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É preciso um mentor: como integrar os jovens ao mercado de trabalho

Segundo pesquisas, estudantes que aprendem "com a mão na massa" têm melhor desempenho no mercado de trabalho - Rogerio Cavalheiro/Futura Press/Estadão Conteúdo
Segundo pesquisas, estudantes que aprendem "com a mão na massa" têm melhor desempenho no mercado de trabalho Imagem: Rogerio Cavalheiro/Futura Press/Estadão Conteúdo

12/09/2014 00h01

Com milhões de alunos retornando às aulas – do ensino primário até a faculdade– este é um bom momento para analisar os resultados intrigantes de pesquisa realizada pelo Gallup ao longo do ano passado, explorando os elos entre educação e sucesso a longo prazo no trabalho. Isto é: quais são as coisas que acontecem em uma faculdade ou escola técnica que, mais que qualquer outra coisa, produzem funcionários "engajados" em um trajeto de carreira que os realiza?

Segundo Brandon Busteed, o diretor-executivo da divisão de educação do Gallup, duas coisas se destacam. Os estudantes bem-sucedidos tiveram um ou mais professores que foram mentores e realmente se interessavam pelas aspirações deles, e realizaram um estágio ligado ao que estavam aprendendo na escola.

"Nós achamos que é muito importante" a faculdade que você cursa, me explicou Busteed. "Mas nós não encontramos diferença em termos do tipo de instituição que você cursa –pública, privada, seletiva ou não– nos resultados a longo prazo. A forma como você obteve seu ensino superior importava mais."

Os formados que disseram ao Gallup que tinham um professor ou professores "que se importavam com eles como pessoa –ou tiveram um mentor que encorajava suas metas e sonhos e/ou realizaram um estágio onde aplicavam o que estavam aprendendo– apresentavam uma probabilidade duas vezes maior de serem engajados em seu trabalho e de prosperarem em seu bem-estar geral", disse Busteed.

A propósito, apenas 22% das pessoas com ensino superior completo entrevistadas disseram que tiveram um mentor assim e 29% realizaram um estágio onde aplicaram o que aprenderam. Assim, menos de um terço foram expostos às coisas que importam mais.

Os dados do Gallup foram compilados a partir de pesquisas com pais de alunos da 5ª até a 12ª série, líderes empresariais e entrevistas com professores, superintendentes, presidentes de faculdade, diretores, pessoas com diploma superior, americanos entre 18 e 34 anos e estudantes da 5ª até a 12ª série. Ao todo, "nós reunimos as vozes de perto de 1 milhão de americanos apenas no ano passado", disse Busteed, que acrescentou ter considerado os resultados "alarmantes" –não apenas porque muito poucos alunos estão sendo expostos aos motores mais importantes de engajamento no local de trabalho, mas também porque há uma imensa desconexão nas percepções a respeito do problema.

Busteed disse que 96% dos reitores de faculdade entrevistados pelo Gallup acreditam que suas escolas preparam com sucesso os jovens para o local de trabalho. "Quando você pergunta aos recém-formados na força de trabalho se eles se sentiam preparados, apenas 14% dizem 'sim'", ele acrescentou. E então você pergunta aos líderes empresariais se estão recebendo formados suficientes com as habilidades de que precisam, e "apenas 11% concordam". Busteed concluiu: "Não se trata apenas de uma falta de habilidades. É uma falta de entendimento".

Isso ocorre em um momento em que nosso país enfrenta uma destruição criativa anabolizada, graças ao dinamismo da tecnologia e à crescente evidência de que subir a escada do sucesso profissional exige constante aprendizado e reaprendizado. Portanto, a necessidade de as escolas terem um bom entendimento do que os empregadores estão procurando e de os empregadores se comunicarem com as escolas sobre esses conhecimentos é maior do que nunca.

 

Parte da ajuda pode vir de Washington. No ano passado, o presidente Barack Obama pediu discretamente ao vice-presidente Joe Biden que supervisionasse a reforma dos programas do governo de educação para o trabalho, após saber por meio de muitos empregadores por todo o país que, como colocou um funcionário da Casa Branca, "eles estavam tendo dificuldade em contratar trabalhadores para alguns de seus empregos que mais cresciam", como operadores de máquinas sofisticadas ou testes de software e depuração.

Ao mergulharem no problema, disse Byron Auguste, um vice-consultor econômico nacional da Casa Branca, eles descobriram que as histórias de sucesso compartilhavam muitos dos mesmos atributos que o Gallup apontou como serem diferenciadores. Nos programas bem-sucedidos, disse Auguste, "os alunos tiveram o máximo possível de experiência aplicada, de mão na massa, seja na sala de aula ou no trabalho.

As escolas, faculdades e centros de treinamento tinham parcerias estreitas com empregadores regionais, grupos setoriais e sindicatos para atualização dos conhecimentos relevantes para o trabalho. E os estudantes e aprendizes receberam muita orientação para entenderem como traçar um caminho direto entre o treinamento atual deles e suas futuras carreiras".

A chave é como aplicar esses entendimentos. O Departamento do Trabalho concedeu US$ 1,5 bilhão nos últimos três anos a mais de 700 faculdades comunitárias para desenvolvimento de programas de treinamento validados pelo empregador para novas carreiras como cibersegurança e trabalho em campos de gás natural. Neste mês, outros US$ 500 milhões serão concedidos como parte de um tipo de corrida ao topo para aqueles que puderem desenvolver as melhores parcerias entre faculdades comunitárias e grupos setoriais no país, onde os novos setores estão tendo dificuldade em preencher as vagas de trabalho com os trabalhadores que precisam.

Os empregadores costumavam pegar generalistas e treiná-los em especialistas para suas indústrias. Mas menos empregadores querem fazer isso hoje ou podem arcar com isso em uma economia globalmente competitiva, especialmente quando temem que treinarão alguém que então o trocará por um concorrente. Assim, todos querem funcionários saídos da faculdade ou das escolas técnicas que estejam o mais prontos possível. É por isso que o governo tem um papel na promoção de mais e mais parcerias entre empregador e educador –essa é a coisa nova– que empresas, grandes e pequenas, podem se beneficiar, assim como seus futuros funcionários.