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Espalhando a mensagem do Vale do Silício do Panamá ao Paquistão

Richard Branson

24/07/2015 00h02

Pergunta: Como parte do meu trabalho com a Seedstars World, uma competição internacional de novas empresas voltada a encontrar grandes empreendedores nos mercados emergentes, eu viajei para 35 países em 10 meses, para conhecer empreendedores e ajudá-los a desenvolver suas ideias.

Meus colegas e eu conversamos com pessoas de novas empresas incríveis, como uma na África do Sul que produz um alarme de incêndio barato para moradores de favela, outra em Dubai que produz um sistema de tradução em tempo real para deficientes auditivos, ou uma na Indonésia, que está desenvolvendo um alimentador inteligente de peixes para fazendas de aquicultura.

Os fundadores nesses mercados emergentes sempre fazem as mesmas perguntas:

–Como podem encontrar financiamento?

–Como podem trazer a mentalidade inovadora, empresarial, do Vale do Silício para seu país?

–Como podem persuadir os governos locais a apoiarem mais os empreendedores?

Significaria muito para empreendedores de todo o mundo se você pudesse compartilhar seu conhecimento sobre essas perguntas.

–Julien Berthomier

Resposta:Julien, é ótimo saber que você está saindo e conhecendo pessoas. Nada supera as experiências da vida real, e está claro que você conheceu alguns empreendedores fascinantes durante suas viagens. Encontros desse tipo afetarão suas decisões caso algum dia você decida se aventurar pessoalmente no empreendedorismo.

 Apesar dos avanços tecnológicos terem ajudado a nivelar o campo de jogo, não há dúvida de que os empreendedores que trabalham nos mercados emergentes não contam com tantas opções como aqueles baseados em centros prósperos de novas empresas, especialmente  no que se refere a encontrar investidores. 

Esforços como esse do qual você participa oferecem o início de uma solução. O crescente número de plataformas de crowdfunding está tentando ajudar empreendedores até mesmo nas áreas mais remotas. Por exemplo, o Indiegogo de San Francisco, no qual eu mesmo investi, ajudou a financiar projetos em muitos países, do Panamá ao Paquistão. Sites voltados especificamente aos mercados emergentes, como o recém-lançado Emerging Crowd, com sede no Reino Unido, oferece aos investidores de países desenvolvidos a chance de participarem. 

Pode levar algum tempo, mas assim que o fluxo de investimento nos mercados emergentes aumentar, é possível que mais empresas nessas regiões poderão se estabelecer e, posteriormente, prosperar. Quando isso acontecer, poderá aumentar a probabilidade desses mercados atraírem pessoas talentosas para suas cidades, estabelecendo redes de distribuição e promovendo melhorias em outras áreas que são vitais para a criação de um forte centro de estímulo a novas empresas. 

Não é preciso dizer, você não encontrará um ecossistema mais próspero que o do Vale do Silício. Obviamente há muito o que outras regiões podem aprender com aquela comunidade de empreendedores e suas realizações, mas eu não aconselharia outros a usá-la como um modelo. É melhor notar os fatores que permitiram o sucesso do Vale do Silício e aplicá-los cuidadosamente. 

Eu visitei recentemente Detroit para o voo inaugural da Virgin Atlantic para aquela cidade. Enquanto estive lá, eu vi um ótimo exemplo de como uma cidade pode criar um centro empresarial capaz de refletir os pontos fortes da comunidade. Se a liderança de Detroit tentasse recriar o Vale do Silício, é improvável que teria sucesso. Mas a cidade tem uma história orgulhosa no setor manufatureiro e conta com pessoas e habilidades para torná-lo de novo uma grande área de foco. 

Em consequência, agora há uma nova onda de novas empresas em Detroit produzindo de tudo, de novos móveis inovadores para o lar até estojos para telefone feitos de tacos de hóquei reciclados. Marcas como Shinola, com um forte foco em manufatura de qualidade e que produz relógios, artigos em couro, bicicletas e outros itens, perceberam que cada lugar tem uma história para contar e que se você contá-la bem, essa história repercutirá junto aos clientes. Detroit tem o potencial de ser uma das maiores histórias do mundo de recuperação de uma cidade. Os clientes querem ouvir a respeito disso das empresas que operam lá –eles não estão interessados em algum clone do Vale do Silício.

A história do relacionamento entre governo e empresas é diferente em cada país, de modo que a tarefa de persuadir o governo a apoiar novas empresas precisa ser abordada de forma um pouco diferente em cada caso. 

Nós lançamos há quase dois anos a Virgin Startup, nossa empresa sem fins lucrativos que ajuda a associar empreendedores a mentores, facilitando ao mesmo tempo empréstimos a taxas baixas de juros. Os empreendedores que estamos financiando estão experimentando alguns ótimos sucessos –sucessos que não seriam possíveis sem uma mudança de atitude por parte do governo britânico, que oferece os empréstimos. 

Nem sempre foi assim no Reino Unido –em alguns momentos ao longo dos últimos 50 anos, o relacionamento entre governo e empresas era um pouco tenso. Mudar a mentalidade das pessoas sobre como ajudar os donos de pequenas empresas envolveu anos de trabalho árduo, mas no final, nossa equipe da Virgin conseguiu apresentar um argumento a favor de um esquema de financiamento que não podia ser negado. Com cortes sendo feitos no setor público, fazia sentido o governo apoiar os empreendedores do país, já que o setor privado pode fornecer muitas das soluções para os problemas que enfrentamos. 

Toda vez que falo em uma conferência ou evento empresarial fora do Reino Unido, membros da plateia me perguntam quando trarei a Virgin StartUp para o país deles. Está claro que há um grande apetite para que governos de todo o mundo demonstrem mais apoio aos empreendedores –vamos torcer para que mais governos vejam os benefícios de fazê-lo.

Boa sorte em sua próxima aventura, Julien! Com as perguntas que você está fazendo, não ficarei surpreso se você acabar trabalhando para resolver alguns desses desafios.

Como construir um centro de inovação

Líderes cívicos e empresariais de todo o mundo olham para o Vale do Silício como um exemplo de um centro próspero de inovação. O que podemos aprender com seus sucessos?

–Aprenda, em vez de imitar: uma tentativa de duplicar exatamente o ecossistema de novas empresas do Vale do Silício poderá não funcionar em outro lugar. Em vez disso, aprenda a respeito do que funcionou bem e por quê.

–Explore os pontos fortes da cidade: se as pessoas em sua região contam com uma perícia especial em uma área em particular, o talento delas deve estar no centro de seu esforço.

–Apoio a novas empresas: Os empreendedores que lançam novas empresas enfrentam uma luta difícil, e apoio significativo, na forma de obtenção de um mentor e empréstimos, pode fazer uma grande diferença.

(Perguntas dos leitores serão respondidas em futuras colunas. Por favor, as envie para Richard.Branson@nytimes.come inclua seu nome, país, endereço de e-mail e nome do site ou publicação onde leu a coluna.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato