar duramente o viés deflacionário de seu sistema. Infelizmente, até onde posso dizer, eles não estão nem mesmo dispostos a reconhecer que o problema existe.